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Cavaco Silva diz que China não é “parceiro confiável” da UE

O ex-Presidente da República participou na conferência “Portugal´s Position in a Changing Global Order”, organizada pelo FT, e falou sobre o papel de Portugal no reforço do núcleo duro da UE.
Cavaco Silva
12 Setembro 2025, 12h30

No quadro da atual desordem internacional, a posição de Portugal não deve ser vista de forma isolada e o País deve assumir uma posição ativa na defesa de um conjunto de opções estratégicas visando reforçar o poder da União Europeia, de que é membro há 40 anos e membro fundador do seu núcleo duro, a zona euro. “Nos novos tempos, a competitividade deve ser vista não só do ponto de vista económico, mas também pela sua relevância política, como manifestação de poder”, disse Cavaco Silva, antigo presidente da República, e keynote speaker na conferência ‘Portugal’s Position in a Changing Global Order’, que decorreu ontem no Auditório Jerónimo Martins da Nova School of Business and Economics. Esta é uma iniciativa do “Financial Times” em parceria com a Tabaqueira.
Nesse sentido, o antigo presidente da República afirmou que é urgente completar a arquitetura da União Económica e Monetária, em particular aprofundar e integrar os mercados de capitais dos Estados-membros, de modo a aumentar a liquidez de uma ampla oferta de ativos financeiros sem risco.

“É uma medida decisiva para reduzir os custos e para diversificar as fontes de financiamento do investimento produtivo das empresas, aumentar a oferta de capital de risco, travar a emigração da poupança das famílias europeias para os Estados Unidos da América, e para reforçar o papel do Euro como moeda mundial”, acrescentou.

Cavaco Silva defende que o Banco Central Europeu não deve atrasar-se na sua decisão sobre os criptoativos, o euro digital, e sobre a criação ou não de stablecoins ligadas ao euro. O antigo chefe de Estado sublinha ainda que Portugal deve defender no quadro europeu, a expansão do investimento em inovação, o alargamento da União aos países dos Balcãs ocidentais e o reforço das relações entre a União Europeia e África, a América Latina e os países da orla mediterrânica.

O acordo do comércio “entre a União Europeia e os Estados Unidos celebrado num clube de golfe na Escócia”, no passado mês de julho, não será o fim das tensões comerciais e políticas com a Administração norte-americana. “Apesar de ser um acordo favorável aos Estados Unidos, com o presidente Trump nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Para uma pequena economia aberta ao exterior, como é a portuguesa, as guerras comerciais são negativas”, afirmou Cavaco Silva.

O ex-chefe do Estado defendeu ainda que a China, não pode deixar de ocupar uma posição relevante nas relações externas da União. “No campo político, a União não deve tomar a China como um parceiro confiável, na medida em que apoia a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin e as atrocidades por ela praticadas”, concluiu Cavaco Silva.

PIB da zona euro preocupa
Nesta conferência, o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, foi o orador de encerramento. O governante mostrou-se “muito preocupado com a estagnação da zona euro”, lembrando a Alemanha e a França, que estão entre os principais parceiros económicos de Portugal,
“O nosso crescimento tem sido de 2% ou superior a 2%, o que ainda está abaixo do objetivo, da ambição do Governo, mas continua a ser bastante superior à média da zona euro”, disse o ministro. Miranda Sarmento ressalvou ainda que “a economia portuguesa tem demonstrado uma enorme resiliência e capacidade de adaptação, especialmente desde a pandemia” e mostrou-se confiante de que conseguirá resistir aos choques externos.
Sobre o impacto das tarifas e das guerras comerciais afirmou esperar “que esse capítulo esteja encerrado e a incerteza tenha acabado.

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