Os investidores portugueses denominados business angels tendem a investir em grupo nas startups e a apostar naquelas que estão mais ligadas às tecnologias de informação e com modelos de negócio de fácil crescimento. Quem o garante é Hugo Gonçalves Pereira, membro da direção da Associação Portuguesa de Business Angels (APBA) e profissional em venture capital.
“Muitas vezes, os business angels não querem fazer os investimentos sozinhos (…). Até porque muitos em Portugal ainda não têm capacidade financeira para fazer sozinhos o montante que as empresas querem”, explica ao Jornal Económico o responsável da associação. Os investidores nacionais preferem, assim, ter uma instituição detrás que os coloque em contacto com os seus pares para apostarem em conjunto numa microempresa. A indústria 4.0, o turismo e a restauração são as mais recentes atrações, de acordo com o mesmo porta-voz.
Criada há mais de dez anos, a APBA desde o início que quis reunir o maior número de pessoas disponíveis a investir em empresas que estão a nascer. “Os empreendedores sentiam muita falta de pessoas que os pudessem apoiar, e muitos negócios acabavam por cair”, disse ao semanário.
A associação procura dar formação aos investidores e facilitar contactos com as autoridades governativas. “Fazemos também um trabalho de promoção de contactos com o Governo, porque não basta a vocação, é um segmento diferente e não é a mesma coisa que investir em empresas cotadas. Queremos que haja incentivos, que a legislação seja favorável ao investimento, que é de risco”, argumenta Hugo Gonçalves Pereira.
Segundo o especialista e investidor, os ICO (Initial Coin Offering) têm potencial para criar novos modelos de negócio: “Tem havido muitas e cada vez o montante angariado é maior. Estamos numa fase de alguma exuberância, mas é normal”. A seu ver, por outro lado, as entidades regulatórias encontram-se numa “posição expectante” para ver como é que o setor evolui, tentando não intervir.
O ainda co-fundador do Shilling Capital Partners conta que o fundo nasceu da agregação de seis business angels que já se conheciam e decidiram começar a investir conjuntamente e profissionalizar a atividade, com investigação de mercado, por exemplo. “Todos nós temos uma rede de contactos muito alargada, como CEOs de empresas, e uma experiência valiosa de gerir empresas. Muitas vezes, os empreendedores são jovens e não passaram por fases de contratar pessoas, despedir, levantar capital… Nós ajudamos em várias áreas”, assegura o investidor que já trabalhou em Londres em dois fundos de private equity.
Desde do pontapé de saída, em 2011,o Shilling Capital Partners fez 14 investimentos e venderam três dessas empresas. “Em termos acumulados, o maior montante investido numa empresa andou à volta de um milhão de euros, mas não foi de uma vez, fomos investindo. Normalmente, o investimento inicial é de cerca de 250 mil euros”, sublinha.
Um unicórnio por ano não parece um mau plano
Depois da Farfetch e da Outsystems, Hugo quer mais unicórnios portugueses. “Há várias empresas portuguesas que estão bem posicionadas para poder um dia chegar a essa avaliação. Se continuarmos com esta tendência de um por ano é muito positivo, proporcionalmente aquilo que existe na Europa”, acredita o partner da Shilling, uma vez que mais unicórnios made in Portugal colocariam o país nos olhos de mais investidores estrangeiros, na sua opinião.
As startups apoiadas pelo fundo do qual faz parte, em agregado, já criaram aproximadamente 500 postos de trabalho e faturam mais de 50 milhões de euros. A equipa chegou a recorrer a um mecanismo de apoio do COMPETE e, mais recentemente, da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD).
A APBA promove na próxima quarta-feira, dia 20 de junho, o Spring Investment Dinner, um evento de debate, networking e entrega de prémios – personalidade do ano e startup do ano -, que conta com o apoio da IFD. No encontro estão presentes várias figuras ligadas ao ecossistema do empreendedorismo, bem como a secretária de Estado da Indústria, Ana Lehmann, e o presidente da PwC, José Bernardo.
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