Em entrevista ao Jornal Económico, o presidente do PS Madeira, Paulo Cafôfo, aborda o ano político madeirense, as eleições autárquicas do próximo ano, onde para além de querer manter as atuais câmaras municipais socialistas, expressa o desejo de voltar a governar na capital madeirense, o Funchal. Nesse sentido aponta Miguel Silva Gouveia, que já foi presidente da autarquia, e seu vice-presidente na autarquia, como um “forte candidato” do PS.
O líder socialista madeirense considera que a atual crise política que se vive na Madeira recai sobre o PSD e o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque. Cafôfo critica os partidos que viabilizaram o atual Governo de Albuquerque.
O presidente do PS Madeira aborda também a rejeição da proposta de coligação que efetuou para umas eventuais eleições regionais antecipadas, que juntavam PS, Juntos Pelo Povo (JPP), Iniciativa Liberal (IL), PAN, Bloco de esquerda. Cafôfo considerou que existiu “uma falta de visão” daquilo que poderia ser feito através desta coligação, e afirma que a rejeição dos outros partidos só mostra que o único partido que quer mudança na Madeira é o PS.
“O PS vai sozinho às eleições, mas vai sozinho às eleições com uma convicção de que foi o único partido, ou é o único partido que antes das eleições manifestou interesse e foi ativo ou proativo em criar as condições para que existisse uma mudança. E, portanto, eu posso concluir que o único partido que quer efetivamente a mudança é o PS, porque enquanto outros partidos estiverem a olhar para o seu metro quadrado, ou para o seu umbigo, será mais difícil nós derrubarmos o PSD”, disse o dirigente socialista.
Este ano político, na Madeira, teve quedas de Governo (em janeiro e dezembro), moções de censura aprovadas no Parlamento (a primeira na Autonomia da Madeira), investigações e buscas judiciais, um Orçamento chumbado (a primeira vez que acontece na Madeira). Como descreveria o ano político vivido na Região Autónoma?
Eu diria que tem sido um ano muito movimentado em termos políticos e com muitos episódios e muitos acontecimentos. Eu diria que aconteça o que acontecer nos próximos anos, o ano de 2024 ficará marcado na história da Região, infelizmente não pelas melhores razões. Aquilo que eu desejo é que o ano de 2025 seja recordado pelas melhores razões.
E digo isto porque durante este ano tivemos um processo judicial, aliás, tivemos durante este ano, vários processos judiciais, atingindo a cúpula do PSD, o presidente do Governo, Miguel Albuquerque, e membros do Governo Regional.
Esse processo levou a eleições antecipadas [em maio], cujo presidente do Governo acabou por ganhar novamente, embora não tendo maioria. Aliás teve o seu pior resultado de sempre. este foi o pior resultado da história do PSD Madeira, [as eleições de maio]. Lembro que Miguel Albuquerque, depois das eleições de maio deu garantias ao Representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, de poder formar Governo.
Essas garantias não tinham um “seguro de vida” e o “seguro de vida” seria um documento escrito que comprometesse o PSD, e os partidos que o apoiaram e que validaram o seu Governo, através da aprovação de uma moção de confiança que passou na Assembleia Regional, porque se a moção não fosse aprovada nem teríamos Governo.
É curioso como o Chega que diz ser um partido que combate a corrupção dá a mão a um presidente do Governo que está indiciado por crimes de corrupção e que tem mais de metade do Governo indiciado. Isto é uma coisa inédita na democracia em qualquer parte do mundo pelo menos do mundo ocidental e democrático.
Agora nos Estados Unidos vamos ter um presidente que foi condenado pelos tribunais ….
É uma realidade, esperemos que isso não se torne uma moda. Mas é um caso inédito um Governo, mais de metade de um Governo, a contas com a justiça. E isto perturba a vida das pessoas. E é por isso que a instabilidade, não está no PS, porque não fomos nós que validamos este Governo.
Não fomos nós que negociamos com este Governo propostas para serem integradas no Programa de Governo. Não fomos nós que votamos a favor do Orçamento, para 2024. E portanto, o PS aqui tem sido coerente ao estar do lado oposto ao do PSD, porque somos alternativa precisamente ao PSD.
