[weglot_switcher]

Como mudou a economia portuguesa num ano de pandemia (com áudio)

Dívida pública e privada, défice orçamental, PIB, exportações, importações, turismo, restauração. Os primeiros casos de infeção por Covid-19 foram conhecidos há um ano em Portugal. Como reagiu a economia portuguesa à pandemia da Covid-19?
2 Março 2021, 10h01

PIB registou queda histórica

O Produto Interno Bruto (PIB) registou uma queda histórica de 7,6% em 2020. Esta queda fica abaixo dos 8% esperado pelo Governo.

“Em 2020, o PIB contraiu 7,6% em volume (crescimento de 2,5% em 2019), refletindo os efeitos marcadamente adversos da pandemia COVID-19 sobre a atividade económica”, disse o INE a 26 de fevereiro.

“Para esta variação do PIB, a procura interna apresentou um contributo negativo expressivo (-4,6 p.p. que compara com +2,8 p.p. em 2019), devido, sobretudo, à contração do consumo privado. A procura externa líquida acentuou o contributo negativo em 2020 refletindo sobretudo a diminuição sem precedente das exportações de turismo”, analisou o INE.

99 mil empregos destruídos 

O desemprego aumentou 0,3% pontos percentuais para os 6,8% em 2020. Apesar da taxa de desemprego não ter sofrido grande alteração, a verdade é que foram destruídos 99 mil empregos na economia portuguesa em 2020, com a redução em 2% da população empregada, que ficou nos 4,814 milhões de pessoas, a redução mais acentuada desde 2013.

O segundo trimestre de 2020 foi o mais afetado tendo desaparecido 134 mil empregos face ao trimestre anterior, devido ao início da pandemia no país em março do ano passado e o consequente confinamento generalizado a partir de 22 de março.

Exportações afundaram 10% 

As exportações nacionais de bens afundaram 10,2% em 2020 face a 2019 para 53,7 mil milhões de euros, impactadas fortemente pela venda de combustíveis. Já as importações recuaram 15,2% para 67,8 mil milhões de euros.

“Desde 2009 que as exportações de bens não apresentavam uma variação homóloga negativa”, observou o Instituto Nacional de Estatística (INE) na sua publicação de 9 de fevereiro.

A última queda anual nas exportações foi registada há mais de 10 anos quando as exportações de bens recuaram 18,4% em 2009. Desde então foram sempre registados aumentos anuais, com destaque para 2010, quando sofreu o maior aumento anual desde então, seguido de 2011 com 14,9%. Antes desta quebra anual, o valor percentual mais baixo foi registado em 2016 (0,8%).

O défice da balança comercial de bens diminuiu 6.024 milhões de euros para 14.051 milhões de euros durante o ano de 2020.

Em 2020, as exportações e importações de Combustíveis e lubrificantes diminuíram 32,1% e 35,6%, respetivamente, face a 2019 “correspondendo à categoria económica com maiores decréscimos relativos no total do ano”.

Dívida pública atingiu valor recorde 

A dívida pública aumentou para 270.408 milhões de euros em dezembro de 2020, atingindo assim um novo máximo histórico, segundo os dados do Banco de Portugal divulgados no início de fevereiro. Face a 2019 de dezembro, a dívida disparou 20,4 mil milhões de euros.

Assim, o peso da dívida pública subiu para 133,7% do PIB no ano passado, também um novo máximo histórico, segundo os dados do Banco de Portugal divulgados no início de fevereiro.

Este valor ficou ligeiramente abaixo do esperado pelo Governo que estimativa que tivesse atingido os 134,8% do PIB em 2020.

A contribuir para a subida da dívida pública está o aumento dos  títulos de dívida (17,6 mil milhões de euros), dos empréstimos (1,7 mil milhões) e das responsabilidades em depósitos (1,1 mil milhões de euros), por via, principalmente, das emissões de certificados do Tesouro. Os depósitos das administrações públicas, por sua vez, atingiram os 23,9 mil milhões de euros no final de 2020, mais  9,4 mil milhões de euros face ao final de 2019.

No Orçamento do Estado para 2021, o Governo prevê uma queda da dívida pública este ano: “Prevê-se uma redução do rácio de -3,9 p.p. [pontos percentuais] para 130,9% do PIB. O principal contributo será dado pela retoma do crescimento nominal do PIB e, em segundo plano, pela redução dos depósitos das administrações públicas em cerca de 1,7 p.p. do PIB”.

Endividamento de economia nacional atinge os 368,8% do PIB

O peso do endividamento do Estado, empresas e famílias subiu para os 368,8% do PIB em 2020. O aumento foi de 30 pontos percentuais face aos 336,8% registados no final de 2019.

