Tudo começou a ser congeminado há mais de um mês, à porta fechada, numa reunião do conselho nacional da CGTP. Estava-se a poucos dias das celebrações do 1º de Maio quando os 28 membros da comissão executiva da intersindical decidiram que Arménio Carlos anunciaria, no Dia do Trabalhador, uma manifestação nacional para 3 de junho, amanhã.
A partir daí, começou a delinear-se todo o plano de trabalho, feito ao pormenor. Na capital, o centro de comando de operações da manifestação é na União de Sindicatos de Lisboa, nas Olaias, onde os responsáveis pela organização do protesto falaram com o Jornal Económico.
Libério Domingues conta que, depois da data marcada, a primeira coisa a fazer é decidir o local da manifestação que, neste caso, será realizada em dois pontos do país: Lisboa e Porto. A dimensão do protesto exige uma organização minuciosa da ordem de entrada dos sindicatos no desfile, para que não haja atropelos no dia D. Na capital, a manifestação arranca às 15 horas do Marquês de Pombal rumo aos Restauradores. À mesma hora, no Porto, o desfile é do Campo 24 de Agosto à estação de São Bento.
Munido de um croqui, Libério Domingues, que organiza os protestos de rua da intersindical há mais de uma década, explica a ordem: os sindicatos de Setúbal vão à frente e os de Lisboa no fim; a juventude, concentrada na placa central do Marquês, segue logo atrás da cabeça da manifestação e, pelo meio, vão mais dez distritos, tudo ordenado. Dentro de cada distrito também está definido se são os metalúrgicos, os enfermeiros ou outros setores que vão à frente. No topo, a segurar o pano de 10 metros com o lema “Unidos para valorizar o trabalho e os trabalhadores”, estará Arménio Carlos e vários membros da comissão executiva da intersindical.
A logística não é fácil, sobretudo a que está relacionada com o transporte de quem vai participar na manifestação. É que, para Lisboa, deslocam-se todos as estruturas dos distritos a sul do Douro.
Há pelo menos 100 autocarros a postos para arrancar amanhã rumo à capital, com lugar para 5 mil pessoas. Para que não haja percalços, houve uma reunião prévia entre a CGTP e as forças de segurança. Os autocarros vão ficar estacionados no cimo do Parque Eduardo VII, onde decorre também a Feira do Livro. “Tudo tem de estar muito bem coordenado porque tentamos criar o mínimo de dificuldades à população. Só queremos incomodar o Governo”, diz Nuno Almeida, que também faz parte da organização da manifestação.
Contribuições voluntárias
Os autocarros são uma despesa pesada mas, durante a viagem, é feita uma recolha de fundos pelos ocupantes que, em muitos casos, chega para cobrir os custos de transporte. “É uma contribuição voluntária”, clarifica Libério Domingues. Assim, o que acaba por ficar mais caro é o palco e o som para os discursos finais, que ficam à volta dos 2.500 euros.
Se não fosse a atividade militante, seria difícil suportar os custos. Libério Domingues considera que “nos tempos do Governo anterior, em que se faziam manifestações todos os meses, seria impossível aguentar o ritmo”. Também os quatro carros de som que andam desde segunda-feira a passar mensagem e a apelar à mobilização em Lisboa é feito com o apoio dos dirigentes sindicais, que disponibilizam as viaturas e a equipa para circular e passar a mensagem.
A dedicação à causa também gera poupanças com a distribuição da propaganda, cuja produção não vai muito além dos 500 euros. A manifestação de Lisboa envolve 20 mil manifestos, cinco mil cartazes e 300 cartazetes distribuídos nos locais de trabalho, mais 105 panos de rua. Cada estrutura sabe quem coloca e onde – está tudo no plano de trabalho.
A propaganda central é da responsabilidade da CGTP, que estabelece o conteúdo, o lema e o grafismo. Depois, cada sindicato faz a sua própria comunicação. Por exemplo, a juventude irá sublinhar mais a questão da precariedade, referem os responsáveis.
A “decoração” da manifestação e a animação também não são descuradas no protesto. Além dos cartazes que passam a mensagem com as reivindicações do momento, as bandeiras que representam cada um dos sindicatos da CGTP saem dos armários neste dia para serem acenadas. E “Os Vampiros”, de Zeca Afonso, é canção obrigatória.
Já faz ano e meio que a CGTP não organiza uma manifestação com a envergadura da que vai ter lugar amanhã em Lisboa e no Porto, onde esperam milhares de pessoas de todos os pontos do país. Mas Libério Domingues garante que a máquina está oleada e pronta a funcionar. “Não é que estejamos destreinados quanto à organização da manifestação, mas há um ano e meio que não se realizam grandes ações como esta”, conta.
A última foi a 10 de novembro de 2015, frente à Assembleia da República, no dia em que se votaram as moções de rejeição à constituição de um novo Governo PSD/CDS, no rescaldo das eleições legislativas de outubro. O protesto de amanhã na rua é o primeiro que o atual Executivo de António Costa enfrenta, excluindo a do 1º de Maio, que acontece todos os anos, independentemente da conjuntura política.
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