Em termos políticos há outro momento marcante que são as eleições de maio, que dão vitória ao PSD. Existem reuniões com o Representante da República. Nessa altura em que se foi a eleições já se sabia que Albuquerque era arguido num processo judicial. Existem garantias de que há condições para formar Governo. O que acha que aconteceu para se passar de um apoio ao Governo para meses depois se ter um Governo a cair na Assembleia da Madeira?
Há uma incoerência por parte de vários partidos, nomeadamente o Chega. O Chega disse antes das eleições, durante a campanha eleitoral, disse repetidamente que não apoiaria um governo de Albuquerque. O Chega viabiliza o Governo de Albuquerque, aliás, acorda medidas para serem integradas no Programa de Governo e no Orçamento.
Depois, o que é que acontece? Vai à audiência com o secretário das Finanças para o Orçamento, de 2024, e saem satisfeitos, animados até, com as propostas do Governo e que o Chega, obviamente, acordou, para passados poucos dias apresentar uma moção de censura ao Governo de Albuquerque
E, mais, o líder do Chega Madeira, Miguel Castro já disse, no passado dia 4 de dezembro, ao Jornal da Madeira (JM), que se Miguel Albuquerque ganhar as eleições, está disposto a aceitá-lo. Isto é uma montanha russa. Isto é uma montanha russa, por parte de um partido como o Chega, que tem dito e desdito de uma forma sistemática, numa incoerência política.
Mas a responsabilidade temos que dizer, não é do Chega, é do PSD de Albuquerque. Eles é que são o foco da instabilidade.
Diria que o PSD é o principal foco de instabilidade?
Não tenho dúvidas. Esta crise política não começou com o PS. Começou com o PSD, com o processo judicial [de janeiro], e com tudo aquilo que tem sido uma postura de Miguel Albuquerque, que tem sido, ao fim e ao cabo, tornar reféns os madeirenses.
Diria que o PSD é a origem de todos os males que têm existido ultimamente na política madeirense?
Eu tenho a certeza que a origem do problema da instabilidade é o PSD e Miguel Albuquerque. Neste momento os madeirenses são o escudo protetor de Miguel Albuquerque para ilibar-se dos processos judiciais. Porque a sua condição de conselheiro de Estado dá-lhe imunidade. Enquanto for presidente do Governo, terá imunidade. Enquanto tiver imunidade, vai empurrando com a barriga para a frente os processos judiciais que é o que lhe interessa. E portanto nós estamos reféns de uma pessoa que pelo interesse pessoal acaba por aprisionar toda uma Região.
Mas é importante o povo perceber e isto para mim é o essencial. Que não se deixem manipular. Porque aquilo que Miguel Albuquerque fez foi vitimizar-se dizendo que estes processos judiciais eram denúncias anónimas.
Mas eu pergunto até essas denúncias anónimas, e há umas denúncias que o PS fez, essas não são anónimas, se o Ministério Público não tivesse indícios graves, não tinha efetivamente criado a operação que criou aqui na Região, nem o teria constituído como arguido [Albuquerque] por oito crimes, ou indiciado por oito crimes.
Mas há esta tentativa de manipular com a vitimização, que isto é uma cabala de Lisboa contra a Madeira, quando não é contra a Madeira, é contra o presidente do Governo e por factos que o Ministério Público obviamente está a investigar.
E isto acaba por levar as pessoas a não ter uma postura mais crítica e um escrutínio mais rígido. E as pessoas quando se aperceberem que têm o poder na mão, que têm que se libertar, que esse poder está nas pessoas, o poder do voto, o poder de votar diferente.
Enquanto isso não acontecer, vamos ter sempre Miguel Albuquerque no PSD. Eu espero que o ano que aí vem, com as eleições que deverão acontecer, que haja um despertar cívico. Um despertar cívico que permita às pessoas tomarem uma posição, seja não votando no PSD, ou aquelas que não votam, possam votar em outro partido, nomeadamente no PS.
E o PS aqui tem demonstrado que além de estar do lado certo da história, do lado certo da defesa dos madeirenses e porto-santenses, nós não olhamos só para nós.
O eleitorado foi para as eleições, em maio, sabendo que Miguel Albuquerque era arguido num processo judicial. O eleitorado acabou por dizer que o PSD ganhava, existindo uma maioria dos partidos da direita (PSD, CDS-PP e Chega). Como é que explica que o PS e até a própria esquerda não tenham conseguido capitalizar essa instabilidade política que se viveu na Madeira?
