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CEO da OpenAI: “Muito do valor de sistemas como o ChatGPT é que realmente alucinam”

Sam Altman foi um dos nomes mais sonantes no primeiro dia do Dreamforce, o evento anual da Salesforce, que decorre em São Francisco. O Jornal Económico é o único órgão de comunicação social português neste evento e conta-lhe como o empresário e investidor norte-americano vê mais-valias nas falhas da tecnologia que criou.
13 Setembro 2023, 08h26

As alucinações da Inteligência Artificial (IA) são, a par com o enviesamento, as duas maiores críticas a esta tecnologia que se aproxima cada vez mais do raciocínio humano. Para o CEO da OpenAI, essa hallucination pode ser uma boa notícia, porque significa que os algoritmos além de apoiarem o trabalho das pessoas dão-lhes novas ideias para o melhorarem.

“Há muitos desafios técnicos. Um dos menos óbvios é que muito do valor dos sistemas surge do facto de que eles realmente alucinam. O facto de que estes sistemas de IA conseguem ter novas ideias, conseguem ser criativos, é grande parte do poder”, disse esta terça-feira cofundador e presidente executivo da empresa que criou o ChatGPT, na conferência Dreamforce.

“Tu queres que sejam criativos até onde quiseres, até determinado ponto. É aí que estamos a trabalhar”, esclareceu Sam Altman, uma figura incontornável na área da IA, ex-presidente da aceleradora Y Combinator e investidor d Airbnb, Pinterest ou Reddit.

Na opinião de Sam Altman, os Estados Unidos são os líderes da IA nos dias de hoje, embora reconheça que os outros países estão a traçar o seu caminho. “Temos a sorte de ter [nos EUA] tantas coisas a nosso favor, mas tem havido um esforço global. Tem sido uma surpresa positiva: a qualidade do trabalho que está a feito nesta área em todo o mundo”, referiu, numa conversa em palco com o CEO da Salesforce, Marc Benioff.

Apesar de o nome OpenAI ter ecoado no último ano, por causa do investimento da Microsoft e do lançamento da versão gratuita do seu modelo de linguagem (vulgo ChatGPT), esta tecnológica está a trabalhar em LLM (Large Language Models) desde 2015-2016 e nem todo o processo foram rosas, admitiu o CEO.

“Quando começamos tentativas científicas esperamos que vão funcionar. Temos esse sonho e convicção, como aconteceu connosco em 2016. «Vá, vamos construir IA generativa». Ótimo, mas depois vem a fria realidade… Tivemos vários assuntos por resolver e, por uma série de motivos, foi particularmente difícil, apesar da minha convicção e do meu cofundador Ilya [Sutskever]. Foi com o trabalho de muita gente talentosa que conseguimos”, contou.

Então, quando é que Sam Altman sentiu que a solução a ter efetivamente sucesso? Só em 2016, pouco depois de ser lançado o GPT-2 (Generative Pre-trained Transformer 2). Como os consumidores estão praticamente conquistados, nos próximos tempos, o foco será ter os modelos de linguagem mais “inteligentes, capazes e personalizáveis” que existem e assegurar que as políticas de dados são claras para, consequentemente, obter a confiança das organizações.

“O GPT-4 só está online há seis meses, o que é um grande lembrete de como está tudo a avançar rapidamente. Queremos garantir que é mesmo útil. Agora estamos na fase em que realmente as empresas estão a adotar a tecnologia e a fazer com que sistemas sejam seguros e de confiança”, sublinhou, neste evento em São Francisco, cidade que Marc Benioff apelidou de “sede da IA”.

Tenho quase certeza de que ainda existem novas ideias importantes aí por descobrir. Se pensarmos que o GPT-4 produz novo conhecimento científico, imaginemos o progresso científico que faremos na sociedade em termos de qualidade de vida no próximo século. Os modelos serão cada vez mais capazes, personalizáveis e dramaticamente mais confiáveis. Pode-se fazer dramaticamente mais – Sam Altman

Como? Por exemplo, diz o CEO da OpenAI, na ajuda a programar. Primeiro, começa por ser um auxílio a 25%, depois 50-70% até chegar aos 90% e aos 100% do trabalho do developer. “Vai mudar o que um simples programador, uma simples pessoa numa empresa, pode fazer. É uma grande mudança na forma como interagimos com o mundo”, sintetizou.

Questionado pelo CEO da Salesforce sobre de onde adveio o seu interesse na política desde jovem, Sam Altman explicou que cresceu e quer “viver para sempre” na Califórnia, portanto preocupa-se com a forma como o estado – e o país – é gerido.

Em maio, o CEO da OpenAI teve uma audição no Senado. A propósito da relação que mantém com a Casa Branca e os legisladores norte-americanos, afirmou que os “políticos estão cientes deste tópico e da necessidade de equilibrar os pontos a favor e os pontos contra”. “O nosso papel é tentar explicar o melhor que conseguimos, tendo consciência de que não temos todas as respostas e as que temos podem estar erradas”, ressalvou.

Há cerca de duas semanas, o governo da Indonésia atribuiu a Sam Altman o primeiro “Golden Visa”, poucos dias após ter lançado este programa para atrair investimento estrangeiro para a maior economia do sudeste asiático. O visto dourado tem a validade de dez anos e espera-se que sirva para escalar o ecossistema indonésio na área da IA.

*A jornalista viajou para os Estados Unidos a convite da Salesforce

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