Há uns meses teve a ver com o sangue. Os jornalistas, radicais de uma seita a que em tempos pertenceu, descobriram que toda a família mais próxima – mulher, filho, nora e irmão – trabalha para o Estado.
Ora, não há nada de ilegal nisso.
A mulher foi escolhida, embora sem concurso, pelo Governo regional; o filho foi eleito pelo PS regional; a nora foi nomeada por uma secretária do governo regional e o irmão, também ex-jornalista, há muito que colabora, como assessor de comunicação, com diversas figuras do aparelho socialista, à vez no governo ou no Parlamento.
Entre competência e oportunidade, nomeação e eleição política, simplesmente acontece.
Agora, pelo ‘Expresso’, ficamos a saber que Carlos César cobra a dobrar, entre os subsídios de deslocação e de insularidade, como pelo menos mais outros sete deputados (cinco do PS, um do PSD e outro do BE), as viagens que faz entre o Continente e a ilha onde tem residência, neste caso nos Açores.
De novo, e apesar da maledicência, não há nada de ilegal.
Como ele se habituou a dizer, cumpre a lei “em vigor”. Face aos regulamentos da Assembleia da República, pode fazer-se. (Até agora! – pois, felizmente, é de crer que depois desta notícia, se houver um mínimo de bom senso, a coisa passe em breve a ser incompatível, como defendem juristas já ouvidos).
Estamos perante um caso paradigmático, que nos remete para a má imagem que os cidadãos têm hoje da classe política. Seria apenas mais um, não se dera o caso de Carlos César ser presidente e líder parlamentar do PS, além de conselheiro de Estado. Isto faz dele, quer goste ou não goste, um mau exemplo em vigor, sempre nos limites daquilo que a lei permite e que a ética republicana com certeza condena.