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Custos da crise devem ser “absorvidos ao longo de duas ou três gerações”, defende governador do BdP

Governador do Banco de Portugal sustenta que o Orçamento do Estado para 2021 não pode “ter como ponto de partida o défice de 2020”, devendo em vez disso ter uma componente recorrente e uma componente extraordinária que tenha como ponto de partido o Orçamento retificativo que seja aprovado, de forma a estabelecer duas áreas repartidas “que não se contagiem”.
  • Cristina Bernardo
18 Maio 2020, 13h42

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defendeu que os custos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus deverão ser absorvidos num período de tempo extenso, salientando ainda que a receita e despesa do impacto do atual contexto devem ser segregados.

“Há um incremento do défice que é extraordinário, temporário e deve ficar circunscrito ao tempo e impacto da crise. É fundamental segregar a receita e despesa do que é impacto da crise”, disse esta segunda-feira no Webinar “Economia Portugal: que políticas e medidas para a recuperação da economia?”, organizado pela Abreu Advogados, justificando que será uma forma de mostrar ao mercado que temos plano a médio prazo de absorção do custo.

Carlos Costa considerou que é “importante assegurar que os custos sejam absorvidos ao longo de duas ou três gerações, sob pena de estarmos a fazer com que a geração que sofreu o impacto da crise também tenha que abosorver o impacto do seu reembolso”.

O governador disse ainda que o Orçamento do Estado para 2021 não pode “ter como ponto de partida o défice de 2020”, devendo em vez disso ter uma componente recorrente e uma componente extraordinária que tenha como ponto de partido o Orçamento retificativo que seja aprovado, de forma a estabelecer duas áreas repartidas “que não se contagiem”.

Depois de ter frisado que o atual choque “é uma espécie de meteorito que atingiu o planeta”, pelo que “todos sofrem as consequências e todos estão dependentes de todos”, realçou que a recuperação irá depender da evolução da crise pandémica, das decisões tomadas de confinamento e desconfinamento, da política económica e das características económicas de cada um dos países e da margem da absorção de perdas do tecido produtivo.

“Esta crise não tem nada a ver com as crises que nós conhecemos”, disse, frisando que não resulta de políticas económicas, de “excessiva exuberância de um dado mercado” ou de qualquer conflito armado. “Tem uma natureza completamente diferente”, acrescentou.

Realçou que a política economia tem que se orientar segundo os eixos sanitário, sócio-económico e humanitário, defendendo que “o eixo orçamental é o reflexo do que for necessário para os outros três eixos”. Neste sentido, “não é uma restrição, é uma resultante”, disse.

Para Carlos Costa neste contexto a orientação da política económica irá conduzir a liquidez dos agentes económicos, os problemas de solvência e a repercussão da crise sobre o sistema bancário através do incumprimento e a forma como encara a recapitalização exterior do tecido produtivo.

“É muito importante usar o instrumento do lay-off de forma a preservar o vínculo contratual e salvaguardar o capital intangível associado à unidade produtiva”, disse. “O que vai condicionar o sucesso do programa de recuperação vai ser a qualidade e natureza do quadro institucional disponível”, vincou.

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