O futuro do talento dependerá, então, da capacidade para colaborar com sistemas inteligentes. Esta inevitável evolução exige adaptação, assim como a capacidade de encarar a tecnologia não como uma ameaça, mas como uma parceira.
Com efeito, é precisamente neste cenário, em que aceitamos a máquina, que surge a oportunidade humana: encontrar o equilíbrio entre automatização e capacitação. Para as empresas, esta transição exige que repensem a forma como desenvolvem as suas equipas e valorizam as pessoas. Como enfatiza a Deloitte, é o momento de encarar a missão de edificar uma human value proposition à altura da era digital.
Durante anos, o mercado valorizou sobretudo o talento com competências técnicas específicas — perfis especializados e com domínio aprofundado das ferramentas. No entanto, com o impacto da inteligência artificial no trabalho, esta lógica está a mudar rapidamente.
O futuro do talento já não depende apenas da capacidade para programar ou operar sistemas complexos. A IA está a redefinir funções, mas também a abrir novas possibilidades.
De facto, esta tecnologia automatiza muitas tarefas. Não obstante, o seu impacto vai muito além disso: está a transformar a natureza do trabalho e a dar origem à era do profissional híbrido. Ou seja, alguém que compreende a tecnologia, mas cuja mais-valia reside na forma como a aplica com criatividade, discernimento e sensibilidade.
Por conseguinte, este novo perfil alia o conhecimento tecnológico à capacidade humana de avaliar, ajustar e contextualizar. É por isso que a procura por competências humanas — como pensamento crítico, adaptabilidade, inteligência emocional ou colaboração — continua a crescer e a moldar o futuro do talento.
Ora, a automatização de tarefas tradicionalmente associadas a funções de entrada no mercado levanta uma questão crucial: como devem os jovens profissionais posicionar-se neste novo contexto? E, mais importante ainda, como podem ganhar experiência se as oportunidades para aprender estão a desaparecer?
Inegavelmente, a entrada no mercado de trabalho sempre representou um momento-chave de aprendizagem prática. Todavia, como sublinha a Deloitte, o avanço contínuo da tecnologia está a reduzir essas zonas de experimentação, fundamentais para preparar o futuro do trabalho. Afinal, as competências humanas desenvolvem-se com tempo, erro e prática.
Cada vez mais, as empresas procuram competências humanas para cargos em diversas áreas — desde os serviços médicos e de saúde até ao apoio ao cliente.
Fonte: “Skills and Talent Development in the Age of AI”, Jobs for the Future
Como resolver, então, o dilema entre talento humano e inteligência artificial? Pois bem, é precisamente aqui que as empresas devem assumir um novo papel: criar espaço real para aprender.
Se o perfil do talento está a mudar, a forma como as empresas o atraem, desenvolvem e mantêm tem, decerto, de acompanhar essa transformação. Isto é, as empresas terão de atualizar a employee value proposition (EVP).
O conceito de human value proposition — uma evolução da EVP tradicional — propõe, portanto, que a liderança na era digital repense a criação de valor para as pessoas. Isso implica, por exemplo:
Ao mesmo tempo, os líderes devem, sem dúvida, assumir um novo papel: menos controlo e mais orientação. Quando falamos do futuro do talento, não podemos concentrar-nos apenas no candidato. O gestor do futuro será alguém capaz de redesenhar o trabalho, desenvolver equipas e tomar decisões complexas.
Por isso, revela-se vital reintroduzir — como vimos — o espaço para aprender. Cabe às empresas criar verdadeiras oportunidades de prática, mentoria e crescimento. Sem isso, o talento não floresce.
Afinal, a tecnologia só demonstra o seu verdadeiro valor quando amplifica o melhor das pessoas. No fundo, esta é a mudança de paradigma que a inteligência artificial traz para o futuro do talento.
Este artigo é da autoria da Gi Group Holding.
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