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Complexos de inferioridade

Hoje exige-se uma mensagem curta, directa e pertinente. Gostava muito de ver complexos de inferioridade ultrapassados a quem tenta aproximar, que procura a diplomacia e que faz-se ouvir pela clareza de ideias em vez do tom de voz. Banalizou-se o confronto e isso tem de mudar. Ou isso, ou as pessoas mudam por si.
26 Outubro 2021, 07h15

Ao longo dos anos a política madeirense evoluiu muito na narrativa do “nós e eles”. Os outros de Lisboa, malfeitores que não desejam o bem à Madeira, que não têm a Madeira no coração e que por esse motivo teríamos de lutar com toda a nossa força contra o poder centralista, castrador das vontades destes ilhéus plantados no Atlântico. A bem da
verdade, esta postura e modo de actuar deu frutos, mas deu porque também existia um suporte eleitoral que permitia, com toda a pujança, reivindicar sempre a mais para garantir o mínimo por parte “dos outros”, principalmente no que a dinheiro diz respeito.

Hoje as coisas não podem continuar nestes moldes e tentar copiar métodos, quanto a mim ultrapassados, é a receita perfeita para a teatralização da política.

Hoje exige-se uma mensagem curta, directa e pertinente. Gostava muito de ver complexos de inferioridade ultrapassados a quem tenta aproximar, que procura a diplomacia e que faz-se ouvir pela clareza de ideias em vez do tom de voz. Banalizou-se o confronto e isso tem de mudar. Ou isso, ou as pessoas mudam por si.

Eu cresci com a ideia, incutida pelos mais velhos, de que da Madeira nada de bom podemos esperar em relação ao Porto Santo, exactamente na mesma lógica dos anos vividos na política por Alberto João Jardim em relação ao governo central. Nada mais errado. Com o tempo fui conhecendo e percebendo que afinal fui, tal como muitos outros, formatado desde a nascença para ter um ódio de estimação ridículo e sem fundamento.

Ao fim ao cabo, como pode um único concelho “lutar” contra dez? Se um presidente de câmara e deputado eleito pelo Porto Santo tomam uma decisão impopular é porque já está feito com eles “do Funchal” e nisto não tem cor partidária que escape à maledicência popular. Temos de deixar de ser tão primários e começar a ver para lá da linha do horizonte.

Sou da opinião de que um membro do governo pertencente a determinada localidade, por razões óbvias, vai fazer o lobby desejado para o desenvolvimento da sua terra e neste aspecto a Madeira tem muito caminho a percorrer em relação à política nacional pelo facto de termos tido anos e anos de “luta contra Lisboa”. Felizmente existe uma geração que vai entrando e entranhando nas trincheiras do panorama político nacional e que dá para perspectivar alguma notoriedade e importância (nas decisões) que a Região nunca teve.

Não se enganem, a política é feita de relações institucionais, mas as relações pessoais que são construídas num percurso político valem muito mais. Uma porta não abre se em vez de tocarmos a campainha desatarmos murros e pontapés. É sempre bom ter um “dos nossos” lá. A cor que defende já é uma questão da vontade das urnas.

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