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Cabo Verde revê em forte alta previsão de crescimento e admite até 12% este ano

O Governo cabo-verdiano reviu em forte alta a previsão de crescimento económico para este ano, que devido à guerra na Ucrânia tinha baixado para 4%, podendo agora chegar a 12%, revelou hoje o vice-primeiro-ministro.
8 Novembro 2022, 15h31

“Apesar do cenário externo adverso, o Governo estima que a economia cresça entre 10,5% e 12,0% [do PIB] em 2022 e 4,9% em 2023, com uma perspetiva de uma demanda turística maior”, afirmou hoje o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças de Cabo Verde, Olavo Correia, à margem de uma reunião, na Praia, com uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.

Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística. Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou em junho a previsão de crescimento de 6% para 4%.

Contudo, o BCV anunciou em 28 de outubro uma revisão em alta da previsão de crescimento económico este ano, para 8,3%, com a inflação a cifrar-se em 8,1%.

Esta previsão é agora ultrapassada pelos indicadores do Governo~ revelados por Olavo Correia.

Ainda de acordo com o governante, o FMI iniciou esta semana uma “importante missão a Cabo Verde”, visando a primeira revisão do Programa de Facilidade de Crédito Estendido (ECF, sigla inglesa), aprovado em 16 de junho e que inclui uma Linha de Crédito Alargada de 60 milhões de dólares (sensivelmente o mesmo em euros).

Na ocasião, o conselho executivo do FMI divulgou tratar-se de um acordo de ECF a três anos, até junho de 2025, para apoiar o arquipélago, através de direitos especiais de saque (SDR, na sigla em inglês).

“Um programa importante que visa atendermos aos desafios do contexto, mormente na implementação de reformas com impacto positivo no cenário macroeconómico do país, a médio e longo prazo”, descreveu hoje o vice-primeiro-ministro.

Olavo Correia sublinhou que o contexto atual é “imposto pela crise provocada pela guerra na Ucrânia e pela crise inflacionária, e que ainda não se conhecem as dimensões das implicações da mesma no plano alimentar, no plano energético, plano social”.

“O contexto é imprevisível, incerto e indefinido, mas exige o esforço do executivo para amenizar os efeitos. Daí a necessidade da implementação das reformas acordados no quadro do novo programa. Mas estamos a olhar para este quadro de duas formas”, disse.

“Primeiro, temos de dar respostas às crises e às urgências” e “em segundo lugar é muito importante” realizar as reformas para promover “a confiança nos investimentos, na reforma ao nível do Estado, mas também na promoção da resiliência, com um conjunto de ações que estão a ser empreendidas”, reconheceu ainda.

“Portanto, todo este contexto é uma grande oportunidade para Cabo Verde. Oportunidade para avançamos com um conjunto de reformas estruturantes como a transformação energética, transformação digital, da mobilização de mais investimentos da nossa diáspora, mas também para que Cabo Verde continue a ser um Estado democrático, viável e seguro”, disse.

“Também, uma oportunidade para termos uma economia sustentável, de baixo carbono, com aposta no turismo, na economia verde, economia azul, nas conectividades. Tudo isto vai requerer medidas de políticas fortes e que constam do programa ECF que nós acordamos com o FMI. Esta missão tem elevada importância, considerando que nos vai permitir olhar, com as nossas equipes técnicas, para o quadro macroeconómico, orçamental e financeiro de Cabo Verde”, concluiu.

Questionado pela Lusa, em Washington, em 15 de outubro, sobre os 60 milhões de dólares previstos na linha de apoio do FMI a Cabo Verde, o vice-primeiro-ministro afirmou que já tinham sido desembolsados 15 milhões de dólares, estando confiante que o valor previsto para três anos “será seguramente desembolsado”.

“Depois, em função da evolução do programa, vamos ter uma avaliação agora em novembro (…), em função dos resultados, tendo em conta o quadro com que nós nos comprometemos em relação à execução do programa de reformas, que faz parte da agenda de governação. Portanto, o programa está a andar bem”, disse, à margem dos encontros anuais do FMI.

“Claro que estamos agora perante um quadro novo, que tem a ver com esta guerra na Ucrânia, com efeitos imprevisíveis à data que nós tínhamos assinado o acordo. Mas o acordo prevê um quadro de flexibilidade em função dos novos contextos e, portanto, estou otimista. Estamos a cumprir bem com o acordado e todo o valor que foi previsto para três anos será seguramente desembolsado nos termos daquilo que nós acordamos, porque é importante para o Governo e para a governação de Cabo Verde”, acrescentou, na mesma entrevista à Lusa.

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