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CEO da AMD percebeu vocação com carrinho telecomandado. Há 30 anos que não larga os ‘chips’

Lisa Su é prima do cofundador e presidente da Nvidia, um dos seus principais concorrentes na indústria dos semicondutores. Entusiasta do ‘hardware’, a bilionária taiwanesa é considerada uma das 50 mulheres mais influentes do mundo pela “Forbes”. O JE ouviu a sua história a partir de um sofá em São Francisco, nos Estados Unidos.
19 Setembro 2024, 09h08

Lisa Tzwu-Fang Su. É possível que o nome não lhe diga muito se não estiver a par da indústria dos chips, os mecanismos minúsculos que estão por dentro dos nossos computadores, dos nossos carros ou das nossas Playstations. Lisa Su está há mais de três décadas neste sector e é a CEO da AMD – Advanced Micro Devices, onde tem criado um império que concorre com a aclamada Nvidia. O mais curioso é que é prima de Jensen Huang, o cofundador e presidente da empresa.

Autodenominada “hardware person”, a engenheira nascida em Taiwan e criada nos Estados Unidos desde cedo contactou com a matemática e as ciências. Filha de um especialista em estatística, foi “empurrada” para os números desde cedo. Mal sabia o pai que esse plano de educação colocaria Lisa Su entre as 50 mulheres mais influentes do mundo da “Forbes” e como conselheira da Casa Branca para Tecnologia e Ciência.

Esta quarta-feira, numa conversa informal com o CEO da Salesforce, Marc Benioff, recordou esses tempos de infância e como se deu o clique para a futura carreira assim que um carrinho telecomandado do irmão deixou de funcionar.

“A primeiro momento de engenharia de que me lembro em criança é o meu irmão ter um carro telecomandado que andava pelo corredor e, de repente, avariou. Pensei «Interessante. Porque é que avariou? Vamos tentar perceber como o pôr a funcionar de novo». Foi engraçado abrir e perceber que podia juntar os fios de novo e começava a dar. É o poder da engenharia. Gosto de construir coisas”, confessou.

A pergunta do empresário e filantropo Marc Benioff era simples: Como é que atingiu o pináculo na indústria dos chips e como se tornou uma “incrível” CEO? “Eu sou uma pessoa do hardware. Tu és uma pessoa do software”, retorquiu de seguida.

Lisa Su lembrou que, até há poucas décadas, o conceito de semicondutores não fazia parte dos dicionários. Agora, os chips entraram no vocabulário dos consumidores e das empresas – em parte pela crise que assolou o sector nos últimos anos devido à elevada procura – embora, por vezes, não tenham noção de que estão (mesmo) no seu quotidiano. O ponto de viragem ocorreu na pandemia, quando as pessoas perceberam a verdadeira importância dos computadores, diz.

“As pessoas não percebiam o que eram chips. Há 30 anos, ninguém sabia bem o que isto era. Mas nós podemos fazer coisas maravilhosas na indústria da computação. Quero acreditar que toda a gente nesta sala conta com a AMD na sua vida. Basta pensar nos videojogos. Se jogam Playstation ou X-Box, se têm um Tesla ou um Mercedes… Têm AMD”, exemplificou a bilionária com raízes no Taiwan. 

A minha estratégia para a empresa [AMD] era: «Vão ser precisos [chips] em todas as partes das infraestruturas. Esse dia vai chegar». O nosso trabalho é garantir que o computador que tens é o mais funcional e capaz possível.

Formada em engenharia eletrónica, trabalhou na Texas Instruments, Freescale Semiconductor e 13-14 anos na IBM, antes de entrar na AMD, em 2012, embora também tivesse tido cargos na administração da Analog Devices e Cisco Systems. “Pensei que a esta altura já estivesse farta disto, mas passados 30 anos cá estou eu ainda na indústria dos semicondutores”, brincou.

E porque é que está? “A tecnologia tem o poder de tornar a sociedade um melhor lugar. Sei que há muita discussão sobre a Inteligência Artificial [IA], nomeadamente se está overhyped, mas eu acredito no que a IA consegue realmente fazer algo por nós. Sou mesmo muito crente de que a IA é a maior tendência tecnológica dos últimos 50 anos. É muito maior do que a Internet, do que a cloud…”, acredita.

Lisa Su deixou ainda uma mensagem à audiência do teatro Yerba Buena sobre a importância das qualidades humanas no profissionalismo, que é maior do que os cargos que ocupamos ou dos nomes das empresas que lideramos ou nos empregam. “Não importa o que diz o teu badge, mas sim a tua reputação. Ganharmos a confiança das pessoas”, afirmou.

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