Surpreendentemente sereno – como que quisesse passar a mensagem de que o caminho até à Casa Branca já não tem de ser desbravado pela força dos arietes – Donald Trump aceitou a nomeação para ser candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, concentrando-se na ideia de que vai ser “o presidente de todos os americanos e não apenas de metade”.
Tendo por trás de si painéis imensos que iam passando as imagens da sua ‘via sacra’ – o atentado de há uma semana – Trump desviou-se dos discursos combativos que se tornaram uma imagem de marca e optou por um tom quase conciliador para prometer mais quatro anos de “uma América grande” e ao leme dos destinos globais – de onde foi retirada, disse, pela falta de eficácia da administração democrata. Não se esqueceu de referir aquilo que é impossível de comprovar – “comigo, a guerra na Ucrânia nunca teria existido” – e voltou a prometer brevidade na resolução desse conflito, do conflito na Palestina ou qualquer outro, dado que Trump vai assumir, disse, o controlo desse leme.
Explorou, mas não até à exaustão, o atentado: “não devia estar aqui esta noite”, disse à multidão a seus pés prostrada no Fiserv Forum, mas sempre num tom moderado, quase de sussurro cúmplice. Ensaiou assim, pareceu, uma postura de estadista que não costuma ser a sua caraterística mais evidente e que misturou com a sorte dos ungidos: “estou diante de vocês nesta arena apenas pela graça de Deus todo-poderoso”.
Numa intervenção que durou cerca de 90 minutos – constantemente interrompida pelo grito “fight, fight, fight” – que entrou no léxico político norte-americano cinco segundos depois de ter escapado ao atentado – Donald Trump ainda tratou de encenar uma espécie de homenagem ao uniforme de Corey Comperatore, o bombeiro que foi morto enquanto protegia a sua família durante o tiroteio.
De regresso ao real, Trump atacou os democratas pelos inúmeros casos criminais que enfrenta: “o Partido Democrata deveria parar imediatamente de armar o sistema de justiça e rotular os seus adversários políticos como inimigos da democracia, especialmente porque isso não é verdade”, disse. “Se os democratas querem unificar o nosso país, devem abandonar essa caça às bruxas partidária.” Até porque, não se esqueceu de dizer, se há na federação alguém que possa assumir a garantia da perpetuação da democracia, é ele. Ele que sabe que os resultados das eleições de 2020 foram uma falácia: “nunca mais vamos deixar isso acontecer. Usaram a Covid para enganar.”
Em termos concretos, Trump prometeu reduzir a inflação, “acabar com todas as crises internacionais”, devolver os postos de trabalho norte-americanos aos norte-americanos – retirando-os das mãos de uma imigração (uma falsidade estatística) que, disse, é um dos maiores males do país – e lançar a América num caminho de prosperidade económica nunca antes vista sob o controlo dos democratas.
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