Senhor Dólar, é verdade que teve em 2017 um ano particularmente mau – principalmente se emparelhado com o euro – e que por enquanto não temos sinais de que essa tendência se possa inverter. A generalidade do mercado – sendo algo enviesado pelo seu desempenho recente – também parece estar a desenvolver uma visão negativa, mais ou menos consensual, relativamente às suas perspetivas para o resto do ano.
Dentro dos pessimistas, uns apontam para os défices comerciais, outros para as estimativas de derrapagens orçamentais com esta Administração e outros falam ainda da possibilidade de uma recessão chegar mais cedo aos EUA do que a outras regiões. São realmente fatores passíveis de justificar um posicionamento contra si, mas por momentos parece que os pessimistas se esquecem de outros tantos fatores que fazem de si um Senhor.
Você continua a ser de longe, dentro do leque das entidades sem risco de crédito, o que oferece taxas de juro mais altas, tanto no segmento soberano como corporativo. Continua a ter a economia que mais capital atrai, não só devido às taxas de juro decentes mas principalmente devido à vantagem competitiva que exibe no empreendedorismo e na inovação tecnológica. Continua a ter o sistema financeiro mais robusto e dinâmico, independentemente de ter cozinhado a crise financeira de 2008. E por estranho que pareça, debaixo da actual Administração, continua a ter um tecido político relativamente bem alinhado em prol dos interesses económicos do país.
Por outro lado, 2017 foi um ano particularmente bom para os seus principais comparáveis.
Na Europa, tivemos um ano recheado de surpresas positivas. Os vários focos de risco político (eleições na Holanda, em França e na Alemanha) acabaram por ter desfechos benignos. A economia finalmente acelerou – para alívio da região – e o sistema financeiro de alguma maneira afastou os seus problemas.
Nos mercados emergentes, o preço das matérias-primas ajudou bastante e, na China, a eficiência do Governo em implementar controlos de capitais também surpreendeu. Não quer dizer que 2017 tenha sido um ano fundamentalmente mau para si, Senhor Dólar, o que aconteceu foi que foi um ano bastante bom para os seus principais colegas, com quem faz parelha cambial.
Por mau que tenha sido o seu 2017, e a entrada em 2018, venho lembrar-lhe que existe quem não se esquece das suas virtudes. Os meus melhores cumprimentos.