Passada uma semana sobre a estreia de Ainda Estou Aqui, já quase tudo foi dito sobre as qualidades do trabalho do realizador Walter Salles e da assombrosa prestação da atriz Fernanda Torres. O que apenas agora sabemos é o facto perfeitamente extraordinário – no sentido de fugir à norma – de um filme independente ter sido o mais visto em Portugal nos primeiros dias de exibição, com perto de quarenta mil espetadores, mais do que alguns blockbusters norte-americanos ainda em cartaz.

Pelo que se sabe, esse número só foi possível pela corrida às salas de cinema da larga comunidade brasileira residente em Portugal. Podemos dizer, sem risco de falhar, que tal se deve em grande parte à popularidade da atriz e à sua recente conquista do Globo de Ouro.

No entanto, é também evidente que, ao aderir em massa a este filme, cujo núcleo principal da ação se desenrola no período trágico da ditadura militar, que esteve no poder mais de vinte anos, os nossos irmãos brasileiros mostram não ter receio nem de olhar para o passado nem de lidar com os seus traumas.

Estando longe de pensar que o cinema deve ser “pedagógico” e recusando qualquer tipo de paternalismo, a abordagem de Salles poderia servir de exemplo para nós próprios, no cinema como em qualquer outra área da vida social e cultural, abordarmos os nossos próprios fantasmas.

Reafirmando o que já tive ocasião de referir em outros espaços, quando um filme como Ainda Estou Aqui atinge de igual modo as emoções e a inteligência do espetador, o sucesso está garantido.