As refinarias na China e na Índia estão a produzir produtos petrolíferos (gasóleo ou gasolina) usando petróleo russo que está a ser comprado com desconto devido às sanções e teto de preços impostos pela União Europeia, G7 e Austrália. Estes produtos são depois vendidos à Europa.
Quem fica a ganhar? Aparentemente todos. A Rússia continua a vender petróleo, a China e a Índia ganham dinheiro com o gasóleo e gasolina vendidos e a Europa continua a ter outras fontes de abastecimento de produtos petrolíferos. No entanto, as sanções estão a pesar em Moscovo: as exportações petrolíferas russas afundaram 40% em janeiro face a período homólogo, e as vendas têm de ser feitas com descontos.
As petrolíferas russas estão a vender petróleo com descontos de 15-20 dólares por barril para compradores na China e na Índia, segundo 10 traders envolvidos nas operações, de acordo com a “Reuters”.
As petrolíferas estão a pagar entre 15-20 dólares por barril a empresas de navegação para transportarem o petróleo da Rússia para estes dois países.
O barril de petróleo russo Urals atingiu os 50 dólares no final de janeiro, menos 42% face a período homólogo. O barril de Brent estava a ganhar mais de 2,2% para mais de 86 dólares na tarde de sexta-feira.
A China comprou 1,8 milhões de barris diários de petróleo russo entre abril de 2022 e janeiro de 2022, segundo dados da Vortexa Analytics. Tendo em conta um desconto de 10 dólares por barril, de Urals ou ESPO, as refinarias chinesas pouparam 5,5 mil milhões de dólares durante 10 meses, segundo contas da “Reuters”.
“O preço oficial do petróleo a um nível baixo significa que o orçamento russo sofreu nas últimas semanas. Olhando para as estatísticas, algum do benefício foi capturado pelas refinarias na China e na Índia, mas os principais beneficiários devem ser as empresas de navegação, intermediários e petrolíferas russas”, disse à “Reuters” Sergey Vakulenko, membro do Carnegie Endowment for International Peace.
A China exportou 2,79 milhões de toneladas de gasóleo em dezembro, um disparo de 33% face a novembro, para máximos desde março de 2021.
Face a período homólogo, as exportações chinesas em dezembro sofreram disparos assinaláveis: gasolina (+103%), gasóleo (+758%), jet fuel (+191%), segundo os dados da “Reuters”.
Na Índia, as refinarias processaram 4% mais de petróleo em dezembro. “O petróleo com desconto da Rússia vai ajudar as refinarias [indianas] a continuarem em alta”, segundo Ehsan Ul Haq, analista da Refinitiv.
As compras de petróleo russo pela Índia atingiram um máximo histórico nas últimas semanas: 1,25 milhões de barris diários. O país tem poupado 500 milhões de dólares por mês com o desconto de 15 dólares por barril.
“Os responsáveis do Tesouro norte-americano [departamento responsável pelas sanções a Moscovo] têm dois objetivos: manter o mercado bem abastecido e privar a Rússia de receitas de petróleo. Têm consciência de as refinarias chinesas e indianas podem ter mais margens ao comprar crude russo com desconto e exportando produtos a preços de mercado. E vivem bem com isso”, disse Ben Cahill do Center for Strategic and International Studies, um think tank em Washington, citado pela “Bloomberg”.
A Índia exportou 89 mil barris diários de gasolina e gasóleo para Nova Iorque em janeiro, o máximo em quase quatro meses. Já as vendas de gasóleo com baixo teor de enxofre atingiram os 172 mil barris em janeiro, o máximo desde outubro de 2021.
“A Índia é um exportador nato de produtos refinados e grande parte destes destinam-se ao ocidente para ajudar a aliviar o aperto atual. Está bastante claro que uma parte cada vez maior das matérias-primas utilizadas para gerar estes produtos têm origem na Rússia”, segundo Warren Patterson, analista do ING.
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