Tem a ver um pouco com a vitimização que Miguel Albuquerque faz usando um facto negativo, um facto de ser arguido por crimes de corrupção, tentar inverter esse ônus como fosse uma cabala e como se fosse uma ação contra a Madeira, e isso acaba por ter efeito nas pessoas.
Que garantias é que o PS tem de que se formos a eleições regionais antecipadas no próximo ano não vai acontecer a mesma coisa?
As garantias que nós temos é que acho que as pessoas já estão cansadas disto. As pessoas estão cansadas de estar nas mãos de um partido e de uma pessoa que em vez de procurar o bem coletivo procura só escapar à justiça. E eu espero que já tenham entendido isso e que possam dar uma oportunidade a outro partido, nomeadamente o PS, que somos um partido alternativo, que quer outra solução governativa e acima de tudo nós queremos estabilidade.
Já vimos que com o PSD não há estabilidade. Com o PS pode haver estabilidade. E é por isso que nós apostamos em que quem quer estabilidade tem que votar no PS.
Porque votar no PSD ou votar em partidos onde depois o voto se disperse eu diria que não é a melhor solução para termos uma normalização da vida política aqui na Região.
No dia seguinte ao chumbo do Orçamento Regional, para 2025, saíram duas sondagens, nos diários regionais (Diário de Notícias da Madeira e Jornal da Madeira), que davam vitória ao PSD, ou sejam, apontavam para mais do mesmo em termos daquilo que é a atual composição parlamentar. Acredita que pode haver margem, caso sejam convocadas eleições regionais antecipadas, para existir uma alteração no sentido de voto do eleitorado?
Essas sondagens dizem duas coisas. Dizem que há muita gente indecisa ou que não responde. Os que não respondem, ou indecisos, uma das sondagens até chega aos 35%.
Ou seja, estamos a falar de muita gente que não sabe ainda o que é que vai fazer, ou se vai fazer alguma coisa, ou se vai votar. Isso é um facto significativo. Outro facto é que as pessoas veem como presidente do Governo, eu e Miguel Albuquerque.
Isso é também um fator importante na auscultação que foi feita através dessas sondagens. E isso leva-me também a um ponto que é fundamental, que tem a ver com a proposta de entendimento que eu lancei como desafio aos partidos da oposição.
Depois do chumbo do Orçamento Regional, que aconteceu a 9 de dezembro, fez uma proposta de uma coligação pré-eleitoral entre PS, Juntos Pelo Povo (JPP), Iniciativa Liberal (IL), PAN, e Bloco de Esquerda (BE) num cenário de eleições antecipadas na Madeira. Porquê é que acha que ela foi fortemente rejeitada?
Ela foi fortemente rejeitada, eu não sei se foi fortemente rejeitada, foi pelo menos negada pelos partidos.
Eu diria que há aqui uma falta de visão daquilo que nós podíamos fazer. E quando eu digo as pessoas têm de ter a noção que têm o poder nas mãos, os partidos também têm. E às vezes não usam esse voto para provocar a mudança. A Madeira já podia ter mudado, por exemplo, em 2019. Se o CDS-PP não se tivesse juntado ao PSD, se se tivesse juntado ao PS, teríamos já tido outro Governo na Região.
Mas mesmo agora, se não entendermos que juntos somos mais fortes, e aqui o juntos mais fortes, qual era a vantagem de termos já um entendimento fosse ele qual fosse? Eu não falei nem em coligação, nem em geringonça, nem em casamentos.
Uma plataforma alargada de entendimento iria permitir uma coisa que era primeiro, as pessoas acreditarem. Acreditarem nos partidos que estavam com vontade de provocar a mudança. Porque nós quando pomos de lado determinadas diferenças e vemos os pontos que nos unem para termos uma frente comum, isso acaba por criar uma dinâmica eleitoral que eu acho que seria mais fácil, com essa dinâmica eleitoral, podermos ser bem sucedidos e governarmos a Região.
Outra questão é que, mesmo pelo método de Hondt, seríamos favorecidos se tivéssemos algum tipo de entendimento que nos juntasse antes das eleições.
