Passado, presente e futuro da CGD

Eu sou daqueles que defende que o Estado deve ter, ou pode ter, um banco público que ajude a regular o mercado e que possa potenciar, em nome do interesse nacional, a nossa economia.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) era, até há bem pouco tempo, uma das entidades bancárias com maior notoriedade em Portugal. Hoje, a reputação e a credibilidade volatilizaram-se como ativos, porque uns ditos “administradores” entenderam ignorar os departamentos de risco e compliance que existiam no banco público.

Infelizmente, algumas Administrações da Caixa, designadamente durante o “período Socrático”, andaram a brincar com o dinheiro dos seus clientes. Hoje, sabemos que houve empréstimos concedidos a amigos de banqueiros, como se o dinheiro emprestado fosse dos próprios e em total desrespeito pela confiança que os depositantes conferiram ao banco.

Estas irresponsabilidades têm rostos e tem de haver responsáveis a responder pelas desastrosas decisões. Muitos milhares de milhões estão a ser retirados às famílias e às empresas portuguesas para pagar as tão faladas imparidades dos bancos, que mais não são do que “calotes de colarinho branco”.

Só na Caixa, esses “calotes” superaram os 1.200 milhões de euros. No ano passado, o Estado português capitalizou a CGD em 3.900 milhões de euros. Isto é, os impostos que famílias e empresas portuguesas colocaram na Caixa a fundo perdido (uma vez que não haverá retorno desse dinheiro), cerca de 3.900 milhões de euros para corrigir os devaneios de banqueiros irresponsáveis.

Não gosto de generalizações e, por isso, é justo também querer destacar a elevada competência e seriedade da grande maioria das equipas de gestão e administração que passaram pela CGD ao longo da sua história. Mas também é justo, para com o povo português, que sejam exigidas todas as responsabilidades aos (ir)responsáveis do “nacional amiguismo”.

No entanto, e porventura mais importante do que saber o nome dos amigos dos banqueiros, é saber o que é que as autoridades nacionais – nomeadamente o Banco de Portugal na qualidade de entidade supervisora – têm feito, por exemplo, para impedir que estes “mega-devedores” e as suas empresas possam recorrer ao crédito junto de instituições financeiras em Portugal. Andam esses “mega-devedores” despreocupadamente a fazer bom uso do “calote” em despesas pessoais ou nos seus interesses empresariais? O que é que está a ser feito? Ou nada está em curso?

António Costa e Mário Centeno têm de dar explicações ao país sobre quais foram, são, ou virão a ser, as consequências para aqueles que andaram imprudentemente a brincar com o dinheiro que estava à guarda do banco estatal. O Governo não pode ficar mudo perante explicações que são devidas aos portugueses, principalmente perante aqueles que são sérios e que cumprem as suas obrigações fiscais.

Porque ainda há muito a dizer sobre este assunto, como os próximos dias se encarregarão de comprovar, na próxima semana será publicada a segunda parte deste meu artigo sobre o presente e o futuro da CGD.

 

Peter Schneider/Epa via Lusa

Num país dominado por temas futebolísticos, não pode passar sem referência o triunfo alcançado por João Sousa, indubitavelmente o melhor tenista português da actualidade e que há poucos dias se sagrou o primeiro jogador português de sempre a atingir as meias-finais do Open da Austrália em pares, após vencer com Leonardo Mayer a dupla Raven Klaasen-Michael Venus. Para ele, e como adepto do desporto, o meu reconhecimento e sinceros parabéns!