A história de um enfraquecimento da hegemonia do dólar perpetrado pelos rivais dos Estados Unidos não é nova e voltou a surgiu no final de agosto, quando o clube dos países emergentes conhecido como BRICS realizou a sua 15ª cimeira.
A tensão em torno do tema avolumou-se quando a Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo e protagonista de algumas tensões com os Estados Unidos, foi ‘acrescentada’ ao núcleo central dos BRISC, mas o certo é que, oficialmente, a África do Sul, líder rotativa do agregado, negou que o assunto tivesse estado em cima da mesa.
“Nova moeda? É uma possibilidade política, mas traz problemas à economia”
O economista João Duque disse ao JE, comentando o assunto, que é praticamente impossível que o conjunto consiga de facto gerar uma noma moeda e principalmente que essa possível nova moeda seja realmente concorrente com o dólar. A maioria dos economistas analisa o tema precisamente no mesmo sentido.
Franco Macchiavelli, analista da consultora Admirals España, citado pelo jornal “El Economista”, vai no mesmo sentido: reconhece que essa ideia é bastante complicada de ser realizada, pelo menos no curto e médio prazo. Macchiavelli ressalta que esse procedimento poderia ser adotado de duas formas. A primeira seria com a criação de um novo banco central que emita uma moeda única para substituir as moedas nacionais de cada um dos países do clube. A segunda seria a adoção da moeda de um dos países-membros como moeda dos BRICS, como por exemplo o yuan da China.
O primeiro caminho exigiria que esses países abrissem mão de sua soberania monetária, o que limitaria a sua capacidade de administrar o valor da sua própria moeda de acordo com as necessidades das economias de cada um. “Para entender melhor, se o Brasil quisesse depreciar a sua moeda para melhorar as suas exportações, mas os outros países não concordassem, o Brasil não poderia tomar essa decisão unilateralmente. Portanto, estamos a falar de um risco importante na gestão interna”.
A segunda alternativa também apresentaria grandes desafios, já que os restantes países perderiam a sua soberania monetária para a China, limitando potencialmente a sua capacidade de tomar decisões económicas independentes, disse Macchiavelli. “Se a China quisesse realizar um corte de juros para impulsionar o crescimento económico interno, os restantes países seriam afetados e não teriam possibilidade de influenciarem a decisão de Pequim.”
“Hoje, quando os BRICS vendem os seus produtos ao resto do mundo, recebem pagamentos em dólares e acumulam essas reservas denominadas em dólar. No entanto, as flutuações no valor do dólar ao longo dos anos representaram um risco significativo de depreciação para esses países”, diz Macchiavelli. O problema é que, se receberem noutra moeda qualquer – e estando as moedas ‘presas’ em cadeia uma às outras, esse risco não desaparece.
Seja como for, a China tem demonstrado estar na linha da frente da criação de novos conceitos e de novas ferramentas no largo quadro da economia. E os BRICS podem bem vir a ser um ‘centro de análise empírica e em tempo real’ da criação de uma nova moeda. Antes disso, evidentemente, terá de estabilizar a entrada de novos membros, um processo que ainda está longe de se encontrar definido.
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