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Cimeira de Londres jura fidelidade a Washington

Depois de Donald Trump deixar evidente que não conta com a Europa para fazer a paz com a Rússia e de destratar de forma ostensiva o seu homólogo ucraniano, os líderes europeus repetem que contam com os Estados Unidos.
Neil Hall/EPA
3 Março 2025, 07h00

A reunião com os líderes europeus em Londres, convocada pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer, terminou com a decisão de alguns países, entre eles o Reino Unido, a França e outros não especificados, mas com a ressalva de que, para alcançar a paz, é preciso “o apoio dos Estados Unidos”, disse o anfitrião em conferência de imprensa. É por isso, explicou, que se encontrou com o presidente dos EUA para reforçar as relações com os Estados Unidos: “Estamos a trabalhar com Trump, com quem concordámos na urgência de uma paz duradoura”.

Segundo as agências noticiosas, Keir Starmer não quis comentar a reunião de Zelensky e Trump esta sexta, e evitou atribuir culpas pelo momento de discussão entre os dois chefes de Estado. Disse apenas que o apoio norte-americano é indispensável e “a relação entre os EUA e a Europa deve ser forte”. “O objetivo da reunião de Londres era unir os nossos parceiros em torno deste esforço para fortalecer a Ucrânia e apoiar uma paz justa e duradoura para o bem de todos nós. O nosso ponto de partida deve ser colocar a Ucrânia na posição mais forte possível, para que possa negociar a partir de uma posição de força, e estamos a reforçar o nosso apoio”, salientou.

Ora, como se sabe, não é nada disto que a administração Trump acha da matéria: Trump quer impor uma paz imediata, marcar uma nova fronteira no lugar onde estão os combates – o que quer dizer que a Ucrânia perderia o Dombass e não retomaria a Crimeia – apossar-se das riquezas do subsolo do país europeus, e tudo sem que a Ucrânia pudesse argumentar em sua defesa. O acordo para o subsolo foi entretanto riscado do panorama, mas Trump deixou bem claro que, ou Zelensky aceita a proposta norte-americana ou deixará de contar com o apoio do seu país.

Em Londres, a assunção de que o apoio de Washington é essencial demonstra que os líderes europeus, eventualmente, não acreditam que o presidente norte-americano leve até tão longe a sua recusa em apoiar a Ucrânia. De algum modo, estão a lutar contra a nova realidade que se instalou na Casa Branca, mas agem como se nada tivesse mudado.

A posição de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, não parece ser exatamente a mesma. Disse que “os Estados Unidos devem saber que estamos prontos para defender a democracia”, mas acrescentou que “está na altura de rearmar a Europa” e torná-la estrategicamente importante no mundo. E, para isso, defende que é preciso “intensificar e aumentar a defesa”. Von der Leyen lembrou que para criar uma força europeia afirmativa no cenário internacional, é preciso ter capacidade de produção: “Os estados-membros precisam de mais espaço fiscal para aumentar a defesa”. Para isso, apresentará em breve (mais precisamente no Conselho Europeu de 6 de março) “um plano abrangente sobre como rearmar a Europa”. “Temos de fazer um grande esforço. E, para isso, precisamos de um plano claro da União Europeia para os Estados-membros”. “Precisamos de uma abordagem europeia comum, mas os Estados-membros precisam de mais espaço fiscal para aumentar as despesas com a defesa”, reconheceu, abrindo a porta a uma solução de financiamento assegurado pelo bloco, com certeza recuperando o que foi feito no combate à pandemia de Covid-19. “As garantias de segurança são da maior importância para a Ucrânia, mas é preciso garantias de segurança abrangentes”, referiu von der Leyen. “Isto inclui a necessidade de colocar a Ucrânia numa posição de força que lhe permita fortalecer-se e proteger-se, desde a sobrevivência económica até à resistência militar”.

Entretanto, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, considerou a cimeira internacional de Londres sobre a defesa europeia “útil e importante” e afirmou que a União Europeia quer continuar a trabalhar com outros parceiros e aliados. Segundo as agências, Costa disse que vai agora trabalhar com todos os líderes dos Estados-membros para preparar o Conselho Europeu especial na próxima quinta-feira em Bruxelas.

“A União Europeia está pronta para trabalhar com todos os nossos parceiros europeus e outros aliados no plano de paz para a Ucrânia que garanta uma paz justa e duradoura para o povo ucraniano”, afirmou, para dizer que é necessário “aprender com o passado” e evitar “repetir a experiência de Minsk” – os acordos de paz de 2014 sobre os territórios ucranianos, que a Rússia diz que a parte ucraniana nunca cumpriu.

Já o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, mostrou-se satisfeito por ver mais países determinados em aumentar a despesa com a defesa e em participar numa força de manutenção da paz na Ucrânia. Em declarações à saída de uma cimeira em Londres, Rutte, citado pelas agências noticiosas, congratulou-se por ver os “países europeus a intensificar os seus esforços para garantir que a Ucrânia tem o que precisa para continuar a lutar enquanto tiver de continuar”. Referindo-se ao exemplo do Reino Unido, que anunciou na semana passada o aumento da despesa com a defesa para 2,5% do PIB, Rutte indicou que vários países deverão fazer anúncios semelhantes em breve. “O que vemos é que os países europeus estão a intensificar a sua ajuda com garantias de segurança para o momento em que for alcançado um acordo de paz. Obviamente, ainda não há acordo. Ainda não há um cessar-fogo, mas temos de nos preparar para esse momento e certificar-nos de que os países europeus estão dispostos a ajudar com as garantias de segurança”, vincou.

Organizada pelo Reino Unido, a cimeira sobre a segurança europeia reuniu líderes da Ucrânia, França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Noruega, Canadá, Finlândia, Suécia, Dinamarca, República Checa, Polónia e Roménia. O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, também participou, assim como Mark Rutte, António Costa e Ursula von der Leyen. Portugal ficou mais uma vez de fora do lote dos convocados. Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou essa ausência à agência Lusa. De acordo com o gabinete de Starmer, a reunião de Londres serviu para dar continuidade à de Paris, promovidas pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Onde, aliás, Portugal também não esteve.

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