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Centeno responde a ‘falcões’ do BCE: “Quando chegar o momento, vamos discutir cortes dos juros”

Vários membros do BCE nem querem ouvir falar de cortes neste momento mas Mário Centeno quer abrir a discussão, quando tiver mais dados na sua posse.
16 Janeiro 2024, 11h26

Vários falcões do Banco Central Europeu (BCE) têm vindo a público defender que ainda é muito cedo para falar em cortes das taxas de juro.

Mas Mário Centeno considera que, quando o BCE tiver todos os dados necessários disponíveis, vai ser a altura de falar em cortes. “Quando chegar o momento, vamos discutir cortes dos juros”, disse o governador do Banco de Portugal no Fórum Económico Mundial em Davos, citado pela “Reuters”.

“Se me perguntarem se esse momento já chegou, penso que temos de estar preparados para discutir todos os tópicos e sendo dependentes de dados, significa que temos de ter todos os dados disponíveis”, acrescentou o também membro do Conselho do BCE.

Já o governador finlandês disse que é “melhor esperar mais um pouco, do que fazer uma saída prematura e depois ter de regredir”, segundo Tuomas Valimaki. “Precisamos de mais provas de que estamos no caminho certo”.

Por seu turno, o governador francês mostrou preocupação com a situação no Médio Oriente, mas acredita num corte ainda este ano, segundo François Villeroy de Galhau.

Na segunda-feira, o governador do Banco da Áustria veio a público avisar que não há garantias de que o Banco Central Europeu (BCE) vai cortar nas taxas de juro este ano.

Robert Holzmann, conhecido por ser um dos falcões mais radicais do BCE, alertou que o cenário económico atual pode não permitir a descida dos juros este ano.

“A ameaça geopolítica aumentou porque o que vimos até agora com os Houthis, penso que não é o fim, pode ser o início de algo mais alargado, que vai impactar o Canal do Suez e aumentar os preços”, afirmou o responsável numa entrevista à “Bloomberg” em Davos. “Não devemos descontar cortes nas taxas de juro em 2024”.

Com a inflação na zona euro a recuar para perto da meta de 2% no final de 2023, começam a subir de tom as vozes que pedem cortes nos juros. O mercado desconta seis cortes este ano a partir de abril, com os economistas consultados pela “Bloomberg” a esperar quatro cortes a partir de junho, de 25 pontos cada (ver texto infra).

Conhecido por “arqui-falcão” ou “super falcão”, o responsável está classificado pela “Bloomberg” como um dos quatro falcões mais radicais, embora seja apenas o terceiro mais influente neste lote, e é considerado mesmo como o mais radical pela “Econostream”.

“A partir do momento em que for determinada uma data, desencadearia imediatamente uma dinâmica que não conseguiríamos controlar. E com todo o conhecimento que temos atualmente, não seria honesto fazê-lo não sabemos como a inflação vai desenvolver-se”, afirmou.

“Se os riscos geopolíticos provocarem a subida dos preços do petróleo, os preços da gasolina disparariam, e isto também afetaria um número de indústrias que já foram afetadas. Talvez até a indústria de serviços. Então, uma recessão não seria improvável”, acrescentou.

O BCE prevê que a inflação ‘core’ atinja os 2% no segundo semestre de 2025, com a inflação subjacente a ficar acima desta meta até ao final de 2026.

Por sua vez, o falcão mais influente do BCE – Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, defendeu hoje que é “muito cedo para falar em cortes”, sugerindo que não iria haver cortes até ao verão.

A Alemanha registou uma contração de 0,3% na sua economia no quarto trimestre de 2023, com a mesma percentagem para todo o ano.

BCE deverá cortar os juros quatro vezes este ano, segundo economistas

O BCE deverá cortar as taxas de juro em quatro vezes este ano, segundo um inquérito da “Bloomberg” junto de economistas.

Os cortes deverão ser de 25 pontos base cada devendo arrancar em junho, prosseguindo em setembro, outubro e dezembro, acredita a maioria dos inquiridos.

A taxa de depósito deverá recuar para os 3% no final de 2024, a confirmarem-se estas descidas. Já os mercados estão a descontar seis cortes este ano.

Neste momento, o BCE está a fazer um compasso de espera para ter mais dados sobre a transmissão dos cortes à economia real, com os salários a estarem debaixo de foco dos decisores do BCE.

Os economistas estão mais otimistas em relação ao desenvolvimento dos preços, esperando inflação de 2,3% para este ano (menos 0,3 pontos face à previsão de dezembro).

Todavia, o governador do Banco de Portugal (BdP) avisou na semana passada que os cortes deveriam arrancar antes de maio.

“Não penso que seja preciso esperar até maio para tomar decisões”, disse Mário Centeno, também membro do conselho do BCE, em entrevista ao site “Econostream”.

O pensamento de Mário Centeno contrasta com o pensamento de outros membros do BCE que preferem só tomar uma decisão após receberem mais dados sobre a evolução dos salários ao longo de 2024.

“A decisão de manter as taxas nominais inalteradas neste momento é apropriada e vamos decidir quando cortá-las mais cedo do que pensávamos”, acrescentou.

Sobre os dados dos salários, destacou que não existe indicação de que “efeitos de segunda-ronda nos salários se tenham materializado, ou que venham a materializar-se, ou que os salários vão colocar uma pressão adicional nos preços”.

A “pressão variável para a inflação não são os salários, mas os custos unitários laborais”, defendeu.

Centeno apontou que a inflação elevada foi um “fenómeno temporário” tanto ao nível da inflação ‘core’ como subjacente.

“Os últimos números da inflação dizem-nos duas coisas: um, a redução da inflação vai acontecer mais cedo do que pensávamos há seis meses, e depois, o processo de alívio monetário vai ser mais rápido do que pensávamos há seis meses”, afirmou.

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