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CEO da CGD preocupado com a queda de receitas ‘core’ da banca num contexto de aumento de imparidades

O presidente do BCP manifestou um desagrado em relação ao aumento dos custos com impostos, referindo-se ao adicional de solidariedade, e ao travão que as iniciativas legislativas impõem às comissões, o que é uma redução das receitas futuras, num contexto de baixa rentabilidade.
  • Cristina Bernardo
1 Agosto 2020, 11h02

“O que acontece primeiro é a quebra de proveitos, e só depois os custos se ajustam”, explicou o CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, que falava da possibilidade de o rácio de custos sobre proveitos (eficiência) poder vir a agravar-se com a crise. O CEO falava na conferência de imprensa de apresentação dos resultados do primeiro semestre.

A CGD tem 44% de cost-to-income, abaixo dos 47% de dezembro de 2019 e em linha com o objetivo para 2020 de menos 43%. Mas as receitas estão em forte queda. O CEO citou análises que estimam queda de cerca 20% das receitas (margem e comissões) em média para a banca europeia, pelo que “não há nenhum banco que consiga num só ano ajustar em 20% a sua base de custos”.

De facto a CGD reportou, tal como o BCP e o Santander Totta (a exceção foi o BPI) uma queda da margem financeira de 8,6% face a junho de 2019, em termos consolidados, e uma queda de 10,9% só em Portugal. Isto são dados da margem financeira alargada, porque ao nível da margem financeira estrita a queda é de 7,9% no consolidado e na atividade doméstica a redução é de 9%.

O Santander Totta também teve uma quebra de 6,8% da receita da margem financeira. Ao passo que BPI, que apresentou resultados nesta sexta-feira, reportou uma subida da receita da margem financeira de 2,4%. O BCP viu a margem subir no consolidado, mas na atividade doméstica caiu 5,1%.

“A redução da receita através da margem é explicada por dois factores no caso da CGD, um, que é já recorrente, tem a ver com o forte reembolso antecipado de crédito a entidades públicas que no primeiro semestre já não estavam no balanço e só isso foi responsável por cerca de metade da queda da margem, e a evolução das taxas de mercado que atingiram novos mínimos históricos”, disse José de Brito, CFO da CGD que reconhece a incerteza da evolução das taxas Euribor.

As comissões da CGD estabilizaram face ao período homólogo de 2019, graças ao crescimento das comissões de fundos e seguros (+19,1%), porque as comissões de serviços bancários estão a abrandar (-1,4%). A queda dos custos praticamente compensa a queda da margem, no semestre anunciou o CFO da CGD.

O presidente executivo da Caixa considera que o limite decidido pelo Parlamento a várias comissões bancárias cobradas a clientes, como a do processamento de comissões nas prestações de créditos, vai dificultar que os bancos dêem retorno.

Paulo Macedo manifestou um desagrado em relação ao aumento dos custos com impostos, referindo-se ao adicional de solidariedade, e ao travão que as iniciativas legislativas impõem às comissões, o que é uma redução das receitas futuras, num contexto de baixa rentabilidade. “Isto num cenário em que as imparidades vão aumentar e as receitas vão cair pelo efeito macroeconómico, cerca de 20%. Como é que os bancos vão gerar retorno para que alguém queira investir no capital de um banco? E há bancos que vão precisar de capital no futuro”, disse o presidente da CGD”.

Para além das vicissitudes nacionais que justificam a queda dos lucros, os resultados da atividade internacional da CGD também não ajudaram. O contributo da área internacional para o resultado consolidado teve uma enorme queda, em junho, que foi de 53% – passou de 86 milhões para 41 milhões num ano. Em parte porque a Caixa vendeu bancos entretanto no estrangeiro (Espanha e África do Sul), ao que acresce o encerramento das sucursais em Espanha e Luxemburgo e portanto o perímetro é menor, e como tal isso explica metade da queda do contributo. A outra parte é explicada pelas imparidades constituídas por prevenção da pandemia, sobretudo em Moçambique e França. No caso de Macau, que teve um lockdown mais cedo que na Europa, verifica-se que a queda do resultado líquido é de apenas 10%.

O Banco registou imparidades de 156 milhões por causa das projecções macroeconómicas (crédito e garantias bancárias), apesar de não estar a piorar o rácio de NPE, e NPL (rácio de NPL e líquido de imparidades 0,6%). Hoje os dados do PIB revelam uma queda de 16,5% no segundo trimestre. O Banco de Portugal prevê uma queda da economia portuguesa de 9% no conjunto do ano.

A CGD prepara-se para uma subida de malparado no crédito no quarto trimestre deste ano e em abril de 2021, quando acabar a moratória. “Nós preparamos-nos para um aumento de imparidades significativos”  mas com esperança que as imparidades sejam inferiores à anterior crise, porque os bancos têm balanços mais sólidos. “A CGD está preparada para o cenário mau”, disse o CEO.

Já o BPI apresentou imparidades para crédito líquidas de recuperações de 83 milhões no semestre, o que inclui 48 milhões de provisões genéricas decorrentes da revisão em baixa do cenário macroeconómico.

Estamos com 16,16% de capital core (CET1), bastante robusto face às necessidades de capital, o que “nos dá um conforto de ter capital suficiente para apoiar a economia portuguesa nos próximos anos”. O requisito para 2020 é de 9,02% o que se traduz numa almofada de 7,6% ou 3,4 mil milhões de euros.

“A folga de capital serve para duas coisas, a CGD pode conceder mais 8 ou mais 10 mil milhões de euros de crédito, porque tem capital para isso, e serve para ter perdas maiores de imparidades do que as projetadas, e serve para saber que a CGD tem resiliência para isso”, disse o CEO do banco.

Já o administrador financeiro da CGD, José de Brito, ressalvou que “a Caixa nunca pode esgotar os seus buffers de capital porque sempre que tem de fazer um aumento de capital o processo tem de ser autorizado pela DGComp, de Bruxelas, com todas as exigências que isso implica”.

Já o BPI tem um rácio de capital CET1 de 13,8%, o que supera o requisito em 3,95%, e dá uma folga de 700 milhões para poder usar caso necessário. Mas o CEO indigitado do BPI, disse hoje “que não está nas nossas perspetiva usar essa almofada”.

Até porque esse buffer que foi flexibilizado para enfrentar a crise da pandemia vai ter de ser reposto, segundo o BCE, no final de 2022, ainda que com um período de ajustamento, explicou o presidente do BPI.

O BCP tinha anunciado esta semana, uma folga de capital de 2,2 pontos percentuais face ao requisito que é de 13,3% (incluindo a reserva de conservação de 2,5%; o Pilar 2 de 2,25% e o rácio mínimo legal do setor que é 8%). Trata-se de um buffer de mil milhões acima do nível em que existem restrições ao montante máximo distribuível de resultados, de acordo com a regulamentação.

No capital de melhor qualidade (CET 1) a folga face ao requisito é de 3,3 pontos percentuais, mas tendo em conta a flexibilização dos requisitos das reservas de conservação e a almofada dos bancos sistémicos (O-SII) a folga passa para 6,3 pontos percentuais “que não tencionamos usar”, disse Miguel Maya.

”A diferença do rácio fully implemented para o requisito necessariamente realizável em CET1 de 1,5 mil milhões de euros, não considerando a utilização de reservas de conservação e O-SII (other systemically important institutions) é de 2,2 mil milhões considerando a utilização dessas almofadas”, diz o banco.

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