Carlos Barroca é atualmente vice-presidente de Operações da NBA Ásia e em três anos, envolveu 24 milhões de crianças nos programas desenvolvidos pela,NBA. Em entrevista no programa “Jogo Económico”, da plataforma JE TV, abordou o modelo de internacionalização da NBA e como a Liga portuguesa de futebol pode adotar um modelo que lhe permita conquistar fãs fora de fronteiras.
Com o mercado interno saturado, é unânime que a Liga portuguesa deve iniciar um processo de internacionalização, aproveitando o facto de Portugal ter formado alguns dos melhores talentos mundiais e de ainda ostentar o título de campeão da Europa.
Há muito que a NBA começou esse processo e hoje são muitos os países que recebem as melhores partidas de basquetebol do mundo. Junte-se a isso a transmissão de jogos para mais de 200 países e em mais de 40 idiomas diferentes e a contratação de atletas oriundos de 40 países.
O que é que a Liga portuguesa de futebol tem a aprender com a NBA para se internacionalizar e ser vista noutros países?
Há muita coisa a aprender, independentemente daquilo que são os recursos financeiros e as geografias. Antes de falar de uma Liga ou de outra, creio que seria interessante falar dos conceitos. Hoje vivemos numa aldeia global e esta questão da pandemia, por exemplo, obriga-nos a falar uns com os outros de forma remota. Neste momento, estamos a aprender uma série de lições de como fazer as coisas de outra maneira. Do ponto de vista económico, existem duas formas de abordar o desporto: na prática de uma modalidade e o desporto negócio. Na NBA, dizemos: “basketball is our business, our business is basketball” (o basquetebol é o nosso negócio e o nosso negócio é o basquetebol). O que tem que existir aqui é visão da construção do edifício, seja ele qual for e seja qual for a dimensão.
A NBA tem essa capacidade, essa visão.
É comum dizer-se que a NBA pode fazer essas coisas porque tem uma capacidade financeira enorme mas a verdade é que nem sempre foi assim. Se recuarmos um pouco na história da NBA, quando o David Stern era vice-presidente da Liga e começou a ganhar cada vez mais presença na promoção da competição, os jogadores e as equipas da NBA faziam promoções dos jogos nos parques de estacionamento dos supermercados. Isto não foi há 400 anos, foi se calhar há 40 anos. Há passos que têm que ser dados e temos que perceber onde que tudo nasce: nasce nas pessoas, na capacidade das pessoas olharem e imaginarem onde é que querem estar dentro de cinco ou dez anos e o que é que é preciso fazer para lá chegar. E tanto faz ter um orçamento de dez milhões, como ter uma verba de 1 milhão ou 100 mil euros: pode-se alocar parte desse orçamento à visão do que se quer atingir.
E como é que se passa da visão para a concretização do objetivo, concretamente na Ásia onde a NBA está a apostar?
O meu trabalho, por exemplo, é visão. Nos EUA e na Europa, a NBA dificilmente pode crescer mais em termos de angariação de fãs. Então, onde é que a NBA tem que criar mais fãs? Em sítios onde existe população, se possível população jovem, com capacidade financeira. E por quê a Ásia? Porque este continente tem todas essas características: tem países novos com muita juventude, com economias emergentes, países com muita energia. E portanto, o que é que se faz para chegar a essa gente? Criam-se programas dos quais alguns jovens podem ser jogadores de basquetebol no futuro, outros vão ser treinadores, outros vão apenas passar por esses programas e ser influenciados pela cultura do basquetebol. Nos três anos que levo no cargo de vice-presidente de Operações na Ásia, já desenvolvemos programas que envolveram 24 milhões de miúdos… se 20% deles vierem a ser consumidores de NBA, todo o dinheiro que estamos a investir valeu a pena. Quando somos fãs de uma modalidade, consumimos o produto de várias formas. A NBA é transmitida em 215 países, é falada em 46 idiomas e tem jogadores de mais de 40 países diferentes e vai criando as suas raízes na educação das pessoas. Sem fazer disto um plano de vendas, isto acaba por ser aquilo que é: ter a visão, criar os recursos e caminhar para a implementação de um processo que pode ser desenvolvido de várias formas: presencial ou de forma remota.
E é na visão que tudo começa.
É aqui que começa tudo. Quem tem a visão de olhar para a ponta dos pés, nunca vai ver onde é que está cinco passos à frente. E quem tem só a visão de olhar para cinco passos à frente, nunca terá a visão de levantar a cabeça e perceber o potencial que tem. Quando se diz que temos uma Seleção campeão da Europa, com alguns dos melhores jogadores e treinadores do mundo, se calhar falta fazer um embrulho ao produto que temos e saber colocá-lo de maneira a que seja apreciado, desejado e comprado por alguém.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com