[weglot_switcher]

Carlos Moedas: o ex-comissário europeu que quer ‘tirar’ Lisboa a Fernando Medina

Entrou tarde na política, mas chegou rapidamente ao Governo. Filho de um comunista convicto, fez carreira na área financeira e de investimentos. Destacou-se por coordenar a estrutura de ligação com a ‘troika’, mas foi o cargo de comissário europeu que lhe veio dar ainda mais notoriedade. Carlos Moedas é a escolha do PSD/CDS para a disputar a Câmara de Lisboa nas autárquicas deste ano.
  • Cristina Bernardo
26 Fevereiro 2021, 12h19

Aos 50 anos, o ex-comissário europeu e atual administrador da Fundação Gulbenkian Carlos Moedas tem um novo desafio pela frente: conquistar a Câmara de Lisboa ao socialista Fernando Medina, pela coligação PSD/CDS. Discreto mas com um percurso político ímpar e provas dadas no mundo empresarial, Carlos Moedas é, nas palavras do líder do PSD, uma “candidatura forte” para a maior autarquia do país.

Nasceu em Beja, a 10 de agosto de 1970, filho de um comunista ferrenho e co-fundador do jornal Diário do Alentejo, e de uma educadora de infância. Cedo percebeu que não se revia nos ideais do pai e que havia na antiga União Soviética (atual Rússia) “qualquer coisa que não batia certo”. Mas teve ‘carta branca’ para definir o seu próprio caminho e o pai nunca o pressionou a ser igual a ele ou a pensar como ele.

Mas a entrada na política deu-se tarde. Enquanto estudante, recusou integrar qualquer movimento político. Em entrevista ao jornal “Sol”, em maio de 2018, contou que, como fisicamente não se podia “diferenciar”, apostou em estudar e rapidamente se tornou um dos melhores alunos. Seguindo aquilo que os bons alunos faziam, tinha duas escolhas: ir para medicina ou engenharia. Acabou por riscar medicina da lista, depois de ter desmaiado ao ver um homem “cheio de sangue” ao lado de casa.

Foi então para Lisboa, onde tirou o curso de Engenharia Civil no Instituto Técnico e, no último ano de curso, em 1993, convenceu os pais a fazer Erasmus, na École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris. Essa experiência mudou-lhe a vida, tal como tem referido em várias entrevistas, e serviu para que abrisse horizontes. Ficou a viver em França depois do curso e foi gestor de projetos para o grupo Suez entre 1993 e 1998.

Em França, conheceu Céline Dora Judith Abecassis, com quem casou em 2000 e com quem tem três filhos. Ainda em 2000, foi para os Estados Unidos, onde tirou o MBA na Harvard Business School, e depois para o Reino Unido, onde começou a trabalhar como estagiário na Goldman Sachs, no setor de fusões e aquisições, e esteve ainda na Deutsche Bank para montar a Eurohypo Investment Bank.

Voltou a Portugal, em 2004 para liderou a consultora imobiliária Aguirre Newman, que tinha uma grande influência no mercado português. Em novembro de 2008, criou a empresa de gestão de investimentos Crimson Investment Management e foi durante o mandato de Manuel Ferreira Leite, que se deu a entrada de Carlos Moedas no PSD, pela mão do social-democrata António Borges, com quem trabalhou na Goldman Sachs.

Foi convidado para coordenador do sector económico do gabinete de estudos do PSD e foi nessa altura que começou a ganhar peso dentro do partido e mediatismo. A distrital de Beja do PSD escolheu-o como cabeça de lista nas eleições de 2011, após a queda do segundo Governo de José Sócrates e aquando da necessidade de uma intervenção externa e de um programa de ajustamento, que trouxe a troika a Portugal.

Com a eleição de Pedro Passos Coelho para primeiro-ministro, assume as funções de secretário de Estado Adjunto (apesar de ter apoiado Paulo Rangel nas eleições internas do PSD) e foi encarregado de coordenar a estrutura de ligação com a troika (União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu), a ESAME. Os elogios à troika valeram-lhe duras críticas e geraram algum mal-estar dentro do próprio Governo, sobretudo com o então ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares.

Em agosto de 2014, Pedro Passos Coelho propôs Carlos Moedas como representante de Portugal na Comissão Europeia, onde tomou posse na Comissão Juncker como comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. Distinguiu-se por ter gerindo um dos maiores programas de ciência e inovação do mundo, no valor de 77 mil milhões de euros, e ter sido o arquiteto do programa Horizonte Europa de 100 mil milhões de euros que entrará em vigor este ano.

Deixou a Comissão Europeia em 2018 para ir integrar o conselho de Administração da Fundação Calouste de Gulbenkian, em janeiro de 2019, e tem procurado fazer da educação e inovação uma ferramenta para combater as desigualdades. Em entrevista ao Jornal Económico, em agosto de 2019, defendeu que “os projetos portugueses elegíveis no âmbito do Programa Horizonte 2020 devem ir buscar cerca de mil milhões de euros, o que é o dobro do que obtiveram anteriormente em apoios à investigação e inovação”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.