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Comunidade internacional preocupada com Venezuela. EUA dizem que oposição venceu eleições

Os Estados Unidos consideraram que, face às “provas esmagadoras”, ser claro que foi Edmundo González Urrutia quem obteve o maior número de votos nas eleições da Venezuela. Maduro diz para EUA “tirarem nariz do país”
2 Agosto 2024, 13h01

A situação na Venezuela continua tensa depois das eleições eleitorais do passado domingo. A comunidade internacional expressa receio com eventual escalar dos protestos. Por outro lado, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, considerou que existem “evidências contundentes” de que a oposição venezuelana venceu as eleições. Em resposta, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse para os Estados Unidos “tirarem o nariz” do país.

O governante norte-americano considerou que, face às “provas esmagadoras”, é claro para os Estados Unidos que foi Edmundo González Urrutia quem obteve o maior número de votos nas eleições da Venezuela.

Face às declarações de Blinken, o Presidente da Venezuela disse aos Estados Unidos para “tirarem o nariz” do país, concentrando-se no seu próprio territórios e eleições que se avizinham.

“Os Estados Unidos deviam tirar o nariz da Venezuela porque é o povo soberano que governa na Venezuela, que põe, que escolhe, que diz, que decide”, afirmou Nicolás Maduro, em declarações transmitidas pelo canal estatal de televisão VTV.

Países como a China, Irão e Rússia já reconheceram os resultados eleitorais da Venezuela. Por outro lado, a União Europeia e o Brasil, México e Colômbia já apelaram no sentido de que sejam fornecidos mais detalhes relativamente à votação que ocorreu nas eleições venezuelanas.

No passado domingo, o Conselho Eleitoral da Venezuela, que é controlado pelo executivo, declarou vitória de Maduro.

Supremo Tribunal da Venezuela aceita pedido de Maduro

O Supremo Tribunal da Venezuela aceitou um pedido interposto pelo presidente Nicolás Maduro para certificar os resultados das presidenciais de domingo, nas quais foi reeleito para um novo mandato, mas que a oposição contesta.

O tribunal vai iniciar “o processo de investigação e verificação para certificar de forma irrestrita os resultados” eleitorais de domingo, a pedido do Presidente venezuelano, anunciou, na quinta-feira, a presidente da Sala Eleitoral, uma das seis salas que compõem o Supremo Tribunal (STJ), numa comunicação ao país, transmitido pela televisão estatal.

A responsável indicou que os dez candidatos eleitorais, Nicolás Maduro, Luis Martínez, Edmundo González, Daniel Ceballos, Antonio Ecarry, Benjamín Raússeo, Enrique Marques, José Brito, Javier Bertucci e Claudio Fermín, devem comparecer perante o STJ durante a tarde (hora local).

Na quarta-feira, Maduro pediu ao STJ para certificar os resultados das eleições de domingo, contestados pela oposição e não reconhecidos por parte da comunidade internacional.

ONU mostra preocupação com situação na Venezuela

A Missão internacional independente da ONU para a Venezuela está “extremamente preocupada” com a nova onda de repressão de manifestações populares a contestar os resultados das eleições presidenciais de domingo, assumiu a presidente do organismo em entrevista à Lusa.

“Como missão de investigação das Nações Unidas, nós estamos extremamente preocupados com a situação atual na Venezuela”, ainda que aquilo a que se assiste hoje “em termos de manifestações populares espontâneas e nível da repressão por parte das forças públicas do Estado” seja algo que “infelizmente não é novo”, diz Marta Valiñas, que preside à comissão tripartida criada em 2019 para investigar as violações dos direitos humanos cometidas desde 2014 no país.

“O que vemos são níveis de repressão que incluem não só as mortes que já foram registadas, mas também um elevadíssimo número de detenções de manifestantes e várias pessoas feridas. E é isto que nos preocupa: preocupa-nos ver mais uma vez este mesmo modo de atuação”, lamenta a jurista especializada em direitos humanos, particularmente preocupada por a repressão sistemática, incluindo a detenção de ativistas de direitos humanos, acabar por ser “uma estratégia muito eficaz por parte das autoridades para silenciar aqueles que se atrevem a denunciar ou relatar o que lhes aconteceu”.

“Nas nossas investigações, algo que temos notado é que, nos últimos meses, diria mesmo no último ano do nosso trabalho, há uma maior relutância, maior medo por parte das pessoas que sofreram vários tipos de violações aos seus direitos humanos, de falar connosco sobre estes temas. Elas próprias dizem que tal se deve à situação atual e ao facto de se sentirem cada vez mais vigiadas e perseguidas”, aponta, lamentando que tal dificulte o trabalho de organismos que pretendem documentar as violações de direitos humanos, como a missão da ONU à qual preside.

Sublinhando que as “investigações detalhadas” já levadas a cabo no passado pela missão permitiram “concluir que o uso de força pelas forças do Estado em contexto de manifestações tinha sido muitas vezes abusivo, incluindo o uso de força letal”, disse Marta Valiñas.

Marta Valiñas diz esperar “profundamente” que “não se chegue ao ponto de uma guerra civil, de mais violência” na Venezuela, mas alerta que “é evidente o desgaste da população e é evidente a revolta”.

“Além do desgaste com a situação que têm vivido nos últimos anos, penso que esta revolta se deve ao facto de terem tentado pela via democrática fazer valer a sua voz e a sua vontade, veem que os obstáculos são imensos, e sentem que realmente as instituições não são confiáveis, não são independentes e, portanto, sentem-se desprotegidos”, afirma.

Na segunda-feira, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano proclamou Maduro Presidente eleito do país para o período 2025-2031, com 51,2% (5,15 milhões) dos votos.

O principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, obteve 44,2% (pouco menos de 4,5 milhões de votos), indicou o CNE.

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