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CMVM alerta para atraso no reconhecimento de perdas na banca

Melhoria da rentabilidade na banca europeia vai depender da retoma económica, mas também da qualidade dos ativos. Ainda não há sinais de deterioração, mas a CMVM alerta que isto pode refletir um “atraso no reconhecimento de perdas” e os efeitos das medidas adotadas durante a pandemia.
  • Rodrigo Antunes/Lusa
14 Janeiro 2022, 17h45

O setor bancário europeu continua a debater-se com a baixa rentabilidade, e os bancos nacionais não são exceção. Um indicador cuja melhoria depende do ritmo de recuperação económica, mas também de um outro fator: a qualidade dos ativos da banca. Embora não haja sinais de um crescimento do crédito malparado, a CMVM alerta que isso pode refletir o “atraso no reconhecimento de perdas” e os efeitos das medidas governamentais adotadas durante a pandemia. Apoios que vão sendo retirados, o que poderá ter impacto nas famílias e empresas.

A rentabilidade dos capitais próprios (ROE, na sigla em inglês) dos bancos europeus baixou para 1,3% em 2020, quando era de 5,3% um ano antes. Já as projeções dos analistas para este indicador rondam os 3% e os 5,1% em 2021 e 2022, respetivamente.

“No agregado, a robustez e a rapidez da retoma económica vão determinar a recuperação da performance do setor financeiro nos próximos anos”, refere a CMVM no “Risk Outlook” para 2022, publicado esta sexta-feira. Em Portugal, o ROE caiu para os 0,5% em 2020, tendo subido para 5,4% entre janeiro e setembro de 2021, segundo dados da Associação Portuguesa de Bancos.

Contudo, “ao nível micro, a rentabilidade de cada banco estará dependente da qualidade dos ativos detidos (e do grau de exposição aos setores mais afetados pela pandemia e aos que se encontravam já em situação de maior vulnerabilidade antes da pandemia)”, refere o regulador.

A rentabilidade de cada banco estará dependente da qualidade dos ativos detidos (e do grau de exposição aos setores mais afetados pela pandemia e aos que se encontravam já em situação de maior vulnerabilidade antes da pandemia).

O rácio de crédito malparado (NPL, na sigla em inglês) representava 2,5% do total dos empréstimos no final do primeiro trimestre de 2021. “Muito embora traduza uma evolução positiva face a anos anteriores, aquele indicador pode refletir o atraso no reconhecimento de perdas e os efeitos de moratórias e garantias públicas”, alerta a CMVM, notando que “nos últimos trimestres verificou-se um aumento do rácio de empréstimos renegociados devido a razões económicas e legais associadas à situação económica dos devedores”.

Para o regulador liderado por Gabriel Bernardino, “as moratórias representam um risco relevante para a qualidade dos ativos bancários”. Dados do Banco de Portugal mostram que a banca nacional tinha 1,2 mil milhões de euros em empréstimos abrangidos por esta medida no final de novembro – o regime terminou no final do ano. Já o pico foi atingido em setembro de 2020, quando o montante superou os 48 mil milhões de euros.

Fim das medidas pode trazer dificuldades para famílias e empresas

Medidas como as moratórias e as linhas covid-19 foram criadas para apoiar as famílias e empresas mais afetadas pelos efeitos da crise pandémica, servindo como balão de oxigénio também para a banca. Mas ainda há perigos à vista.

“A queda abrupta da atividade económica afetou moderadamente a situação creditícia das famílias portuguesas”, diz a CMVM. “Sem prejuízo disso”, acrescenta, “existem riscos que podem emergir no futuro próximo”.

Em primeiro lugar, a retirada destas mesmas medidas de apoio. “O fim de moratórias pode deteriorar a situação financeira das famílias”, detalha. “Setores de atividade afetados pela pandemia podem enfrentar risco de insolvência quando os apoios forem retirados, com consequências sobre o nível de desemprego de algumas camadas da população ligadas a esses setores”.

Por outro lado, “a concretizar-se o início da normalização da política monetária no próximo biénio, tal irá traduzir-se num aumento dos indexantes de taxa de juro. Em virtude da forte preferência das famílias portuguesas por empréstimos a taxa de juro variável (ao contrário dos demais países da zona Euro), poderá assistir-se a um aumento do esforço para servir a dívida e do risco de crédito”.

O risco de insolvência das empresas não financeiras poderá agravar-se com o phasing out de medidas de apoio governamentais.

Do lado das empresas, o risco de insolvência “poderá agravar-se” com a retirada das medidas de apoio governamentais. Este risco, diz, “é mais pertinente para as empresas do setor dos serviços e as PME [pequenas e médias empresas], que podem enfrentar um aperto das condições de refinanciamento da dívida ou uma retoma mais lenta da atividade”.

A CMVM alerta que, “à medida que a economia recupera e que os apoios vão sendo retirados, o número de insolvências poderá aumentar”. A percentagem de dívida abrangida por moratórias situava-se em 28,5% do total no final de agosto de 2021, mas no setor do alojamento e restauração aproximava-se dos 55%. “Sem prejuízo disso, é de assinalar o aumento da maturidade do crédito bancário a empresas não financeiras durante o período pandémico, o que poderá diminuir o risco de refinanciamento no curto-prazo para o segmento empresarial”, remata.

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