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Brexit: Johnson abre negociações e apresenta-as como vitória pessoal

O primeiro-ministro britânico disse há três dias que não via razões para regressar à mesa de negociações com a União Europeia. Mas acabou por fazê-lo, deixando a ideia de que os 27 se ‘inclinaram’ à vontade britânica.
22 Outubro 2020, 18h15

O Brexit continua a ser pouco mais que um instrumento político para o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, dizem os analistas do lado de cá do Canal da Mancha: três dias depois de mandar dizer por um porta-voz do governo que não via razões nem condições para voltar ao diálogo com Bruxelas, acabou por aceitar mais uma ronda – que por esta hora deve estar a decorrer, em Londres.

“Boris Johnson precisava de uma pequena vitória que lhe permitisse sair do labirinto em que ele mesmo se meteu quando concluiu – sem o fazer oficialmente – as negociações com Bruxelas para o futuro relacionamento após o Brexit”, diz um analista citado pelo jornal ‘El Pais’.

O reconhecimento expresso do negociador-chefe da União, Michel Barnier, do necessário “respeito pela soberania do Reino Unido” durante o processo foi a frase que faltava para Johnson sair airosamente desse labirinto: Downing Street deu as boas-vindas à equipa negociadora que regressou aa Londres ao início desta quinta-feira, para vários dias de encontros.

As duas equipas, que devem negociar um novo acordo antes do final do período de transição, a 31 de dezembro, ainda estão presas nas duas questões conflituantes: a pesca e a definição de regras comuns que evitem qualquer concorrência desleal no futuro.

Barnier este esta quarta-feira no Parlamento Europeu para anunciar formalmente que Londres exigia o respeito pela autonomia de decisão britânica, a integridade do seu mercado interno e a preservação de seus interesses económicos e políticos a longo prazo. Nada de novo, mas Johnson precisou do ‘fotografia’ para não passar pelo ‘mau da fita’ no quadro da política caseira britânica – depois de vários membros da câmara dos comuns terem ficado admirados com as notícias de há três dias.

E não foram apenas trabalhistas: Theresa May, primeira-ministra conservadora que antecedeu Johnson, mostrou-se publicamente muito pouco agradada e bastante surpreendida com a forma como o seu sucesso gerou a questão do Brexit a partir da Cimeira do Conselho Europeu da passada semana.

Recorde-se que o governo anunciou no início da semana que os britânicos deviam preparar-se para um Brexit duro, no qual o Reino Unido jogaria sob as regras básicas da Organização Mundial do Comércio (ou seja, tarifas e quotas para empresas que trabalham com o continente), e o negociador-chefe britânico, David Frost, cancelou unilateralmente a ronda de negociações (que acabou por acontecer esta quinta-feira).

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