Um projeto que passou pelas agruras da pandemia, que vai singrando pela mão do jovem casal formado pela portuguesa Vera Rente e pelo ‘chef’ de raízes andaluzas – e também asturianas – Javier Mendéz. Chegamos como se entrássemos numa aldeia, apesar do excesso automóvel, e deparámo-nos com uma vivenda toda acolhedora. Também há uma esplanada com mesas cá fora, assim o clima o permita. Lá dentro, na sala, é como se estivéssemos em casa. E aqui manda Vera, num espaço acolhedor, elegante, sofisticado, mas descontraído. A servir as ‘invenções’ arejadas do ‘chef’, plenas de técnica, que nos apresenta na mesa visões que nos parecem simples, mas recheadas de uma complexidade, de uma inspiração e de uma sabedoria que só o tempo e a experiência permitem. Porque, na verdade, nada disto será simples.
Vamos por partes. Experimentámos o menu de degustação mais longo, com dez propostas (o mais curto com sete opções). Antes disso, pão alentejano da Gleba, com manteiga fumada. Depois, sim, ‘ajo blanco’, uma sopa fria de amêndoa, com trocinhos descascados de gamba rosada da costa portuguesa e uvas, muito frescas, seccionadas e depeladas. O marisco firme na carne, permitindo o contraste com os restantes sabores e temperaturas.
Será uma constante deste menu. Seguimos para outra bela combinação do ‘chef’, ostra da Ria Formosa com pedacinhos de maçã verde, com sumos misturados dos dois ingredientes, como se fosse um ‘cocktail’ sem álcool, aliando o sal do marinho e o adocicado/acidulado da fruta. Mais uma bela parceria, antecedendo o lombo de sardinha fumada com salada iódica, crocante de alga, ou alface do mar, creme (divinal) de navalheira (ou lingueirão), espuma gelada de manjericão e alho negro. Mais uma combinação espetacular de sabores e não só. Adiante, uma ‘ensaladilla’, uma espécie de ‘tapa’ espanhola, que inclui batata e maionese, costumando ser bastante cremosa. Só que aqui, no Casa Davolta, mantendo o império do cremoso, a ‘ensaladilla’ é de santola, abacate e ‘chipotle’, com o picante a acentuar a maresia do bicho. Tudo a acompanhar com uma versão de um tipo de pão andaluz, o ‘regaña’, em tiras estaladiças.
Seguimos com um prato de acelgas, presunto e biscoito de avelã queimado e café. Mais uma vez, os sabores bem juntos, mas permitindo o seu saboreio diferenciado. E terminámos este capítulo memorável com outra gratificante surpresa: o lavagante azul, espinafres e cogumelos.
Nos pratos principais, dourada selvagem na brasa, com mostarda silvestre (com a fabulosa erva capuchinha) e uma misteriosa espuma gelada branca… de tomate. Nas carnes, pombo, também na brasa, puré de favas e uma conchinha de ‘mole’, uma receita de origem mexicana à base de cacau, mas que incorpora cerca de 50 ingredientes e que faz toda a diferença. No bom sentido gustativo, claro.
É costume dizer-se que a cereja é o topo do bolo – e da refeição – e isso confirmou-se. Para sobremesa de estalo, sem destoar de todo o prévio menu, desfrutámos de uma salada de fruta da dita cereja e de amêndoa amarga._Mais uma proposta surpreendente e agradável: um brioche, com cacau, pistáchio, ‘ganache’ de chocolate e espuma de favas e de menta. E há toda uma outra ementa desafiante para descobrir. Vinhos a preceito, a maioria nacionais, a fazer jus às boas maridagens entre prato e copo.
Bravo!, apetece dizer a este casal que fez do Casa Davolta um projeto de vida, em que o respeito pelo produto não precizsa de ser apregoado e a inovação, misturando elementares da cozinha lusitana com um toque andaluz, resultam numa alternativa apetecível, criativa e única. Aviso à navegação: o chef Javier Mendéz está habituado a trabalhar em casas estreladas pela Michelin…
Ficha técnica
Restaurante: Casa Davolta
Morada: Areia, Rua de São José, nº 353, 2750-072, Cascais
Horário: De 3ª a sábado, almoços das 12h45m às 14h30m, e Jantares das 19h às 21h30m
Reservas: Tlfs + 351 21 116 48 92 e + 351 96 104 82 98; Mail: restaurante@casadavolta.pt
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