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Calçado português quer Amazon para acelerar exportações

Acordo com o gigante Amazon permitiria ao setor do calçado aumentar canais de venda nos mercados de exportação. Agência Aicep está atenta aos contactos entre a APICCAPS e a Amazon.
12 Maio 2019, 08h00

A APICCAPS, associação que agrega os interesses da indústria nacional do calçado, e a agência de desenvolvimento estatal, a Aicep, estão a desenvolver contactos com a gigante norte-americana de vendas online, a Amazon, para criar um novo canal de escoamento da produção, disse Luís Onofre, presidente da associação setorial, ao Jornal Económico.

A futura presença do calçado nacional naquela que é ainda a maior plataforma de vendas online do mundo, será um passo importante para o setor aumentar o seu grau de exposição às exportações – que é o grande desígnio da produção nacional desde pelo menos 2010 – e, por outro lado, fazer face à diminuição das receitas provenientes das vendas ao estrangeiro, que se verificou no final do exercício de 2018.

Luís Onofre não avançou com mais detalhes sobre o assunto. A Aicep, questionada, também não teceu qualquer comentário específico. Mas fonte oficial da agência avançou ao JE que as três entidades têm encontro marcado para o próximo dia 9 de maio – dentro de pouco menos de duas semanas -, dia em que a Aicep organiza um seminário (que decorrerá no Porto), em parceria com a Amazon e com a presença de Ryan Frank, ‘marketplace director’ da plataforma norte-americana.

O seminário servirá com certeza para apresentar a possibilidade da abertura de um novo canal de vendas internacional na Amazon aos agentes do sector. Que não serão confrontados propriamente com nenhuma novidade logística: recorde-se que a Kyaia, do empresário Fortunato Frederido – um dos maiores do setor – investiu, há cerca de um ano, mais de um milhão de euros na criação de uma plataforma de vendas online, a Overcube, que vende não só as marcas do grupo, como todas as que entretanto se lhe quiseram juntar.

Fortunato Frederico disse ao Jornal Económico que está “muito satisfeito” com os resultados já alcançados e que continua aberto a que outras marcas se juntem à ‘sua’ plataforma.

A abertura de contactos com a  Amazon surge na sequência de um plano de reinvestimento da APICCAPS no aumento das exportações – e que passou, ainda na passada semana, pela criação de uma plataforma, da responsabilidade da Aicep, onde estão agregadas todas as informações referentes ao setor. A nova plataforma resulta da utilização de inteligência artificial, pelo que será um poderoso instrumento para fazer o ‘matching’ entre a oferta nacional e a procura internacional – servindo por outro lado para a disseminação da evidência das várias ‘bondades’ escondidas nas parcerias empresariais.

O setor do calçado é apenas o primeiro de uma série de outros – os têxteis-lar são os seguintes em ‘fila de espera’ – que serão posteriormente agregados à plataforma, considerada pela Aicep um eficaz instrumentos de aumento das exportações.

No caso do calçado, as ajudas só podem vir em boa hora. De facto, e depois de quase uma década de expansão, o setor sentiu em 2018 algumas dificuldades inesperadas, que resultaram do aumento internacional da concorrência e da deslocação das tendências de consumo para materiais mais amigos do ambiente, recicláveis e passíveis de uma utilização na ótica da chamada economia circular.

Neste quadro, e no final de 2018, o setor do calçado exportou ‘apenas’ 1.904 milhões de euros, o que resultou num decréscimo da ordem dos 2,7% em relação aos mais de 1,96 mil milhões atingidos no final de 2017. A fatia das exportações manteve-se acima dos 95% do total da produção e, segundo a APICCAPS, Portugal vendeu mesmo mais pares de sapatos em 2018 que em 2017 – mas a um preço médio mais baixo, que caiu mais de 4% para 22,59 euros o par.

Segundo a associação do setor, estes novos instrumentos de relançamento do negócio global serão acompanhados pelo reforço de estratégias que, sendo antigas, já demonstraram estar acertadas. Está nessa área a participação nas tradicionais feiras do setor, onde serão aplicados até ao final do ano cerca de 16 milhões de euros para a participação de mais de 190 empresas em eventos internacionais em 15 mercados diferentes.

Bem menos tradicional é a cada vez mais óbvia necessidade de as empresas que compõem o setor ganharem dimensão, para poderem competir internacionalmente em pé de igualdade com os seus parceiros globais. Como setor tradicional que é, os empresários do calçado tendem a olhar com reserva qualquer movimentação no sentido de fusões ou, mais prosaicamente, de investimento conjunto em projetos que permitam diluição de custos e de riscos. O mesmo se passa, aliás, com a entrada de capitais alheiros nas empresas – sejam oriundos de ‘private equities’, seja por via da abertura do capital ao mercado.

Artigo publicado na edição nº 1986, de 26 de abril, do Jornal Económico

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