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Camas ocupadas com internamentos sociais aumentam 8%

Barómetro alerta para a elevada espera por respostas para admissão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI). Mas também para o custo anual dos internamentos sociais para o Estado: este ano pode ultrapassar os 288 milhões de euros.
SNS
16 Abril 2025, 09h50

As camas ocupadas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) devido a internamentos sociais aumentou 8% no último ano. De acordo com a 9.ª  Edição do Barómetro dos Internamentos Sociais (BIS), em março deste ano, os hospitais públicos tinham internadas 2.342 utentes nesta situação, mais 178 casos do que em período homólogo de 2024. O estudo da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), realizado em parceria com a EY Portugal mostra, por outro lado, que o tempo médios destes internamentos diminuiu 10%, registando-se uma média de 157 dias, cerca de cinco meses.

O barómetro contou com a participação de 41 hospitais (96% do SNS) e concluiu que em março deste ano, os internamentos sociais (também designados por internamentos inapropriados) representavam 11,7% do total de internamentos nos hospitais públicos, um amento de 0,6% percentuais em relação aos dados do ano anterior. O que aumenta em paralelo é o custo anual para o Estado destes internamentos, que pode agora ultrapassar os 288 milhões de euros, mais 28 milhões do que no barómetro anterior. Só em março de 2025, refere o barómetro que é esta quarta-feira apresentado, os custos ultrapassavam os 94 milhões de euros para o Estado, quando em março de 2024 se fixavam em 68 milhões.

Outro dos dados revelados pelo barómetro é a concentração destes internamentos em duas regiões do país, Lisboa e Vale do Tejo e do Norte, representando 80% do total das situações em que os doentes permanecem em ambiente hospitalar sem razão de saúde que o justifique.

A monitorização dos internamentos sociais revela também que metade dos episódios e dos dias registados têm origem no serviço de Medicina Interna e que os doentes do sexo masculino são os que mais se encontram nesta situação (57% dos episódios). Sem surpresa, os idosos,  pessoas com mais de 65 anos, continuam a registar não só o maior número de internamentos inapropriados (74%), como também ficam mais dias internados, após alta médica.

Espera por respostas em lares e cuidados continuados 

Os dados do 9.º BIS, que conta com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS), revelam ainda que houve um total de 367.498 dias de internamentos inapropriados. Apesar de o número ainda ser expressivo, representa uma redução de 3% face à edição do ano anterior, sublinha o barómetro, alertando para uma questão subjacente: a elevada espera por respostas para admissão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI).

De acordo com o barómetro, a falta de resposta da RNCCI continua a representar o principal motivo do número de internamentos sociais (38%, abaixo dos 44% da edição anterior). É a principal causa do número de internamentos inapropriados em quase todas as regiões, sendo que no Centro representa 76% dos internamentos, seguindo-se o Alentejo com 46% e Algarve com 41%. No que toca à falta de resposta por parte das ERPI, que representa 29% dos internamentos sociais em todo o país, esta tem maior tem maior impacto em Lisboa e Vale do Tejo, registando 32%.

Xavier Barreto, presidente da APAH, alerta para o impacto direto dos internamentos sociais na qualidade dos cuidados de saúde prestados e aponta para o que entende ser reflexo da “ineficiência do sistema”. Este responsável apela a que sejam tomadas medidas para “garantir uma vida digna aos utentes do SNS” e “devolver a capacidade assistencial aos hospitais”:  “É urgente reforçar a resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados e das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, através de soluções articuladas entre entidades no setor da Saúde, da Segurança Social e do Setor Social. Mas é também importante reforçar a capacitação das famílias, incluindo com a valorização do papel do cuidador informal.”

Miguel Amado, Partner, Government and Public Sector Leader da EY Portugal, por sua vez, considera ser “essencial continuar a monitorizar os internamentos sociais para assegurar a minimização de um fenómeno que já dura há demasiado tempo”.  “Além do aumento da disponibilidade de vagas e da melhor articulação entre entidades, é necessário implementar modelos preditivos que identifiquem utentes em risco de internamento prolongado, de forma a garantir um direcionamento eficaz e apropriado. Complementarmente, é crucial que a legislação atenda, com agilidade, às necessidades atuais da população”, sublinha, aludindo à   portaria 38-A/2023, de 2 de fevereiro, que confere alternativas aos internamentos sociais.

Em todo o país, existem 21 instituições com alternativas, sendo que no dia 19 de março estavam 914 doentes em vagas contratualizadas, e 1.050 tinham sido integrados no âmbito da aplicação da referida portaria, realça ainda o comunicado enviado às redações.

 

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