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Brexit: o último fôlego dos ‘anti-Brexiters’

A petição pública que pede para que o Reino Unido permaneça na União Europeia há muito que ultrapassou os três milhões de assinaturas.
  • Paul Hackett/Reuters
23 Março 2019, 16h00

Uma petição online pedindo ao governo do Reino Unido para revogar o artigo 50º e insistindo para que o país permaneça na União Europeia já ultrapassou os três milhões de assinaturas, conseguidas em pouco mais de 48 horas. Os ‘anti-Brexiters’ sabem que estão a correr contra uma parede: sabem que a primeira-ministra Theresa May nunca tomará a opção de revogar o artigo 50º – que suspenderia o Brexit – e que, mesmo num cenário de governo da responsabilidade dos Trabalhistas, essa hipótese permaneceria remora.

Mas não desistem. E todos os dias fazem um último esforço para que o país permaneça na União. A petição é só uma das movimentações que têm em mãos – as outras são do foro da divulgação online e não só de argumentos que pretendem deixar claro que o Brexit é uma péssima opção para todos.

Os argumentos económicos e sociais são os mais usados – para além do argumentário político, com o qual os ‘anti-Brexiters’ tentam provar que os ‘Brexiters’ foram enganados de duas formas: pelos políticos que deliberadamente mentiram quando, antes do referendo de junho de 2016, anunciaram consequências (benéficas) absurdas; e pelos que, desconhecendo profundamente essas consequências (e não podiam conhecer, dado que ninguém à época sabia quais elas virão a ser na realidade), permitiram que os britânicos ‘construíssem’ um cenário de facilidade e de recuperação de uma independência que só hipoteticamente perderam.

A petição, iniciada no final de fevereiro, manteve-se numa espécie de letargia ao longo das primeiras semanas, mas ganhou um inesperado fôlego a partir da noite da passada quarta-feira – quando os britânicos perceberam que o caminho do Brexit é bastante estreito e que a União Europeia está a perder a paciência para tanta indecisão vinda dos políticos das ilhas do norte.

Ao longo da quinta-feira seguinte, o site das petições parlamentares entrou em colapso várias vezes sob o peso do tráfego – uma vez que, ao atingir as 800 mil assinaturas, a Câmara dos Comuns terá, ao menos, de olhar para ela.

Claro que rapidamente surgiram teorias da conspiração, algumas delas assegurando que a multiplicação das assinaturas se ficaria a dever a pirataria informática, com os suspeitos do costume (os russos) a serem observados como potenciais causadores de mais esta fricção política nas ilhas britânicas. Houve mesmo quem tivesse conseguido encontrar ali a longa mão do regime da Coreia do Norte, apesar de, segundo a imprensa britânica, 96% das assinaturas serem listadas a partir do Reino Unido.

Entretanto, um tweet do Comité de Petições da Câmara dos Comuns esclareceu que as assinaturas oriundas do exterior do Reino Unido eram perfeitamente válidas, já que “qualquer pessoa residente no Reino Unido ou cidadão britânico pode assinar uma petição. Isso inclui cidadãos britânicos que vivem no exterior”.

Prestes a entrar em mais uma semana decisiva – com Theresa May a tentar fazer regressar à Câmara dos Comum um documento para votação, na tentativa de assegurar o Brexit – os britânicos parecem estar cada vez mais divididos. E também cada vez mais fartos de servirem de objeto de chacota da União Europeia – como sucedeu mais uma vez a propósito de uma empresa que estará a açambarcar papel higiénico para o caso de o Reino Unido deixar a União sem acordo…

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