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Cotação do petróleo abaixo dos 28 dólares por barril, caminha para valores de um dígito

Os operadores do mercado petrolífero não têm expectativas de subida dos preços no segundo trimestre de 2020, admitindo quedas de consumo entre oito e 10 milhões de barris de petróleo por dia. Os consultores especializados neste mercado, como a Rystad Energy, já trabalham com cenários do preço do petróleo a um dígito para junho.
18 Março 2020, 13h45

Com as duas principais referências de mercado para o petróleo negociado na Europa e nos EUA francamente abaixo dos 30 dólares por barril – antes do meio dia de Lisboa, a 18 de março, os futuros do Brent do Norte da Europa cotavam-se a 27,75 dólares por barril, refletindo uma queda de 1%, enquanto o West Texas Intermediate (WTI) caía para os 25,34 dólares, ou seja, menos 1,49% que no anterior fecho de mercado – a evolução do mercado petrolífero contraria quaisquer expectativas de subida das cotações.

O Jornal Económico (JE) confirmou que há consultores especializados que já trabalham com cenários de cotações a um dígito.

Assim, os operadores de petróleo que negoceiam no New York Mercantile Exchange e no ICE Futures Europe em Londres não têm indicações de mercado que sustentem expectativas de subidas de cotações no segundo trimestre de 2020.

A agência Bloombeg também refere que há traders que admitem que o preço do barril de petróleo vai descer até um dígito. O JE sabe que um dos cenários admitidos pelo consultor independente Rystad Energy – especialista em database para a actividade de exploração e produção petrolífera – prevê valores de negociação do petróleo a 9 dólares por barril, em junho.

Atualmente, os preços do petróleo nos mercados internacionais atingiram o nível mais baixo em cerca de 17 anos, com a procura a ser travada pela crise global do Covid-19. A cotação do WTI é a mais baixa desde maio de 2003, na altura sob os efeitos negativos da crise da síndrome respiratória aguda grave SARS.

Os maiores operadores do sector já estão a ajustar as previsões dos valores até onde poderão cair as cotações a curto prazo, sendo credível o patamar entre 18 e 20 dólares por barril de petróleo a curto prazo.

No entanto, esta perspetiva é encarada com indiferença pelos produtores sauditas, que não se preocupam com a gradual queda das cotações, apostando, em abril, na capacidade de carregarem os petroleiros com uma produção de 10 milhões de barris de petróleo diários.

Há poucos dias – a 9 de março –, a cotação do Brent “mergulhou” mais de 20%, o que corresponde à maior queda registada no sector desde a guerra do Golfo, em 1991.

Há vários traders de grandes empresas que admitem que as cotações do petróleo podem recuar a um dígito, como aconteceu em 1997 quando os produtores sauditas e os venezuelanos fizeram um braço-de-ferro nos mercados internacionais pela liderança da produção.

O banco de investimento Mizuho Securities faz uma leitura do mercado petrolífero muito guiada pela intenção dos produtores sauditas quererem continuar a “inundar” os mercados com grandes quantidades de petróleo de alta qualidade a preços muito baixos.

A Standard Chartered Plc avança com previsões para as cotações do petróleo abaixo dos 20 dólares por barril no próximo trimestre. E a Goldman Sachs admite que o consumo de petróleo caiu cerca de oito milhões de barris por dia, o que já levou este banco de investimento norte-americano a descer a previsão para as cotações do Brent no segundo trimestre de 2020 para cerca de 20 dólares por barril.

A Trafigura – um dos três maiores traders mundiais independentes – vai mais longe e admite que a procura será contraída, pelo menos, em cerca de 10 milhões de barris de petróleo diários, antecipando uma queda ainda maior das cotações.

Neste enquadramento de grande travagem no consumo mundial de petróleo, os maiores projetos de investimento do sector podem ser adiados ou reavaliados.

Um dos maiores projetos em análise (ainda não avançou no terreno) é os dos russos no Ártico, que agora – segundo admitem ao JE especialistas do sector – parece condenado ao adiamento, porque os respetivos investimentos serão ruinosos face às atuais cotações internacionais do petróleo.

Mas esta expectativa dos especialistas contrasta totalmente com as declarações feitas em fevereiro pelo presidente da Rosneft PJSC, Igor Sechin, quando anunciou ao presidente russo, Vladimir Putin, que a Rosneft tencionava investir mais de 134 mil milhões de dólares (cerca de 121,06 mil milhões de euros) no projeto Vostok Oil.

Localizado na península de Taymyr, na região de Krasnoyarsk, o projeto Vostok tenciona explorar reservas de 37 mil milhões de barris de petróleo, segundo estimativas dos especialistas.

Este investimento da Rosneft seria feito tendo como contrapartida a redução dos impostos cobrados à produção do seu campo de Vankor, no Leste da Sibéria, num cenário fiscal em que a cotação do petróleo estivesse acima dos 42,45 dólares por barril em 2020, o que é cada vez menos provável que possa acontecer.

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