O negociador-chefe brasileiro dos BRICS em 2025 defendeu à Lusa que o bloco de países emergentes não é antagonista do Ocidente, mas é uma plataforma que pretende corrigir “injustiças e distorções” presentes no sistema internacional.
“É um bloco que aponta injustiças e distorções, isso não há dúvidas”, disse, em entrevista à Lusa, o embaixador Eduardo Saboia, negociador-chefe dos BRICS em 2025, grupo de países que representam mais de 40% da população global e mais de 35% do PIB mundial.
“Essas distorções existem em função do sistema rígido que não mudou quando a economia e o mundo mudaram”, considerou o diplomata brasileiro.
Eduardo Saboia reforçou, contudo, que o crescimento dos BRICS no cenário internacional não é contra ninguém, mas “a favor do sistema”.
Depois de ter sido chefiado pela Rússia em 2024, o Brasil assume no primeiro dia de 2025 a presidência dos BRICS, termo criado por um analista da Goldman Sachs sobre economias emergentes, e fundado em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, juntando-se a África do Sul em 2011 e este ano o Egito, o Irão, os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia.
Em 2025 está prevista, mas não confirmada, a entrada de países como a Turquia, Indonésia, Nigéria, Argélia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Cazaquistão, Vietname, Tailândia, Malásia, Uzbequistão e Uganda, como estados membros associados, consolidando o bloco como voz relevante do Sul Global.
Um dos objetivos centrais da presidência brasileira é precisamente as alterações nas instituições internacionais, dando mais relevância e poder aos países emergentes do chamado Sul Global.
“Se você não reformar o sistema, ele colapsa”, considerou o embaixador, reforçando a importância de colocar os países do Sul Global nas mesas de decisão, já que são “países expressivos, do ponto de vista demográfico, do ponto de vista económico, do ponto de vista de energia, alimentos”.
Tal como aconteceu na presidência do G20, o Brasil vai procurar, agora no âmbito do BRICS, impulsionar a reforma da governança global para aumentar a representatividade do Sul Global em instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial de Saúde (OMS), num objetivo que passa por corrigir assimetrias geopolíticas, através da distribuição mais representativa dos poderes garantindo que países emergentes tenham mais voz nas instituições internacionais.
“Essas grandes questões internacionais precisam ser resolvidas com a participação desses países. O facto desses países cooperarem e terem uma plataforma centrada justamente em questões que são de importância mundial, isso é positivo”, considerou.
O combate às alterações climáticas, a reforma da governança global, a utilização de moedas locais, a inteligência artificial e cooperação e o reforço na integração dos novos membros são as prioridades da presidência brasileira dos BRICS.
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