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CGD: Imparidades sobre o BES na base de prejuízos de 519 milhões entre 2014 e 2015

Entre 2014 e 2015, o grupo CGD registou prejuízos de 519 milhões de euros devido entre outros factores, a custos de reestruturação em Espanha e Portugal e a imparidades sobre um grupo financeiro nacional, segundo o relatório da auditoria da EY à gestão da Caixa, num período de 15 anos, que não identificou o grupo financeiro português. Autora do relatório revela agora no Parlamento que é o BES, em resposta à deputada do CDS-PP, Cecília Meireles.
  • Cristina Bernardo
26 Março 2019, 17h38

O Banco Espírito Santo (BES) é o grupo financeiro nacional sinalizado na auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2000 e 2015, como o responsável pelos prejuízos de 519 milhões de euros do grupo CGD em 2014 e 2015 (348 milhões em 2014 e 171,5 milhões em 2015). A revelação foi feita por Florbela Lima, responsável da auditora EY, que está nesta terça-feira, 26 de março, a ser ouvida no Parlamento no âmbito da nova comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão da CGD que arrancou hoje os trabalhos.

Segundo Florbela Lima a referência ao “Grupo financeiro nacional” que é feita no relatório da auditoria da EY, na análise à situação financeira do grupo CGD entre 2014 e 2015, é mesmo ao BES. A resposta da autora do relatório foi dada à deputada do CDS-PP, Cecília Meireles, que pediu  à técnica da EY para confirmar se o BES era o grupo financeiro responsável pelos maus resultados da Caixa naquele período que superaram os 500 milhões de prejuízos.

Resultados que, segundo o relatório da EY, foram influenciados negativamente com “imparidades sobre um Grupo financeiro nacional, pelos custos de reestruturação em Espanha e Portugal e pelo desfasamento entre o crescimento económico e a capacidade de recuperação do crédito vencido”.

Antes da intervenção da deputada do CDS, também Mariana Mortágua, deputado do BE questionou a responsável da EY sobre qual o valor do crédito que foi dado a empresas do Grupo Espírito Santo. A deputada bloquista diz que encontrou uma dívida da Espírito Santo Entreprises, que apontou como uma das operações “mais óbvias” que foi à procura.

Segundo Florbela Lima, foram selecionadas as operações da amostra – as que tinham exposição em 2015 e que registavam maiores perdas – e que dentro deste critério, seria possível encontrar os maiores devedores.

A nova CPI à Caixa foi criada após a divulgação daquele documento que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito que acabaram por se revelar ruinosas.

É sobre estes resultados que a nova CPI  está hoje a ouvir os três responsáveis da auditoria da EY,  a entidade que marca o arranque dos trabalhos no Parlamento para apuramento de responsabilidades nas práticas de concessão de crédito da CGD ao longo de 15 anos, com a audição aos autores do relatório da EY, Florbela Lima, António Garcia e Tiago Silva.

“Entre 2005 e 2008 foi um período de elevada taxa de imparidades. Temos operações de concessão de crédito com perdas significativas avultadas”, afirmou Florbela Lima, em resposta à deputada do PSD Inês Domingos que questionou a responsável do relatório da EY quanto ao período crítico com elevada taxa de incumprimento face aos regulamentos internos.

Segundo a auditoria da EY no ‘Top 25’ dos créditos mais ruinosos, num total de 1.263 milhões de euros, foi entre 2000 e 2007 que se concentraram 78% destas operações: 871 milhões de euros de perdas registadas em 2015, referentes ao período em que a administração de  Carlos Santos Ferreira (entre 2005 e 2008) é apontada com maior concentração de créditos ruinosos, como à Artlant, a Joe Berardo e ao empreendimento Vale do Lobo.

Sobre os 25 créditos mais ruinosos, a deputada do PSD, Inês Domingues pretendeu esclarecer se as operações que geram as maiores perdas correspondem também a operações com um “grande grau de incumprimento de normativos internos”. Em resposta, Florbela Lima começou por explicar que “a análise foi feita operação a operação, pelo que não foi feita a análise estatística sobre irregularidades de normativos associados a cada uma das operações”.

A autora do relatório da EY frisa, porém, que “as perdas não podem ser relacionadas directamente com incumprimento de normativos”, adiantando que no Top 25 de créditos mais ruinosos “há operações que cumprem normativos e situações de excepção, bem como operações com parecer favorável que geraram perdas”.

Já sobre os regulamentos internos de concessão de crédito, a responsável da EY explicou que o trabalho da auditora teve uma tipificação que aplica-se de igual forma aos 16 anos de análise.

“Na concessão de rédito, existem ordens de serviço que regulam os procedimentos. Da nossa leitura, deste normativo – com base numa ordem de serviço 13/3003 – resulta a intervenção da Direção de Risco na concessão de crédito e garantias – com distinção de prazos superior a 18 meses, com garantias reais superiores a 120% da concessão de crédito,  e inferior a 18 meses”, explicou Florbela Lima.

A segunda CPI arranca nesta terça-feira, 26 de março com a audição da auditora EY. Nos dois dias seguintes, 27 e 28, seguir-se-ão, respetivamente, as audições ao atual governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e ao anterior, Vítor Constâncio.

Para além das audições à EY, a Carlos Costa e a Vítor Constâncio, foram já aprovadas outras ao anterior Revisor Oficial de Contas da Caixa, a Oliveira Rego & Associados, ao anterior responsável pelo departamento de auditoria da Caixa, Eduardo Paz Ferreira, ao anterior presidente do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal, João da Costa Pinto, e ainda a João Dias Garcia, antigo secretário da mesa da assembleia geral da CGD.

A lista de nomes propostos pelo PS, PSD, CDS, BE e PCP, inclui reguladores, auditores, antigos presidentes, administradores e directores do banco, órgãos de fiscalização, políticos e grandes devedores como Manuel Fino da Investifino e Joe Berardo da Fundação Berardo.

Os partidos querem ainda ouvir antigos administradores entre os quais Carlos Santos Ferreira e Armando Vara (2005 a 2008), Celeste Cardona (2004 a 2008), Almerindo Marques (2000 a 2002) e Carlos Costa (2004 a 2006), que também será ouvido na qualidade de Governador do Banco de Portugal.

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