Há cinco anos, o Brexit marcou o início de uma nova era para o Reino Unido. O Acordo de Comércio e Cooperação introduziu novas barreiras regulatórias e controlos aduaneiros com a União Europeia, mas também a possibilidade teórica de uma economia britânica livre para negociar mais facilmente com o resto do mundo. No entanto, cinco anos depois, o comércio externo britânico continua escasso e os principais setores da sua economia sofrem com o aumento dos custos, uma burocracia mais complexa e a escassez de mão de obra devido ao Brexit.
A conclusão é da Crédito y Caución, seguradora de crédito interno e de exportação que destaca que atualmente, o comércio de bens do Reino Unido é de 88% e as suas exportações de 82% dos níveis anteriores ao Brexit.
“As perspetivas comerciais continuam sombrias para o Reino Unido cinco anos após a saída da União Europeia. O comércio total não recuperou para os níveis anteriores ao Brexit e o desempenho das exportações britânicas é ainda mais dececionante do que o das importações”, explica Dana Bodnar, economista da Atradius.
O ambiente económico do Reino Unido é complexo, mas está longe de ser catastrófico. As perspetivas de crescimento para 2025 são melhores do que as de outras grandes economias europeias, embora permaneçam abaixo da sua taxa média anual de 2% anterior a 2020, refere a Crédito y Caución que acrescenta que “talvez o desenvolvimento mais significativo seja a adesão do Reino Unido ao Acordo Transpacífico de Cooperação Económica (TPP), que acaba de entrar em vigor”.
A companhia de seguros destaca que os seus efeitos a curto prazo são limitados, uma vez que o Reino Unido já tinha acordos comerciais bilaterais em vigor com nove dos onze membros do bloco comercial, mas poderá trazer maiores benefícios no futuro à medida que se expanda, especialmente com o pedido formal de adesão da China. O Reino Unido também fechou acordos comerciais com a Austrália e a Nova Zelândia, mas as negociações com os Estados Unidos, o seu maior parceiro comercial fora da União Europeia, estão paralisadas.
“O Reino Unido tem agora 70 acordos comerciais em vigor. Mas a grande maioria deles são essencialmente acordos de extensão, honrando os termos comerciais dos acordos existentes da União Europeia com países terceiros”, acrescenta Bodnar.
Segundo a Crédito y Caución, setores como o aeroespacial, as energias renováveis, os meios de comunicação social e o papel deverão registar um crescimento significativo. O ferro e o aço, a logística e a construção enfrentam maiores incertezas. A agricultura é um dos setores mais afetados pela escassez de mão de obra. No setor automóvel, a aplicação das tarifas foi adiada.
“A adição de tarifas de 10% sobre veículos elétricos fabricados na União Europeia e no Reino Unido ameaçou comprometer a eletrificação do setor automóvel europeu num momento crucial, em que enfrenta uma série de desafios, incluindo o aumento da concorrência dos fabricantes chineses”, explica o analista de risco sénior do Reino Unido para o setor de transportes, Nicola Harris.
O Brexit é também um desafio para o setor químico, que exporta dois terços da sua produção, principalmente para a Europa. “Isso está a afetar cada vez mais o investimento no setor petroquímico, à medida que as empresas navegam pelas incertezas e custos associados ao regime. A longo prazo, também esperamos uma escassez de mão de obra qualificada”, diz Sarah Evans, analista de risco sénior do Reino Unido para o setor químico.
Os defensores do Brexit argumentam que esses obstáculos iniciais serão resolvidos ao longo do tempo e encontrarão incentivos na abertura a acordos comerciais, mas as perspetivas comerciais permanecem incertas no quinto aniversário do Brexit. Os seus benefícios económicos ainda não chegaram.
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