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Caso Signal: Trump mantém confiança em toda a sua equipa

Um caso sério de descuido? Uma falha clamorosa da segurança interna? Ninguém sabe a certo, mas o caso que envolve a presença de um jornalista num grupo que debatia uma ação armada norte-americana no Iémen deixou a administração Trump exposta – que mais não fosse ao ridículo.
epa11839122 President-elect Donald Trump (R) and Vice President-elect JD Vance (L) sit before the U.S. Capitol for the inauguration of US President-elect Donald Trump in Washington, DC, USA, 20 January 2025. Trump will be sworn in for a second term as president of the United States on 20 January. Trump, who defeated Harris in the 2024 general election, is being sworn in on 20 January 2025 as the 47th president of the United States, though the planned outdoor ceremonies and events have been cancelled due to a forecast of extreme cold temperatures. EPA/JULIA DEMAREE NIKHINSON / POOL
27 Março 2025, 07h00

Altos funcionários da administração Trump, incluindo o secretário de Defesa Pete Hegseth e o vice-presidente JD Vance, discutiram os detalhes de uma operação altamente sensível para bombardear alvos houthis no Iémen, com Jeffrey Goldberg, o editor-chefe da revista The Atlantic, incluído sem que ninguém, nem o próprio, soubesse como isso sucedeu. Mas Donald Trump, que disse que a publicação devia desaparecer, mantém a confiança em todos os envolvidos. Para além de Vance e de Hegseth, participaram no grupo o secretário de Estado Marco Rubio, a diretora de Inteligência Nacional Tulsi Gabbard, o secretário do Tesouro Scott Bessent, o diretor da CIA John Ratcliffe e o enviado de Trump para o Oriente Médio e Ucrânia, Steve Witkoff.

Goldberg publicou um artigo detalhando como foi adicionado ao chat de 18 pessoas da rede social Signal, uma aplicação de mensagens criptografadas, no início deste mês por uma conta que partilhava o nome do conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Mike Waltz. O Conselho de Segurança Nacional declarou que as mensagens parecem ser “autênticas” – aliás, são tão autênticas que o ataque acabou mesmo por suceder na exata forma que foi relatada no chat. “Neste momento, o tópico de mensagens que foi relatado parece ser autêntico, e estamos a rever como o número foi adicionado à cadeia”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. “O sucesso da operação Houthi demonstra que não houve ameaças aos nossos membros do serviço ou à segurança nacional”, refere ainda o Conselho.

A primeira reação do presidente Trump foi afirmar que não conhecia o assunto. “Não sei nada sobre isso”, respondeu. “Não sou grande fã da The Atlantic. Para mim, é uma revista que está a sair do mercado. Acho que não é uma grande revista. Mas não sei nada sobre isso.” Mas, numa declaração posterior, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o presidente “continua a ter a maior confiança na sua equipa de segurança nacional, incluindo o Conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz”. Trump disse à NBC News na terça-feira que Waltz “aprendeu uma lição e é um bom homem”.

Mas o problema subjacente ao assunto tem outro ponto que não é a segurança nacional. É que, algures durante a conversa, JD Vance parece divergir em relação a Trump no que tem a ver com os houthis: “Não tenho a certeza se o presidente está ciente de quão inconsistente isto [o ataque aos houthis] é com a sua mensagem sobre a Europa. Há um risco adicional de vermos um pico moderado a severo nos preços do petróleo”, escreveu. “Estou disposto a apoiar o consenso da equipa e manter essas preocupações para mim. Mas há um forte argumento para adiar isto por um mês.” E Hegseth respondeu: “Entendo as suas preocupações. Considerações importantes, a maioria das quais é difícil saber como se desenrolam (economia, paz na Ucrânia, Gaza, etc.). Acho que a mensagem será difícil, não importa o que aconteça — ninguém sabe quem são os houthis — e é por isso que precisaríamos de nos manter focados em: 1) Biden falhou e 2) Irão a financiar.”

O ataque aconteceu mesmo e Trump postou uma mensagem no Truth Social em que o anunciava como tendo sido um êxito. “Ordenei que o Exército dos Estados Unidos lance uma ação militar decisiva e poderosa contra os terroristas houthi no Iémen. Eles travaram uma campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo contra navios, aeronaves e drones americanos e de outros países”, escreveu. “O ataque houthi a embarcações americanas não será tolerado. Usaremos força letal esmagadora até atingirmos o nosso objetivo.”

Evidentemente, os democratas do congresso querem uma investigação sobre aquilo que dizem ser uma grave falha de segurança nacional. Os congressistas exigem uma investigação sobre o motivo pelo qual informações altamente sensíveis estavam a ser discutidas numa aplicação de mensagens comercialmente disponível, em vez de serem usados os canais governamentais seguros – que toda a administração conhece e têm ao dispor. O senador democrata Jack Reed, membro do Comité de Serviços Armados do Senado, disse que o episódio, se for verdade, “representa uma das falhas mais flagrantes de segurança operacional e bom senso que já vi”. “As operações militares precisam de ser conduzidas com a máxima discrição, usando linhas de comunicação aprovadas e seguras, porque estão em jogo vidas americanas. O descuido demonstrado pelo gabinete do presidente Trump é impressionante e perigoso”, disse. “Procurarei respostas da administração imediatamente.”

Mas os republicanos estão à defesa e tentam desvalorizar o assunto. O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, defendeu a forma como o governo lidou com o incidente e disse que não achava que Hegseth ou Waltz deveriam ser responsabilizados. “A administração está a lidar com o que aconteceu.” O deputado republicano Don Bacon disse que “todos nós já enviamos uma mensagem de texto para a pessoa errada, mas o maior problema é que eles não estão a usar telefones seguros para discutir planos de guerra.”

 

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