O país vai a banhos, mas em que clima social e político? As eleições são dentro de três meses e Costa, o primeiro-ministro (PM), está preocupado mas não assume e o centro-direita tem dois partidos que se auto consomem.

Vamos aos factos. Numa semana assistimos a uma entrevista dos ministros Centeno e Marta Temido ao “Público”, enquanto os ministros e o PM vão para o terreno numa operação de propaganda política sob o lema #cumprimos. Entretanto, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e Habitação, esteve na Grande Entrevista da RTP, onde garantiu a saúde da geringonça e assumiu o papel de coordenador das outras esquerdas, chamando a si o futuro diálogo com a esquerda. Esta – segundo vimos pelo debate parlamentar – quer estar no poder mas receia ficar “enrolada” na teia de interesses e vai mantendo o confronto fictício.

Registaram-se dissonâncias por causa do SNS, mas isso não irá impedir um entendimento. Pelo meio tivemos um claro confronto dentro da estrutura do PS sobre quem tem o melhor projeto de Renda Acessível, o Governo ou a Câmara de Lisboa. Já estamos a ver que por detrás de tudo está a futura sucessão para a era pós-Costa, sendo um dos candidatos da edilidade de Lisboa e outro das Infraestruturas. Mas adiante.

Temos o Governo na estrada no verão, dependente do crescimento da zona euro, que não será famoso, de situações importadas como a “bolha” das renováveis, ou ainda da novela de Tancos, na qual um ex-ministro foi constituído arguido com as audiências de julgamento marcadas para setembro, em cima do período eleitoral. Isto é preocupante. Costa não o assume, mas é isso que justifica a maior operação de propaganda política dos últimos anos.

Do outro lado temos um centro-direita com dois partidos que se auto consomem. O PSD tem Rui que continua a não impor um discurso de oposição forte e, apesar de ter estado bem nas propostas em matéria fiscal, com redução generalizada de impostos, o que surte bom efeito junto do eleitorado, em termos internos não consegue segurar a direção.

Castro e Almeida, o único membro da direção que esteve no governo de Passos Coelho, saiu. E tem focos de oposição interna com Miguel Morgado e o movimento 5.7 (com uma reunião na semana passada, que contou com a presença de Passos Coelho); Pedro Duarte com o movimento X; Miguel Pinto Luz a fazer várias pontes com o aparelho; Luís Montenegro a estudar em França o quer aplicar mais tarde em Portugal; e Carlos Moedas de regresso a Lisboa e a ser disputado por grandes fundações.

No CDS, o descontentamento existe e é fruto do menor mediatismo de Cristas vs. Portas. Nos bastidores fala-se em sucessores e nomes como Adolfo Mesquita Nunes, João Almeida, Luis Pedro Mota Soares ou Francisco Rodrigues dos Santos, da JP. O centro-direita tem ainda a tarefa mais complicada quando vê que novos partidos como o Aliança, Iniciativa Liberal e Chega não chegam ao eleitorado.

É neste cenário que Costa, com boa comunicação social, tenta ganhar as eleições sozinho. Caso isso não aconteça, lá estará Pedro Nuno Santos para trazer o PC e o Bloco à governação.