[weglot_switcher]

Bruxelas prepara medidas de proteção ao sector automóvel europeu contra a China

A França restringiu em maio a ajuda à compra de veículos elétricos para que apenas os “made in Europe” beneficiem do sistema. Bruxelas parece estar interessada em estender um sistema de proteção a todo o bloco.
HO/Reuters
14 Setembro 2023, 08h41

A União Europeia prepara-se para promover medidas de proteção à indústria automóvel dos 27 contra, na tentativa de defender o cluster das ‘investidas’ das marcas chinesas – cuja chegada à Europa tem esmagado as margens de comercialização. A estratégia ficou clara na intervenção esta quarta-feira da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, durante o discurso sobre o Estado da União no Parlamento Europeu.

Nesse contexto, a presidente da Comissão anunciou que Bruxelas vai iniciar “uma investigação contra os subsídios aos veículos elétricos que chegam da China”, alinhando deste modo com os temores expressos por fabricantes como a Stellantis, a segunda maior construtora automóvel sa Europa, que há muito alerta para o perigo que representa para o cluster a entrada de marcas chinesas no bloco.

“As nossas empresas são muitas vezes excluídas do mercado externo ou são vítimas de práticas predatórias. São enfraquecidas por concorrentes que beneficiam de grandes subsídios estatais”, recordou Von der Leyen, usando argumentos muito semelhantes aos que usou Carlos Tavares, CEO da Stellantis, durante o Salão Automóvel de Paris do ano passado, recorda o jornal “Cinco Dias”.

“Devemos pedir à União Europeia que imponha aos fabricantes chineses as mesmas condições que nós, empresas ocidentais, temos na China. Não há razão para facilitarmos a entrada dos fabricantes chineses na Europa de forma diferente daquela que enfrentamos quando entramos no seu mercado, e todos sabemos que não há simetria”, disse o português Carlos Tavares na altura.

Na ocasião, Carlos Tavares teve a oportunidade de falar com o presidente francês, Emmanuel Macron, a quem transmitiu as suas preocupações a este respeito. Meses depois, já em maio deste ano, Macron avançou com uma importante modificação no auxílio à compra de carros elétricos em França: esse apoio só será dado aos que optarem pela compra de veículos elétricos que atendam a padrões rígidos de baixas emissões de carbono durante a sua produção. Na prática, a medida exclui as empresas chinesas dos incentivos às compras. “Vamos apoiar baterias e veículos fabricados na Europa porque a sua pegada de carbono é sustentável. Não usaremos o dinheiro dos contribuintes franceses para impulsionar a indústria não europeia”, disse Macron à Reuters.

“Não há razão para facilitarmos a entrada dos fabricantes chineses na Europa de forma diferente daquela que enfrentamos quando entramos no seu mercado”

Um dos principais fabricantes de automóveis chineses que chegou nos últimos anos aos mercados europeus é a MG, marca que conseguiu ser a primeira empresa a liderar as vendas num mercado tão desafiante como é, por exemplo, o espanhol. A Toyota, fabricante japonesa com grande presença industrial na Europa, também pediu medidas para nivelar as condições de concorrência entre fabricantes chineses e europeus. “Somos um fabricante europeu no sentido em que quase 75% dos carros que vendemos são produzidos na Europa. Acredito que há uma tarifa ambiental na UE [o Pacto Ecológico Europeu, que estará em vigor em 2026], para que a energia utilizada na produção de bens noutras regiões tenha uma competitividade semelhante à da Europa. Esses tipos de mecanismos ajustam o nível de preços”, disse Miguel Carsi, presidente da Toyota e da Lexus Espanha, em entrevista ao “Cinco Días”.

A Acea, associação automobilística europeia da qual a Stellantis saiu no ano passado, também alertou para os riscos para a indústria automóvel europeia devido à concorrência com a China, mas, mais abrangente, juntou à lista também os fabricantes dos Estados Unidos – que contam com suportes federais de monta.

As medidas protecionistas contra as medidas concorrenciais chinesas não são monopólio do sector automóvel. Os têxteis, por exemplo, também estão envolvidos numa ‘batalha’ com a Comissão Europeia, na tentativa de conseguirem que os responsáveis da União impeçam a entrada no espaço comum dos 27 de produção que não cumpra os requisitos de sustentabilidade e circularidade impostos cada vez mais aos fabricantes europeus.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.