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CGD teve lucro recorde de 1,29 mil milhões em 2023, com margem financeira a duplicar graças à subida dos juros

O banco público liderado por Paulo Macedo vai entregar ao Estado um dividendo de 525 milhões de euros, devolvendo ao acionista público a totalidade dos 3,9 mil milhões de euros da recapitalização que teve lugar em 2017.
15 Março 2024, 16h48

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) obteve um resultado recorde de 1.291 milhões de euros em 2023, mais 53% que no ano anterior, suportado nos ganhos obtidos com a subida das taxas de juro, de acordo com o comunicado divulgado esta sexta-feira no site da CMVM. A forte subida da margem financeira, de 1,4 mil milhões em 2022 para 2,8 mil milhões no ano passado, explica esta forte performance do banco público liderado por Paulo Macedo, que dificilmente se repetirá nos próximos tempos, segundo o próprio.

“A Caixa, à semelhança de outros bancos nacionais e estrangeiros, viu os resultados aumentar devido a essa subida da margem financeira, mas há outros componentes a nível de atividade em Portugal e a nível internacional. A tendência da margem é só uma, é baixar, e portanto a rentabilidade da banca vai baixar. Mas a Caixa tem várias fontes de proveitos e menos custos em 2024, pelo que esperamos resultados fortes este ano”, afirmou o presidente da CGD quando questionado pelos jornalistas sobre as perspetivas para este ano, tendo em conta que a partir do segundo semestre as taxas de juro deverão descer. Paulo Macedo concorda com a visão do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que prevê que a inflação desça gradualmente para o patamar dos dois por cento e as taxas de juro fiquem um pouco acima desse valor, a médio prazo.

“A Caixa tem um conjunto de buffers muito significativos que nos permitem estar otimistas nesta conjuntura de resultados decrescentes da banca, em que teremos a margem dos bancos a diminuir”, acrescentou, lembrando que a Caixa tinha resultados positivos mesmo antes da subida dos juros que ocorreu nos últimos dois anos, “porque fez o seu trabalho do lado dos custos”.

Com este resultado, a Caixa salda os prejuízos acumulados até 2017, ano em que o Estado realizou uma operação de recapitalização. “Conseguimos em 2023 que o capital gerado fosse superior ao investimento público realizado no âmbito do plano de recapitalização”, destacou a administradora Paula Geada, na conferência de imprensa que decorreu esta tarde na sede da CGD, em Lisboa. Recorde-se que em 2017 os contribuintes injetaram 2,5 mil milhões de euros para recapitalizar o banco público, valor a que acrescem outros 945 milhões em obrigações subscritas pelo Estado em 2012 e 499 milhões por via da entrega de ações representativas de 49% da holding Parcaixa, num total de 3,9 mil milhões de euros.

O banco público liderado por Paulo Macedo vai entregar ao Estado um dividendo de 525 milhões de euros, devolvendo ao acionista público a totalidade dos 3,9 mil milhões de euros da recapitalização que teve lugar em 2017.

À semelhança dos outros grandes bancos, a Caixa Geral de Depósitos beneficiou largamente da subida das taxas de juro que teve lugar no ano passado. A margem financeira – que corresponde à diferença entre aquilo que os bancos cobram nos créditos e o que pagam para se financiar, nomeadamente nos depósitos  – duplicou para 2,8 mil milhões de euros em 2023.

Por sua vez, o produto bancário teve um crescimento de 55,6% para 3,6 mil milhões de euros, enquanto as comissões diminuíram 7% para 565 milhões de euros, à semelhança do que aconteceu noutros bancos, numa altura em que o regresso ao modelo de negócio tradicional – com a subida dos juros – tem permitido às instituições bancárias diminuirem a dependência face a outras fontes de receita, nomeadamente as comissões cobradas aos clientes pela manutenção de contas, disponibilização de cartões e outros serviços.

No lado dos custos, a CGD registou uma descida de 23% nos encargos com o pessoal, com os custos de estrutura a diminuírem 15% para 1.020 milhões de euros.

O rácio de eficiência cost to income manteve a trajetória dos últimos anos e melhorou para 27,9% (em termos recorrentes ficou nos 25%), adiantou a Caixa. Este rácio compara com 50,1% em 2019.

Imparidades aumentam de forma “preventiva”

O banco do Estado fechou o exercício de 2023 com depósitos no valor de 80 mil milhões de euros, menos 3,9% que no ano anterior, ao passo que os créditos a clientes tiveram uma descida de 0,5% para 50,2 mil milhões de euros. No segmento do crédito à habitação a Caixa manteve-se líder de mercado, numa altura em que muitos clientes optam por reembolsar antecipadamente os seus créditos devido à subida dos juros. O banco público renegociou cerca de 40 mil créditos à habitação no ano passado, permitindo baixar as prestações das famílias em dificuldades, notou Macedo. Destes, 5.600 foram renegociados ao abrigo do mecanismo criado pelo Governo.

Em termos de qualidade da carteira de crédito a CGD reportou um rácio de Non-Performing Loans (malparado) de 1,6%, melhorando face aos 2,43% em 2022. O rácio de NPE (que inclui garantias e outras rubricas no calculo do malparado) fixou-se em 1,6%.

No entanto, a CGD aumentou as provisões e imparidades em 2023, por uma questão de prudência. As provisões e imparidades registadas em 2023 aumentaram para 649 milhões de euros, em comparação com um ano de 2017 em que se libertaram mais provisões do que aquelas que se constituíram. “Esta evolução tem subjacente a continuidade da postura conservadora e preventiva da Caixa na cobertura de eventuais riscos colocados pela atual conjuntura económica”, refere o banco público.

O que fazer com o capital da mais? CGD vai estudar opções com o Estado

A Caixa fechou o ano passado com um rácio CET1 de 20,1%, mais do dobro do requisito regulamentar. “A Caixa tem sempre de ter algum capital a mais, algum tipo de buffer e de precaução, mas de facto vamos estudar isso com o novo representante do acionista e refletir isso no plano estratégico para 2025/28. A questão do capital é de facto fundamental mas temos de ter outros limites, como o valor do MREL, em que temos rácios bastante exigentes a cumprir, e teremos de ver o que vamos fazer no futuro”, disse o presidente da CGD.

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