O ex-presidente do Grupo Itaú Carlos Câmara Pestana morreu este sábado na sua casa do Estoril, aos 93 anos. O velório realiza-se a partir das 18h deste domingo, na Igreja de Santo António do Estoril, com missa agendada para segunda-feira às 14h30, seguindo-se a cerimónia de cremação.
Advogado de formação, Câmara Pestana liderou o antigo Banco Português do Atlântico até julho de 1974. Foi aí que a sua vida se cruzou com a política, numa altura em que o empresário António Champalimaud pretendia passar a ser um dos grandes banqueiros do país. Depois de comprar o Banco Pinto & Sotto Mayor (BPSM), Champalimaud tentou comprar também o Banco Português do Atlântico (BPA), uma espécie de ‘outsider’ face à hegemonia que os banqueiros lisboetas tentavam manter no setor. Champalimaud tentou várias vezes conseguir essa compra e de uma delas chegou mesmo a pagar uma tranche – parece que de um milhão de contos, o que, em 1973, era muito dinheiro.
Mas Champalimaud, que não era propriamente um dos banqueiros do regime – que apreciava muito pouco as suas iniciativas fora do normal funcionamento do Estado Novo – teve de enfrentar a oposição de Marcelo Caetano à venda. O problema é que essa venda já tinha sido efetuada, pelo menos em parte. A solução foi salomónica: Marcelo aceitou, por sugestão de Câmara Pestana, que se produzisse um decreto que impedia uma instituição bancária de comprar outra sem a aprovação do governo. Com um pormenor: o decreto tinha efeitos retroativos. E o BPA – que acabaria submergido no grupo BCP – nunca chegou a ser de António Champalimaud.
No Brasil, Câmara Pestana, após 15 anos a desempenhar vários cargos no Banco Itaú, torna-se em 1990 presidente executivo, função que deixa em 1994, para assumir a presidência da holding do grupo, a Itaúsa. Em 2008, após a morte de Olavo Setúbal, acionista fundador, assume a presidência não executiva do Itaú. Desempenhou ainda cargos não executivos na administração do BPI, em representação do Banco Itaú, que chegou a deter uma posição de referência no banco. Aliás, Artur Santos Silva conheceu Câmara Pestana precisamente no BPA, instituição por onde ambos passaram.
Próximo do Opus Dei, Câmara Pestana acabaria por regressar a Portugal, onde preferiu sempre manter uma postura ‘low profile’ – bem ao contrário de outros ‘regressados’.
Câmara Pestana nasceu em 27 de julho de 1931, em Paço de Arcos, Portugal. Formou-se em Direito, em 1955, pela Universidade Clássica de Lisboa. Mudou-se para o Brasil em julho de 1975, quando desembarcou no Rio de Janeiro. Para o Itaú, “Câmara Pestana foi mais do que um executivo brilhante: foi um verdadeiro mentor de gerações, um arquiteto de valores e um exemplo de liderança ética, estratégica e humana”, refere nota do banco.
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