[weglot_switcher]

Café lidera subidas de preço no último ano e tarifas dos EUA sobre Brasil agravarão tendência

As barreiras impostas por Trump a três dos maiores produtores mundiais (Brasil, Vietname e Uganda) deverão levar a mais subidas na cotação internacional do café, já prejudicada pela especulação dos fundos de investimento e pela política europeia contra a desflorestação.
22 Julho 2025, 07h00

Apesar da descida nas últimas semanas da cotação internacional do café nos mercados, o preço do produto nas lojas portuguesas tem disparado e a aplicação de tarifas pelos EUA combinada com as novas políticas de sustentabilidade ambiental da UE irão agravar ainda mais esta tendência. Ainda assim, a principal fonte de subida do preço continua a ser a especulação, acusam fontes do sector.

Nas praças de Londres, os futuros de café robusta, uma das variedades mais consumidas no mundo, chegaram a um máximo acima de 5.700 dólares (4.923,1 euros) por tonelada em janeiro antes de recuarem na expectativa de uma campanha positiva este ano para cerca de 3.300 dólares (2.850,1 euros). Apesar da descida assinalável, tal fica ainda bastante acima da média histórica de 1.700 dólares (1.468,3 euros).

Segundo o presidente da Lavazza, Giuseppe Lavazza, esta subida deve-se “em 80%” a fundos de investimento e outros especuladores financeiros, que têm levado a um aumento da volatilidade no mercado. Fatores como eventos meteorológicos extremos têm tido um impacto, admite, mas o principal motor são os fundos.

Esta dinâmica agravar-se-á com as tarifas dos EUA a países produtores de café, como o Brasil ou o Vietname, responsáveis por 58% das importações europeias deste bem e cerca de 55% da produção mundial. Estes aumentos serão passados aos consumidores, alertou o líder da empresa de Turim. O Brasil enfrenta 50% de barreira alfandegária e o Vietname 40%, deixando o pequeno país do sudeste asiático numa das piores posições na negociação com os EUA, dado o peso das exportações e investimento norte-americano na economia local.

No caso brasileiro, um dos maiores produtores mundiais de bens como café e bananas, que os EUA não têm condições de produzir, o efeito poderá ser mais negativo para os consumidores americanos do que para os produtores brasileiros.

Por outro lado, e ainda mais relevante para a Europa, a restrição da Comissão sobre a compra de grãos produzidos em terras desflorestadas é mais um fator de pressão sobre os preços, afirmou Lavazza.

Em Portugal, este é mesmo o bem do cabaz essencial que mais subiu de preço desde o início do ano. Os dados da DECO Proteste mostram uma subida de 28% até 4,86 euros, enquanto o aumento homólogo foi de 49%.

Em Portugal, este é mesmo o bem do cabaz essencial que mais subiu de preço no último ano (e também se alargarmos a análise para os últimos dois anos). Os dados da DECO Proteste mostram uma subida de 58,33% em termos homólogos, sendo que uma embalagem de café torrado moído já ultrapassou a barreira dos cinco euros. Há dois anos, custava em média 3,12 euros.

Portugal é dos maiores produtores europeus

Apesar de terem apenas uma plantação de café no continente inteiro (nas Canárias), os europeus são os maiores consumidores deste bem do mundo, arrecadando 30,4% da produção mundial em 2023, com 3,2 milhões de toneladas. O Brasil é a origem mais comum, responsável por 34% deste total, com países como o Vietname e Uganda de seguida na lista, com 24% e 8%, respetivamente.

Do lado do consumo, a Alemanha é a maior importadora, com 33%, ou 911 mil toneladas, seguida de Itália e Bélgica.

Apesar de não ter plantações, a Europa recebe o produto inacabado e ainda não pronto para consumo, tratando de algumas das etapas finais e, portanto, contando estatisticamente como produtora. Nesta linha, Itália é a maior produtora do continente, com 25% dos 2,3 milhões de toneladas produzidas em 2023, ou 556 mil toneladas, seguida da Alemanha, com 507 mil toneladas.

Em comparação com 2013, a produção europeia de café cresceu 15%, uma evolução significativa em comparação com outros bens. Em termos relativos, a produção do Velho Continente corresponde a cerca de 5kg por cada habitante europeu.

Quase dois terços da produção europeia é da responsabilidade de apenas sete países, onde se inclui Portugal. O sector nacional produziu 49.400 toneladas em 2023, ou 2% do total europeu, afirmando-se como o quinto maior produtor europeu.

Olhando para a realidade nacional, Portugal importou em 2024 73.717 toneladas, ou seja, acima do que produziu – um valor que, traduzido em euros, representa 433,9 milhões de euros.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.