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“Blue Monday”. Será o dia mais triste do ano um esquema de marketing?

A “Blue Monday” é o dia mais triste do ano e comemora-se na terceira segunda-feira de janeiro. O fim da época natalícia, o tempo frio que se faz sentir e todo um novo ano que está pela frente são alguns dos fatores que fazem deste o dia mais triste do ano. A acreditar nos especialistas de marketing, claro.
20 Janeiro 2020, 15h18

Hoje é o dia mais triste do ano. Ou pelo menos, assim o dizem as campanhas de publicidade. Naturalmente, nenhuma pesquisa cientifica concluiu que dia 20 de janeiro é, efetivamente, o dia mais triste do ano. Foi graças ao poder de marketing que o dia se consolidou na cultura moderna. Neste dia, os blogues partilham as suas dicas de como as pessoas podem elevar as suas energias, as empresas aproveitam a oportunidade para promover os seus produtos e serviços de bem-estar e nas redes sociais o mesmo se assiste.

Em 2005, o agora extinto canal de TV britânico Sky Travel, enviou aos jornalistas um comunicado de imprensa, que anunciava que 20 de janeiro seria o dia mais miserável do ano. Graças à ajuda do psicólogo britânico Cliff Arnall e um cálculo, foi possível analisar o período em que as pessoas reservavam as suas férias e concluiu-se que o mesmo só acontecia quando estas se sentiam mais deprimidas.

Foi pedido a Arnall que elegesse um dia que representasse o pico desse período e assim nasceu o dia mais sombrio do ano. “Geralmente há mais tristeza no inverno, e janeiro não é estranho à tristeza geral entre as pessoas”, diz à CNN Ravi Shah, o psiquiatra do Irving Medical Center da Universidade de Columbia.

“Mas acho que, em vez de nos focarmos num dia em específico, acho que a pergunta mais interessante é porque é que o inverno afeta o nosso humor.”, questionou.

Os cálculos de Arnall traduzem-se nesta fórmula: [W + (Dd)] xTQ / MxNA.

Porém, após uma inspeção mais minuciosa, as variáveis ​​envolvidas são subjetivas e claramente não científicas. O “W”, por exemplo, significa clima. O “D” é dívida, enquanto que o “T” representa o período desde o fim do Natal e o “Q” é o período desde de que as resoluções do Ano Novo foram abandonadas. O “M” e o “N” representam os níveis de motivação baixos.

Nenhum dos fatores que Arnall incluiu pode ser medido ou comparado pelas mesmas unidades. A fórmula não pode ser avaliada ou verificada adequadamente, refutam os cientistas. Por exemplo, não há como medir o número médio de dias desde que as pessoas desistiram a resolução do Ano Novo. E o clima de janeiro varia entre diferentes Estados, países e continentes. Por outras palavras, não há mérito científico nisso.

“Não fazia ideia que ia ganhar as proporções que ganhou”, confessou o psicólogo à CNN. “Parece que muitas pessoas se identificaram com o estudo. Não me arrependo”, frisou, acrescentando que “usou os media” em várias ocasiões com a intenção de iniciar conversas sobre psicologia.

“Blue Monday” versus “blues de inverno”

Os críticos do conceito de “Blue Monday” argumentam que atribuir a depressão clínica a causas externas, como o número de dias que passaram desde o Natal, pode afetar adversamente as pessoas que sofrem com isso, sugerindo que a sua condição pode ser resolvida com algo tão fácil quanto reservar férias para um destino paradisíaco.

Apesar do “Blue Monday” não ser real, existe efetivamente os “blues de inverno”, mais conhecido como transtorno afetivo sazonal, ou SAD. Segundo os especialistas, este tipo de tristeza está associada a uma forma de depressão que as pessoas geralmente experienciam durante os meses de outono e inverno, quando há menos luz solar.

Só nos Estados Unidos, o SAD afeta cerca de 10 milhões de norte-americanos sendo que entre 10% a 20% passa por sintomas mais agravados.

A condição tem sido associada a um desequilíbrio bioquímico no cérebro, causado pelas poucas horas de luz e pela baixa quantidade de luz solar horas durante o inverno. À medida que as estações mudam, as pessoas experimentam uma mudança no seu relógio biológico interno, ou ritmo circadiano, que pode fazer com que fiquem dessincronizados com a sua programação regular.

Os sintomas comuns da SAD incluem fadiga, mesmo quando a regularidade do sono não é posta em causa e o ganho de peso associado a excessos e desejos de carboidratos, de acordo com a Associação Psiquiátrica Americana.

Outros sinais incluem sentimentos de tristeza, perda de interesse em atividades que já foram desfrutadas, sentimentos de inutilidade ou culpa, dificuldade em concentrar-se ou tomar decisões e pensamentos de morte e até tentativas de suicídio. O SAD pode começar em qualquer idade, mas geralmente começa entre os 18 e os 30 anos e é mais comum em mulheres do que em homens.

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