Deste total, 342,5 mil milhões de euros dizem respeito ao sector público e 403,3 mil milhões de euros dizem respeito ao sector privado.

Apesar do agravamento, este resultado fica longe do recorde de 420% do PIB atingido em 2013, refletindo o impacto da pandemia da Covid-19 na economia nacional.

Do excedente ao regresso ao défice no espaço de um ano

Depois de ter registado em 2019 o primeiro excedente orçamental em tempos de democracia, Portugal regressou ao défice orçamental em 2020. Do céu ao inferno no espaço de um ano, devido à pandemia da Covid-19. O Governo prevê que o défice orçamental em 2020 possa ficar abaixo dos 7,3% previstos no Orçamento do Estado para 2021.

“A evolução mais positiva do emprego, com reflexo na receita fiscal e contributiva permite-nos antecipar que o défice orçamental em contas nacionais de 2020 deverá ficar abaixo dos 7,3% previstos no Orçamento do Estado para 2021 (OE2021), devendo ficar mais próximo do valor inicialmente previsto no Orçamento Suplementar de 2020”, isto é, entre 6,3% e abaixo de 7,3%, sinalizou a tutela de João Leão a 27 de janeiro.

Esta antecipação foi feita depois de ter sido revelado que o saldo orçamental deteriorou-se em 9.704 milhões de euros em 2020, em contabilidade pública, atingindo um défice de 10.320 milhões de euros.

Na mesma altura, o Governo alertou que a forte vaga pandémica registada em janeiro deverá provocar uma revisão em baixa das estimativas para este ano. “A segunda vaga da pandemia, mais intensa do que o esperado, e as medidas restritivas de confinamento associadas, com maiores apoios ao rendimento das famílias e às empresas, deverão conduzir a uma revisão em baixa do cenário macroeconómico e do saldo orçamental para 2021”.

Também o Conselho de Finanças Públicas acredita que o défice ficou abaixo de 7,3% em 2020, segundo uma análise publicada a 10 de fevereiro. A instituição presidida por Nazaré Cabral considera que seria preciso que o saldo orçamental no último trimestre do ano tivesse sido superior ao do segundo trimestre, o período de 2020 mais afetado pelas medidas de restrição.

Desde 1984 que hotéis em Portugal não registavam um número tão baixo de turistas estrangeiros

Os hotéis em Portugal receberam menos 61,3% de hóspedes em 2020 face a período homólogo para um total de 10,5 milhões de hóspedes. Já o número de dormidas caiu 63% para 26 milhões, segundo os dados do INE.

De acordo com estes dados, foram registadas 13,6 milhões de dormidas de residentes (cidadãos a residir em Portugal), menos 35% face a período homólogo, o “valor mais baixo desde 2013”.

Em termos de dormidas de não residentes (turistas que não residem em Portugal), estas recuaram 75% para 12,3 milhões de dormidas, o “valor mais baixo desde 1984”.

Registaram-se 13,6 milhões de dormidas de residentes (-35,4%; +6,5% em 2019), o valor mais baixo desde 2013, e apenas 12,3 milhões de dormidas de não residentes (-74,9%; +3,8% em 2019), o valor mais baixo desde 1984.

O número de dormidas atingiu assim um mínimo desde 1993, ano em que o país registou um total de 23,6 milhões de dormidas.

Em termos de hóspedes, os estabelecimentos de alojamento turístico registaram uma quebra de 61% no número de hóspedes, 10,5 milhões, e menos 61% de dormidas para um total de 26 milhões.

Em 2020, os proveitos totais do sector do alojamento turístico recuaram 661% para 1.457 milhões de euros. Já os proveitos de aposento recuaram 66% para 1.088 milhões de euros.

“A pandemia Covid-19 teve notoriamente um forte impacto nos resultados anuais”, analisa o INE.

Metade dos restaurantes já despediram desde o início da pandemia

Metade dos restaurantes em Portugal já despediu desde o início da pandemia, segundo dados da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) divulgados em janeiro.

Do total de restaurantes no país, 19% reduziram em mais de 50% os postos de trabalho, com 20% a assumirem assumem que não vão conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do primeiro trimestre de 2021.

O sector da restauração tem sido um dos mais afetados pela pandemia da Covid-19 e os restaurantes continuam atualmente com as portas fechadas, sendo permitida apenas a venda ao domicilio.

O sector da restauração, similares e do alojamento turístico, é composto por 120 mil empresas com 400 mil postos de trabalho diretos.

Segundo o inquérito realizado pela AHRESP em dezembro, 56% das empresas registaram perdas acima dos 60%, com 39% a admitirem que podem mesmo entrar em insolvência.

Em dezembro, 13% dos inquiridos admitiu que não conseguiu efetuar o pagamento dos salários dos seus trabalhadores, com 18% a fazê-lo só parcialmente.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.