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Bruxelas versus Turquia: o difícil diálogo com Erdogan

O presidente turco esteve nas últimas horas em reunião com a NATO, a Comissão Europeia e o Conselho Europeu. Com milhares de refugiados, que alguns media insistem em chamar “migrantes”, na fronteira, Ancara é a parte forte das negociações.
Recep Tayyip Erdogan
10 Março 2020, 07h05

Com os anos de cooperação institucional entre Bruxelas e Ancara cada vez mais longínquos no calendário, o diálogo entre as duas capital faz-se, por estes dias, de forma cada vez mais difícil. No caso de Bruxelas, há pelo menos a vantagem de essa dificuldade não apanhar ninguém desprevenido: quando em 2016 as autoridades da União Europeia decidiram pagar ao governo turco para que este arranjasse forma de reter os refugiados da guerra da Síria antes de estes chegarem aos Balcãs, sabiam que estavam a ‘comprar’ uma enorme dor de cabeça a prazo.

Esse prazo acaba de expiar – com nova leva de refugiados a tentarem escapar das zonas de fronteira entre a Síria e a Turquia, onde o governo de Recep Erdogan mantém uma frente de guerra ativa ainda e sempre por causa dos curdos – e Bruxelas não parece ter nenhuma ideia sobre como agir daqui para a frente.

A União Europeia procura restaurar o diálogo com o presidente turco, para reduzir a pressão migratória na fronteira greco-turca , com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a defender o início das bases de uma estratégia de longo prazo para evitar novas escaladas. Erdogan esteve ontem em Bruxelas para encontros com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg – organização a que a Turquia pertence mas com a qual não mantém a melhor das relações – e depois com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, para além da própria von der Leyen.

Até ao início da noite de ontem, nada se sabia sobre os encontros, mas da sua agenda constava, segundo a imprensa do centro da Europa, a procura por parte da Turquia de apoio financeiro, político e militar para a resolução do problema. A União reconhece à Turquia o ”grande esforço” que o país está a fazer pelo acolhimento de 3,6 milhões de refugiados de ‘primeira vaga’ da Síria, mas considera inaceitável a atual “pressão” nas fronteiras “por razões políticas”, nas palavras da presidente da Comissão.

Von der Loyen está ciente de que Ancara é fundamental para a União não reviver uma crise como a de 2016 e por isso, de algum modo, tem um ascendente no diálogo com Bruxelas. “Esta é a noite do reinício do diálogo”, acrescentou a alemã, sabendo que a margem de manobra de Bruxelas é tremendamente reduzida. ‘Atirar’ dinheiro para o lado de lá da fronteira será certamente a opção de Bruxelas – que não irá investigar onde ele será gasto: se no tratamento dos refugiados, se nas armas que precisamente mantém ativas as frentes de guerra na Síria, que ‘produzem’ mais refugiados.

“Encontrar uma solução para esta situação exigirá diminuir a pressão exercida na fronteira”, disse a presidente da Comissão, que avançou que a questão do dinheiro também estará sobre a mesa. A Alemanha é a favor da geração de novos fundos para a Turquia, mas para vários parceiros essa opção está claramente esgotada. “Espero que cheguemos a um acordo para que os requerentes de asilo na Turquia não acreditem que a fronteira está aberta e que eles não tentem entrar exercendo pressão maciça”, disse o Alto Representante para Política Externa e de Segurança Comum, Josep Borrell.

Antes de partir para Bruxelas, Erdogan disse aos órgãos de comunicação social turcos que a sua intenção é obter muito mais apoio da comunidade internacional quando se trata de refugiados. O líder turco também pediu às autoridades da Grécia que abram as suas fronteiras para permitirem a passagem dos refugiados.

Desde 28 de fevereiro, milhares de refugiados sírios e afegãos tentam atravessar a fronteira greco-turca por terra ou mar, através da ilha grega de Lesbos, depois de a Turquia anunciar que deixaria de conter o fluxo para a União Europeia.

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