A CCA está a celebrar os 70 anos e prepara-se para criar novas parcerias internacionais, depois de se ter desintegrado da rede Ontier por “discordância sobre a visão estratégica”, disse Carlos Barbosa da Cruz, ao Jornal Económico. Em entrevista, o advogado recorda o percurso do pai, Fernando Cruz, de quem herdou a paixão pela arte e com quem percorria os corredores do Museu do Prado para analisar ao pormenor as obras de Diego Velázquez. Hoje, está de volta à universidade, onde frequenta o mestrado em História da Arte na vertente contemporânea, e quando completar a idade da firma deverá deixar de ser sócio, mas manter-se ligado ao escritório.
Se o seu pai, o fundador, estivesse nesta sala estaria orgulhoso da sociedade agora septuagenária?
Tenho muita dificuldade em falar do meu pai porque tinha com ele uma relação muito chegada. Éramos sócios, companheiros e muito amigos. Quando festejámos os 70 anos achei curioso, e não muito frequente, que no mesmo local e sem a chamada solução de continuidade, se exercesse a mesma atividade durante este período. Não existem exemplos de uma sequência temporal tão dilatada, e isso confere a esta casa uma característica especial. A celebração teve como pressuposto uma homenagem ao trabalho que o meu pai, como advogado, decidiu empreender. Acho que se hoje fosse vivo teria com certeza orgulho no prosseguimento da sua obra e dos seus valores. O meu pai tinha uma ética profissional completamente rigorosa, e eu tenho procurado transmitir esses valores no dia a dia desta sociedade. Acho que a memória dele subsiste.
A CCA foi fundada num contexto social e político-económico distinto. Como foi lançar a primeira pedra?
Em 1949 o meu pai instalou-se neste imóvel e iniciou uma prática individual, como era, na altura, aquilo que se fazia. Os advogados trabalhavam sozinhos, tinham os seus estagiários, mas tudo era centrado na pessoa, no prestígio e na capacidade de trabalho do advogado. Lembro-me que havia pessoas que esperam três e quatro horas na sala para falar com o meu pai, porque estavam muito dependentes do conselho dele, da sua experiência. De 1949 até aos anos 70 foi um escritório centrado na figura do Dr. Fernando Cruz. O meu pai inscreveu-se na Ordem [1942] no Porto, onde viviam os meus avós. Sei que teve um princípio de vida como assistente do delegado do Ministério Público do Tribunal de Trabalho do Porto. Depois, casou com a minha mãe e vieram todos viver para Lisboa, o que teve como resultado a sua instalação aqui. É um assunto que tem uma certa graça, porque, não só se instalaram aqui o meu pai como o pai dele e os meus tios todos. Tinha um tio arquiteto que tinha aqui o seu ateliê, dois fizeram uma sociedade de marcas e patentes chamada J Pereira da Cruz e o escritório de advogados. Caracterizava o espírito de família existente. Estávamos numa época em que o círculo familiar era extremamente intenso. A partir dos anos 70, entrei eu. Tirando alguma vontade em ser treinador de futebol, nunca coloquei a mim mesmo outra questão que não fosse ser advogado.
Conteúdo reservado a assinantes. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com