Brasília congratula a chegada de António Costa a presidente do Conselho Europeu. Do outro lado do Atlântico, o ex-primeiro-ministro é considerado como um interlocutor privilegiado do Brasil no coração da Europa.
“A ida do ex-primeiro-ministro António Costa para o espaço de poder da União Europeia criou uma expectativa muito positiva no Brasil”, disse o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) ao Jornal Económico (JE). “É uma ótima notícia”, sublinhou.
Jorge Viana respondia a uma questão sobre o acordo Mercosul que está a ser negociado entre a União Europeia e os países da América do Sul há mais de duas décadas. “O Brasil, no mandato do presidente Lula, estabeleceu como uma questão central o acordo União Europeia Mercosul, num melhor relacionamento com a Europa”, afirmou na entrevista ao JE, que será desenvolvida na edição de fim de semana, a publicar a 27 de setembro.
“Esse acordo tem 20 anos de tentativas e não tem mais razão de não acontecer. O presidente Lula já falou com muitos líderes, como o da Alemanha, por exemplo e até mesmo as lideranças na UE. Estamos vendo em vários países, à exceção de França, que a gente compreende que tem problemas internos, uma boa vontade para que esse acordo saia. Estamos falando do maior bloco económico do mundo, 700 milhões de pessoas”, disse, referindo-se ao Mercosul que conta com a Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai como membros.
O responsável considera o acordo “estratégico”. “Junta-se um espaço de consumo muito interessante, onde se tem uma qualidade de vida que é a União Europeia, com os países do Mercosul onde, somados, temos a responsabilidade da segurança alimentar de uma parcela muito importante do mundo”, sustenta.
“Este acordo é um ganha-ganha. Ganha-ganha para a União Europeia e ganha-ganha para os países do Mercosul. A oportunidade é agora”, defendeu.
A ApexBrasil vai inaugurar o seu próprio espaço em Lisboa, a Casa do Brasil em Lisboa, na zona da Avenida da Liberdade, onde também vão marcar presença o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, instituição brasileira de ciência, tecnologia e inovação em ciências biológicas e da saúde) e o Banco do Brasil. O espaço tem inauguração prevista para 2025 e vai contar também com um espaço cultural para exposições e eventos.
O projeto está a ter “muito boa vontade do atual Governo português, porque é algo interessante para Portugal, para o Brasil e também para que a gente possa ter uma aproximação cada vez maior com Portugal, que possa chegar na Comunidade de Língua Portuguesa na CPLP e também ter uma presença brasileira mais forte na Europa”, afirmou.
Na semana passada, Lula da Silva abordou as dificuldades para chegar a acordo. “Passaram 30 anos dizendo que era o Brasil que não queria fazer o acordo. Nós decidimos, temos proposta, não inventem outro argumento para dizer que vão dificultar o acordo”, disse o presidente brasileiro em Brasília.
Um dos entraves é a questão da implementação da lei anti-deflorestação da União Europeia, que entra em vigor a 1 de janeiro de 2025. Segundo o Governo brasileiro, esta lei pode criar um prejuízo de 15 mil milhões de dólares às exportações brasileiras de produtos como soja, café, cacau e produtos florestais.
Um dos maiores críticos deste acordo é a França e o presidente gaulês tem sido bastante vocal nas suas críticas. “O Mercosul é um péssimo acordo como está a ser negociado agora. Este acordo foi negociado há 20 anos. Não o defendo, não é o que queremos. Deixemos de lado este acordo e construamos um novo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade”, disse Emmanuel Macron, em março, durante uma viagem ao Brasil.
As negociações arrastam-se desde 1999 e têm o objetivo de facilitar o comércio entre os dois continentes e reduzir as tarifas, mas passados 25 anos ainda não há acordo fechado. França bloqueou o acordo em 2019 numa altura em que Macron e Bolsonaro estavam em guerra aberta.
Emmanuel Macron está pressionado pelo poderoso sector agrícola francês, que sente-se ameaçado com um acordo que abre as portas da UE a produtos agrícolas da América do Sul.
No início deste mês, o Governo português, em conjunto com vários países europeus, pressionaram Ursula von der Leyen para uma “rápida conclusão das negociações”, até ao final deste ano, noticiou a “Lusa”.
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