E, portanto, eu acho que quando entendermos que há aqui uma opção dos partidos, ou querem continuar a ser partidos de oposição, eternamente, ou querem fazer a diferença e fazer diferente, juntando-se e criando aqui uma dinâmica que permita, efetivamente podermos ter uma alternativa efetiva na Região.
Mas na plataforma de entendimento que proponha, não acha que se juntavam muitas vontades contrárias?
O objetivo era colocar de lado aquilo que nos separa e focar-nos naquilo que nos une.
Se fizéssemos isso, ou quando os partidos perceberem isso, que estando juntos podemos provocar a mudança e se nos dividirmos só estaremos a beneficiar o PSD, quando nós tivermos esse entendimento eu diria que essa é estratégia correta e o caminho certo.
Isso não foi possível, não há drama nenhum. O PS vai sozinho às eleições, mas vai sozinho às eleições com uma convicção de que foi o único partido, ou é o único partido que antes das eleições manifestou interesse e foi ativo ou proativo em criar as condições para que existisse uma mudança.
E, portanto, eu posso concluir que o único partido que quer efetivamente a mudança é o PS, porque enquanto outros partidos estiverem a olhar para o seu metro quadrado, ou para o seu umbigo, será mais difícil nós derrubarmos o PSD.
E repare, eu não estou interessado só em derrubar o Governo ou em chumbar o Orçamento, estou interessado em criar uma solução governativa que crie estabilidade na Região, que resolva os problemas que o PSD não sabe resolver, ou não consegue resolver, e que possamos resolver os problemas que eles criaram.
E aqui isso só pode ser feito com uma força que possa criar a tal mudança que se deseja na Região.
Mas quando apresentou esta solução de uma plataforma mais alargada, tendo em conta que quando PS e JPP apresentaram, depois das eleições de maio, um acordo de governação, que acabou por não ser aceite por partidos que agora o PS queria integrar nesta plataforma, não assumiu uma estratégia de alto risco?
Para mim a política é entendimento e a política serve para, através do diálogo, conseguirmos entendimentos que possam fazer a diferença na vida das pessoas.
Eu não poderia dormir com minha consciência tranquila se não tentasse. Eu quando digo o tentar seria termos, mesmo sabendo das dificuldades e do risco, mas o maior risco não é os partidos não terem querido sentar-se à mesma mesa. O maior risco é que o PSD continue a ganhar eleições e continue a governar esta terra. Esse é que é o grande risco.
O PS não é um partido que está confortável. Nós não estamos confortáveis na oposição. Porque na oposição mesmo que se consiga no Parlamento aprovar um ou outro diploma, um ou outro projeto, o que nos interessa é governar. Porque é a governar que, efetivamente, podemos provocar e concretizar alterações na vida dos cidadãos.
Mas diria que vale tudo para tirar o PSD do Governo?
Isto não é o vale tudo. Um vale tudo é o que o PSD tem feito e o que Miguel Albuquerque tem feito para se manter no poder.
Vale tudo. É que aquilo vale tudo. Desde manipular as pessoas, desde dizer que o Orçamento chumbado faz a Madeira parar. Isso é que é o vale tudo.
Eu acho que vale a pena. Não é o vale tudo, mas vale a pena tentarmos entendimentos, tendo conta o bem geral da nossa região.
Relembro-lhe um acontecimento que lhe traz boas memórias, que foi a eleição para o seu primeiro mandato como presidente da Câmara do Funchal, onde se candidatou como independente numa pré-coligação com PS, BE, PND, MPT, PTP, PAN. Após essas autárquicas o PS (que era liderado por Victor Freitas), foi às eleições regionais de 2015, integrado numa coligação pré-eleitoral que tinha PS, PTP, PAN, e MPT, que elegeu seis deputados, ficando atrás do CDS-PP (sete deputados) e do PSD que venceu com maioria absoluta. Em 2025, caso se confirmem eleições antecipadas, a sua ideia era reproduzir uma coligação pré-eleitoral. O que é que levou a acreditar que não poderia ter um resultado semelhante a essa experiência regional de 2015?
Porque o contexto é completamente diferente.
