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Chegou a hora da subida da inflação nos EUA. Efeito efémero ou dor de cabeça para a Fed?

As expectativas sobre o acelerar da inflação nos EUA têm impulsionado as ‘yields’ das obrigações e causado preocupações intermitentes, mas persistentes, nos mercados financeiros numa altura de rally bolsista. A divulgação, esta terça-feira, do aumento dos preços no consumidor em março vai, portanto, ser alvo de enorme escrutínio.
  • Chairman da Reserva Federal dos EUA, Jerome H. Powell (AFP)
13 Abril 2021, 07h55

“Estamos prestes a ver a primeira prova do tão antecipado disparo na inflação que é esperado nos próximos meses, à medida que os efeitos base de um há um ano começam a ter impacto e as quedas rápidas nos preços na altura da chegada do Covid-19 começam a entrar nos cálculos anuais”, disseram os analistas do Mitsubishi UFJ Financial Group, o maior banco do Japão, à Reuters.

A explicação dos analistas japoneses sublinha vários aspectos importantes. Quando o U.S. Bureau of Labor Statistics divulgar, esta terça-feira às 13h30, os dados da inflação na maior economia do mundo em março a expectativa do consenso dos analistas consultados pela Bloomberg aponta para um disparo no aumento de preços homólogo para 2,4%, de 1,7% em fevereiro.

Outro aspecto relevante do comentário tem a ver com o efeito base. Jerome Powell, presidente da Reserva Federal, já afirmou que é natural que a inflação acelere nos próximos meses devido ao aumento do consumo (com o desconfinamento e a acumulação de poupanças e estímulos nos últimos meses) e ao efeito base face aos números baixos do ano passado, quando a pandemia abalou a economia em março e pressionou os preços.

Apesar das palavras reconfortantes de Powell, que tem reiterado que a subida da inflação irá ser transitória e pouco significativa, os investidores têm reagido de forma nervosa, pois receiam que uma subida prolongada e mais relevante dos preços poderá levar a Fed a alterar a politica monetária ultra-acomodatícia que tanto tem alimentado as valorizações nos índices bolsistas.

“O Índice de Preços no Consumidor vai aumentar drasticamente. Projetamos que dispare de 1,7% para 2,4% em relação ao ano anterior, mas é provável que chegue perto de 4% durante o verão, já que os preços numa economia vibrante, reaberta e alimentada por estímulos contrastam fortemente com os doze meses anteriores, quando a economia estava em grande parte confinada”, afirmou James Knightley, chief international economist do ING.

“A Fed acredita que a inflação será moderada, mas achamos que as cicatrizes relacionadas à pandemia e as restrições de oferta manterão a inflação elevada por mais tempo do que o banco central projeta”, explicou, sublinhando que o anúncio, na semana passada, de um aumento mensal de 1% nos preços da produção industrial em março, e de 4,2% em termos homólogos, suporta essa tese.

Segundo Knightley, rendas primárias e o representam um terço da cesta de bens e serviços do IPC. “Os movimentos nestes componentes tendem a ficar 12-18 meses abaixo da evolução dos preços da habitação, o que significa que os componentes da habitação podem muito bem ser a história a observar ao longo do segundo semestre deste ano sublinhou.

“Se esses componentes oscilarem para cima, como suspeitamos, isso significa que a inflação pode ficar mais perto de 3% durante a maior parte dos próximos anos e, num ambiente de forte crescimento e rápida criação de empregos, isso aumenta a nossa visão de que os riscos estão cada vez mais inclinados para um aumento das taxas no final de 2022, em vez de 2024, como a Fed favorece atualmente”, sublinhou.

O tema tem sido, no entanto, motivo de intenso debate.

Jean-Luc Proutat, que lidera o research de países da OCDE no BNP Paribas, recordou que aliado à subida dos preços das commodities (com os preços do petróleo subiram cerca de 150% no ano passado e os metais a aumentarem 60%, “as  crescentes tensões na economia dos EUA estão a alimentar as expectativas de inflação, nomeadamento nos mercados, onde as taxas de swap indexadas de 10 anos aumentaram para quase 2,5%”.

Se os preços no consumidor estão, de facto, a aumentar, se não por outra razão do que contas de energia e alimentos mais pesadas, também sinalizam um efeito de atraso.

“Com menos casos de Covid-19 e a alívio de restrições, os consumidores agora podem fazer certas compras que
estavam a adiar. A procura doméstica por viagens e bens duráveis bens (automóveis, móveis domésticos) é forte, contribuindo para a recuperação dos preços, adiantou Proutat, explicando que  começando em abril e nos meses seguintes, quando as estatísticas forem comparadas com os números deprimidos da primavera de 2020, a inflação vai subir bem acima da meta de 2% da Fed, e pode até atingir 3%.

“No entanto, a recuperação da inflação pode durar pouco”, vincou o analista do BNP Paribas. Nos Estados Unidos, como noutros lugares, os salários e os preços permanecem limitados pelas forças globais, possivelmente ainda mais desde que a crise da Covid acelerou revolução digiral no setor de serviços”, adiantou.

“Não estão a reagir como fez antes às folgas do mercado de trabalho, um fenómeno conhecido como o  ‘achatamento’ da curva de Phillips”, vincou. A inflação já estava estável de forma notável nos cerca de 2% durante o declínio histórico do desemprego em 2010-2020, e há poucos motivos para acreditar que vai acelerar a longo prazo”.

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