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Crise hídrica em Portugal já é um cenário real

O World Resources Institute estima que, em 2040, Portugal ocupe a 44º posição na lista de países que enfrentará níveis elevados de ‘stress hídrico’
13 Julho 2019, 10h13

Um verão com precipitação muito escassa poderá conduzir facilmente Portugal, de uma situação confortável, para situações de escassez de água “alguma severidade”, alertam os especialistas consultados pelo Jornal Económico.

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no final de maio, 98 % do território estavam situação de seca meteorológica, sendo que cerca de 37,5 % estava nas classes de seca severa e extrema. Em fevereiro, os números eram apenas de 4,8%.

Em maio deste ano, a Associação Natureza de Portugal, representante do Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF), alertou que Portugal “está a viver além da água que tem”. De acordo com o World Resources Institute, em 2040, estim-se que 161 países entrem num estado de stress hídrico.

A Cidade do Cabo, foi a primeira metrópole mundial em risco de ficar sem água. No dia 19 de março, 2018, os habitantes da capital sul-africana viram as torneiras secas. Nesse dia, o nível das seis principais barragens da região fixava-se em 22,7%. Se chegar aos 13,5%, é o chamado Dia Zero, já que aos 10% torna-se impossível tirar águas das barragens. Desde então, os habitantes da Cidade do Cabo só podem gastar por dia 50 litros de água. Em Portugal, o consumo médio diário doméstico ronda os 200 litros por pessoa.

Sobre se este cenário algum dia pode ser vivido em Portugal, o climatologista e investigador da UTAD, João Santos não nega e vinca que “é muito provável”, relembrando as dificuldades sentidas no ano passado no abastecimento de àgua em Viseu. “O défice híbrido vai-se manter. Não estamos livres de situações como essas”, alerta.

“Analisando a situação que estamos a presenciar, podemos dizer que a escassez de água em Portugal é relativa,” afirmam os professores departamento de Geociências da Universidade do Porto (UP), António Guerner Dias e Joaquim Esteves da Silva, “uma vez que as reservas de água até agora acumulada poderão suprir cerca de 80% das nossas necessidades em água durante o verão”.

No entanto, as alterações climáticas (AC) continuam a ser o principal vilão da história.Tanto a poluição nos oceanos como a emissão crescente dos gases efeitos estufa, resultam num aumento da temperatura do globo que por sua vez conduzem a uma escassez de água, causada também pela falta de percipitação durante longos períodos de tempo. Este ano, o período da chuva durante a primavera ficou muito abaixo da média, o que prolongará o período de seca durante o verão. Mas as AC não são o único fator.

Entre os especialistas ouvidos pelo JE, verificou-se um consenso sobre o agravamento desta problemática em Portugal através da agricultura.

“Tanto a produção agrícola como o consumo doméstico vão agravar a situação de seca em Portugal”, esclarece o docente da UTAD. “Vamos ter menos precipitação e mais evapotranspiração, nas plantas e nos solos. Vamos ter uma maior necessidade de rega, o que pode levar a uma prática pouco sustentável”, conclui João Santos.

De acordo com os professores da UP, as necessidades de água ocorridas na agricultura, podem ser superiores a 60% do total necessário, enquanto as necessidades de água para consumo humano poderão não chegar aos 10% do total.

Desta forma, o especialista de Trás-os-Montes defende ser necessário tomar medidas urgentes no caso da viticultura e na produção de arroz e milho, que não são feitas em ambientes naturais. “Estas práticas devem ser repensadas”, realça.

Já a profesora Maria do Rosário Carvalho da Universidade de Lisboa, argumenta que também a população deve ser sensibilizada.

A falta de água conduzirá a uma maior competição nos setor de abastecimento público e consumo doméstico. A docente do departamento de Geologia, refere que o agravamento populacional e o o crescimento de centros urbanos vai tornar a àgua mais cara e transformar o ecossistema aquático e a quantidade de àgua disponível.

“ O grande desafio está em compatibilizar as necessidades de água com as disponibilidades hídricas existentes”, vinca.

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