Na altura o Vitor Freitas procurou, como líder do partido, fazer uma réplica daquilo que tinha acontecido na Câmara Municipal do Funchal, em 2013. Na Câmara do Funchal foi bem sucedido, e nas eleições regionais não foi claramente bem sucedido. Mas o contexto é diferente. Em 2015 estamos no primeiro ano de Miguel Albuquerque.
O primeiro ano de Miguel Albuquerque, onde ele procurou aquele movimento que se chamou de renovação no PSD Madeira, em que Alberto João Jardim estava claramente em declínio político, e Miguel Albuquerque foi a esperança. Miguel Albuquerque estava no início, era um tempo novo, e era muito difícil nesse contexto, efetivamente, separados ou unidos, com essa dinâmica que Miguel Albuquerque criou à data de o PS ser bem sucedido.
O tempo agora é outro. Miguel Albuquerque está não só com um desgaste político grande, como está gasto nas ideias e mesmo na capacidade de concretizar coisas no Governo. Falamos muito do Orçamento. Eu vou dar exemplos concretos. Fala-se que sem Orçamento para 2025 a Região está parada, mas em 2024 temos um Orçamento em vigor.
Com um Orçamento aprovado em 2024, nós temos, por exemplo, menos 300 casas construídas. Temos, por exemplo, as casas de saúde mental que estão há mais de quatro meses sem receber o pagamento pelas diárias de internamento dos seus doentes, pondo em risco a saúde dessas pessoas que estão internadas e os salários dos próprios trabalhadores. Temos, por exemplo, a questão das listas de espera na Saúde que aumentaram de 2023 para 2024, 85% na parte das cirurgias.
Isto são questões que tendo o Orçamento aprovado o Governo tem falhado por manifesta incapacidade em resolver as coisas. Já não noto vontade em Miguel Albuquerque de fazer alguma coisa.
Miguel Albuquerque está somente a gerir a sua vida pessoal. E digo gerir a vida pessoal, o processo judicial que tem em cima. É um Governo que gere os casos judiciais mas que não gere a vida pública nem governa. E portanto, está um Governo em fim de linha, um presidente do Governo que já só pensa em si e não pensa na população que devia salvaguardar e assegurar.
No caso de irmos para eleições antecipadas, que é o cenário mais provável, tendo em conta que existe unanimidade entre os partidos relativamente a essa matéria. Se o PS não conseguir governar depois dessas eleições antecipadas, acredita que tem condições para continuar como presidente do partido?
Eu quando abracei o PS, era um projeto para quatro anos. Quando me candidatei, era um projeto para quatro anos. Digo quatro anos, no mínimo. Porque precisávamos de uma sustentabilidade e uma solidez em termos de liderança do partido. O partido não pode estar continuadamente a mudar de lideranças. Mas um passo de cada vez. Nós estaremos agora provavelmente em eleições regionais e teremos eleições autárquicas em 2025.
Não é a altura de questões de liderança. Estou mandatado enquanto dirigente do partido até ao final de 2025. E portanto temos duas eleições este ano, o foco são as eleições regionais e as eleições autárquicas, não são as eleições internas.
Quando chegar ao momento, obviamente, tomarei uma decisão, mas isso não é uma questão que se coloca agora, nem sequer penso nisso.
Em termos de eventuais cenários pós-eleitorais, nas regionais, quais serão as suas linhas verdes e vermelhas? Já tem isso definido?
Tenho isso muito bem definido. Em termos de acordos, não queremos fazer nenhum acordo com o PSD, nem nunca iremos fazer nenhum acordo com o Chega.
Portanto mantém-se aquilo que o PS já tinha dito nas eleições regionais anteriores ….
Nós não fazemos acordos com o PSD, nem fazemos acordos com o Chega. Com os outros partidos, existe toda a possibilidade para base de entendimentos, seja qual for o tipo de entendimento, porque pode haver um entendimento com um determinado partido e outro tipo de entendimento com outro partido. Portanto, a forma não interessa. O que interessa é que possamos, de alguma forma, de alguma maneira, estar juntos e criar dinâmicas que possam trazer novos horizontes e novas oportunidades.
Ou seja, mesmo a questão de eventualmente o PS formar aqui um governo minoritário, está em cima mesa?
Sim, incluindo isso.
