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Bósnia e Kosovo indignados com o Nobel da Literatura

Peter Handke, austríaco, esteve no funeral de Slobodan Miloseviv, acusado de crime de genocídio e de ser um negacionista do Holocausto.
10 Outubro 2019, 20h28

Várias vozes na Bósnia e no Kosovo mostraram um profundo desacordo pela atribuição do Prémio Nobel da Literatura ao austríaco Peter Handke, considerado um admirador de Slobodan Milosevic e um negacionista dos crimes perpetrados durante as guerras na ex-Jugoslávia.

Handke esteve presente no funeral de Slobodan Milosevic – ex-presidente da Jugoslávia acusado de genocídio e de outros crimes de guerra entre 1991-1995 pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, TPIJ, que morreu em 2006 – havendo suspeitas de que teria proferido um elogio fúnebre.

Segundo a agência AFP, o ator bósnio Nermin Tulic, gravemente ferido durante o cerco a Sarajevo pelas forças sérvias (que causaram 11 mil mortos), comentou a atribuição com um Twitter violento para com o galardoado.

O líder político liberal de Sarajevo, Reuf Bajrovic, comentou por seu lado estranhar a escolha de um júri que acha que “Handke é um excelente escritor e que seu apoio a Slobo [Milosevic] e ao genocídio faz parte do seu grande trabalho”.

Sobrevivente de Srebrenica, onde mais de loito mil homens e adolescentes muçulmanos foram executados em poucos dias em 1995 pelas forças sérvias, Emir Suljagic, professor de Relações Internacionais em Sarajevo, escreveu, citado pela mesma fonte: “Um admirador de Milosevic e um negacionista do Holocausto ganha o Prémio Nobel de Literatura”

No Kosovo, cenário da última guerra na ex-Jugoslávia, entre forças sérvias e uma guerrilha albanesa pró-independência (13 mil mortos), a decisão também foi recebida com despeito. ‘Um admirador de Milosevic recebe o Prémio Nobel de literatura’, diz a primeira página de um jornal diário.

O académico Anders Olsson, secretário permanente da instituição sueca, justificou a escolha a Peter Handke, recorda a agência AFP: “este é um prémio literário, não é um prémio político, e é pelos seus méritos literários que lhe concedemos esse prêmio. Peter Handke é um grande escritor, com um grande trabalho por trás dele, e é exatamente isso que recompensamos”.

“É claro que discutimos essa controvérsia, também num sentido político, mas concluímos que ela não poderia guiar a nossa discussão. Ele é um autor formidável. Não consideramos Handke um escritor político. Não pertence a nenhuma falange ou partido político, não há alternativa política no seu mundo. A sua prosa expressa uma visão totalmente diferente”.

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