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BNP Paribas de novo alvo de denúncia de “cumplicidade em genocídio” no Sudão

Duas ONGs e nove sobreviventes da violência que afundou o país no início dos anos 2000 culpam o banco por ajudar a manter o regime de Omar Al-Bashir. O BNP Paribas já foi condenado nos Estados Unidos pelo mesmo motivo.
26 Setembro 2019, 22h28

Cumplicidade em tortura, crimes contra a humanidade, genocídio, lavagem de dinheiro e ocultação de receitas de atividades criminosas no Sudão –é a lista de acusações lançadas pela Federação Internacional de Ligas dos Direitos Humanos (FIDH), contra o banco francês BNP Paribas, revela o jornal ‘Le Monde’.

Esta quinta-feira, nove sudaneses apoiados pela FIDH e pela ONG Project Expedite Justice apresentaram uma queixa contra o BNP Paribas perante o juiz investigador do Tribunal Superior de Paris. Os advogados da FIDH ouviram testemunhos de vítimas de tortura, crimes contra a humanidade e genocídio perpetrado no Sudão desde o início dos anos 2000.

E agora pedem aos tribunais franceses que iniciem uma investigação criminal sobre aa atuação do banco entre 2002 e 2008, período em que o BNP Paribas continuou a fornecer serviços bancários ao governo sudanês – apesar das sanções impostas pelas Nações Unidas, pelos Estados Unidos e pela União Europeia por causa de graves crimes de guerra e contra a humanidade, especialmente em Darfur.

Para os autores da denúncia, há claras suspeitas de que o grupo bancário concedeu crédito ao Sudão, permitido a exportação de petróleo ao regime de Omar Al-Bashir, dando-lhe acesso a mercados monetários estrangeiros.

“Por trás dos crimes e massacres mais graves, sempre há dinheiro”, diz Patrick Baudouin, advogado e presidente honorário da FIDH, citado pelo ‘Le Monde’. “Apelamos às autoridades judiciais francesas para que iniciem quanto antes um inquérito judicial para determinar se o BNP pode ser considerado criminalmente responsável por ter tratado com as autoridades sudanesas” , disse Michel Tubiana, advogado e presidente honorário da Liga. Direitos Humanos (LDH).

O caso segue a condenação do mesmo banco num tribunal dos Estados Unidos, em 2014, por violar o embargo que restringe as transações financeiras com o Sudão, Irão e Cuba. O BNP Paribas admitiu ter trabalhado para o governo sudanês entre 2002 e 2008 e administrado biliões de dólares em transações para entidades sudanesas. Após um acordo com as autoridades, o BNP Paribas foi multado em mais de 8,8 mil milhões de dólares.

Em maio passado, a série negra continuou para o grupo francês; um tribunal de apelações dos Estados Unidos aceitou uma ação coletiva movida por vários refugiados sudaneses que vivem na América do Norte, que alegam que o BNP Paribas era parcialmente responsável pelos abusos cometidos no Sudão entre 1997 e 2007, mantendo suas atividades financeiras com o país.

Contactado, o banco disse que “não estava certo da abertura de um processo criminal” em França, mas que, “de qualquer forma, nunca comentamos procedimentos legais”, segundo o ‘Le Monde’.

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