O PS em termos de eleições regionais teve um pico 2019, em que se verificou uma bipolarização entre PSD e PS. Mas depois desse pico, no que concerne a eleições regionais, houve uma quebra, com o PS a não conseguir crescer. O que é que acha que explica isso?
Nós tivemos na Madeira, efetivamente, em 2019, uma bipolarização. E isso é o sinal de quando as coisas estão bipolarizadas é mais fácil acontecer a mudança. E estivemos bem perto de o conseguir não tivesse o CDS-PP traído o histórico de luta pela mudança nesta Região.
Depois tivemos uma coisa que afetou claramente o PS e beneficiou o PSD. Foi a pandemia da Covid-19 que aconteceu em 2020. Porque com a pandemia, Miguel Albuquerque, como presidente do Governo, acabou por, e como acontecei com outros Governos, por esse mundo fora, acabou por ser beneficiado e lucrar politicamente com o facto de numa época tão difícil e que as pessoas tiveram tanto medo pelo desconhecido, por um vírus que parou o mundo e parou a região, obviamente Miguel Albuquerque aí retirou dividendos e isso, quer queiramos quer não, foi algo que abalou a dinâmica que criamos em 2019. Aquilo que estamos agora a tentar é partir de uma base que não é a base de 2019. Nada será igual a 2019.
Acredita que foram circunstâncias únicas?
Não foi uma circunstância única, em termos de bipolarização foi, porque o que aconteceu depois foi uma dispersão de votos. E é uma dispersão de votos que se vê atualmente. E é por isso que nesta dispersão de votos, em primeiro lugar há um dado que para nós é importante passar esta mensagem. Que o único partido que quer efetivamente, a mudança é o PS. E é preciso dar força ao PS. E depois disso, obviamente, que estamos disponíveis para consertar com outros partidos, porque não houve ainda a bipolarização que houve em 2019, [e essa bipolarização] não vai acontecer agora. É importante que haja convergências entre as diversas forças partidárias.
Ou seja, acredita que o PS pode crescer, nas regionais? E que estratégia tem montada para isso acontecer?
Isto passa por termos um projeto com soluções claras e concretas. A política é cada vez mais pragmática. E portanto, em termos do nosso programa eleitoral, termos não só propostas e ideias boas, mas serem claras.
Temos de ter aqui uma competente muito prática. E depois termos uma equipa que possa, entre quadros do partido, mas também da sociedade civil, pessoas que possam, na sua capacidade técnica, nas suas competências políticas, mas nas suas qualidades humanas, podermos ter uma equipa forte em que possamos nos distinguir, nomeadamente, do PSD.
Em 2025 realizam-se eleições autárquicas. O PS tem dois autarcas (Porto Moniz, com Emanuel Câmara, e Machico, com Ricardo Franco) a atingirem o limite de mandatos, portanto já não se podem recandidatar, e no caso da Ponta do Sol se Célia Pessegueiro for reeleita entra no seu último mandato. Quais serão os seus objetivos para essas autárquicas na Madeira?
Nós queremos efetivamente manter as autarquias que neste momento são do PS.
Mas temos uma ambição de querer fazer mais em outros concelhos, nomeadamente o concelho do Funchal, que já foi do PS e que gostaríamos de reconquistar esta Câmara, que é a capital da Região, parece-me absolutamente fundamental. E portanto vamos trabalhar para termos uma equipa que possa devolver ao Funchal aquilo que os funchalenses merecem.
Porque aquilo que temos tido neste executivo do Funchal ‘Sempre à Frente’ (PSD/CDS-PP) tem sido andar para trás. E andar para trás porque não há nenhum rasgo, nenhuma inovação. Aliás, esta equipa autárquica teve um presidente, Pedro Calado, que renunciou ao cargo por causa do caso judicial [de janeiro], tem sido só um corta-fitas daquilo que o PS deixou de obra feita no Funchal. E portanto, tem inaugurado só aquilo que nós fizemos e lançamos.
Nós não queremos que uma Câmara só corte fitas, isto também vai acabar, queremos uma Câmara que consiga inovar, que consiga novamente devolver ao Funchal a potencialidade que esta cidade tem como cidade portuguesa, uma das cidades mais importantes, seja para visitar, seja para viver ou seja para investir.
Mas a sua ideia no Funchal é o PS ir sozinho a eleições ou eventualmente voltar a reeditar as coligações pré-eleitorais?
Não está nada definido. O que temos procurado fazer é conversar com pessoas, nomeadamente conversar com a atual equipa do PS na Câmara Municipal, que tem sido liderada pelo anterior presidente de Câmara, e meu sucessor, Miguel Silva Gouveia. Temos feito esse diálogo no sentido de conseguirmos construir aqui um projeto que possa ser um projeto vencedor.
Mas com Miguel Silva Gouveia nesse projeto?
Eu tenho conversado com Miguel Silva Gouveia e eu gostaria que da reflexão dessas conversas, o PS aqui coloca Miguel Silva Gouveia, que teve um papel importante enquanto presidente de Câmara, que tem tido, ao longo destes quatro anos, tem liderado a oposição na Câmara do Funchal com um escrutínio correto, propositivo e construtivo e portanto eu diria que, não estando ainda nada definido, mas o Miguel Silva Gouveia seria um forte candidato para o PS [no Funchal].
Ou seja, as divergências que a determinada altura existiriam entre si e Miguel Silva Gouveia estão sanadas?
Quanto a divergências, às vezes há opiniões diferentes. Nem sempre pensamos da mesma forma. E às vezes há divergências que, da minha parte, não existem. Eu acho que, mesmo quando há opiniões divergentes, temos que pôr à frente dessas opiniões divergentes um interesse maior. Neste caso, o interesse maior é como é que eu, ou Miguel Silva Gouveia, podemos fazer para que o Funchal volte a ter uma Câmara que seja uma Câmara virada para os problemas das pessoas. Tendo as soluções para esses problemas e não uma Câmara que vive da propaganda ou de cortar as fitas de obra feitas por outros.
Em relação ao PS nacional, qual é a estratégia que defende? E que tipo de articulações é que têm existido?
Há aqui uma questão que tem sido para mim fácil que é com a Direção Nacional, nomeadamente com o secretário-geral Pedro Nuno Santos, termos um diálogo permanente.
E acima de tudo da direção nacional tem havido um respeito pela autonomia do PS Madeira. E esse respeito pela autonomia é algo que eu sublinho, porque para nós é fundamental ter a solidariedade do PS nacional, que temos tido, mas também o entendimento e o respeito pelas decisões que são tomadas a nível regional e pelos órgãos regionais.
Como é vão ficar, por exemplo, dossiers que têm sido também bandeira do PS Madeira, como a questão do ferry, que no âmbito do Orçamento do Estado, teve luz verde da Assembleia da Madeira, e também outro dossier como o da Lei das Finanças Regionais?
A Lei das Finanças Regionais, tem sido sempre uma bandeira do PS. Aliás, foi criada uma comissão eventual para a reforma do sistema político e aprofundamento da autonomia, na Assembleia da Madeira, cuja prioridade por parte do PSD não foi a Lei das Finanças Regionais.
A Lei das Finanças Regionais estava em quarto lugar nas prioridades do PSD. A primeira prioridade, curiosamente, foi a lei eleitoral para voltarmos aos círculos eleitorais concelhios que, com os círculos concelhios, seria mais fácil o PSD obter maiorias absolutas, ou qualquer partido obter maiorias absolutas, inviabilizando a possibilidade de alternância no poder, portanto, nós isso rejeitamos, mas aquilo que desejamos é que a questão da autonomia, do aprofundamento da autonomia política, se faz com o aprofundamento da autonomia financeira.
E para isso nós consideramos fundamental a revisão da Lei das Finanças Regionais e portanto estamos nesse aspeto ao contrário do PSD Madeira que tem esse dossier como quarta prioridade. Para nós é a primeira prioridade na revisão do sistema político.
E a questão do ferry, tendo em conta a luz verde da Assembleia da República, como vai ficar?
Sempre foi uma bandeira nossa que a Madeira tenha ligação ferry.
Já no próximo ano acha que poderá existir condições para haver essa ligação ferry entre a Madeira e o território continental?
Resta saber se o PSD nacional e o PSD Madeira vão cumprir aquilo que disseram. Nós estaremos sempre do lado dos madeirenses. Sempre. Se a nível nacional o ferry for possível, nós estaremos sempre do lado da solução, nunca do lado do problema, nem muito menos a bloquear seja lá o que for.
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