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David Byrne: “Diário da Bicicleta”

Desde o princípio dos anos 1980 que David Byrne usa a bicicleta como principal meio de transporte em Nova Iorque. Há 20 anos, descobriu as bicicletas desdobráveis e começou a levá-las para as tournées e outras viagens de recreio.
22 Dezembro 2017, 11h40

“We know where we’re going
But we don’t know where we’ve been
And we know what we’re knowing
But we can’t say what we’ve seen
And we’re not little children
And we know what we want
And the future is certain
Give us time to work it out.”
in “Road to Nowhere” (1985)

A escolha de Byrne deveu-se mais à conveniência do que a qualquer motivação política. E à medida que via mais cidades a partir da sua bicicleta, foi ficando ‘apanhado’ por este meio de transporte e pela sensação de liberdade que o mesmo proporciona. Convencido de que o ciclismo urbano favorece um conhecimento mais profundo da pulsação e do ritmo das populações e topografias, Byrne começou a escrever um diário com as suas observações em cidades como Londres, Berlim, Buenos Aires, Istambul, Manila, Nova Iorque, Detroit e São Francisco.

Contudo, David Byrne não está particularmente interessado em descrever as cidades por onde se desloca, mas sim as pessoas e os lugares que cruza e, como consequência, os pensamentos que lhe ocorrem, sejam relacionados com arquitetura ou comida. Vai aqui uma piscadela de olho aos fãs da mítica banda fundada por Byrne, Talking Heads, cujo segundo álbum – que permitiu o reconhecimento e aclamação tanto da crítica como do público e que foi produzido por Brian Eno – se intitulava “More Songs About Buildings and Food”; e nunca é demais recordar que o reconhecimento se deveu sobretudo ao uso inovador da secção rítmica e à influência da música africana e de outras partes do mundo, muito antes de Paul Simon e de outras estrelas da música pop o terem feito.

Há que admitir que o título do livro pode ser algo enganador, pois, apesar de haver alguma reflexão sobre as bicicletas – capacetes, segurança ou mesmo o lamentável desrespeito dos ciclistas pelas regras de trânsito e pelos peões –, o autor não perde muito tempo com o tema. Da música e das artes visuais à globalização, passando pela política, a natureza do trabalho criativo, a moda e a arte, o livro deste escocês nascido em 1953, é uma curiosa mistura de memória íntima, caderno de reflexões e literatura de viagem. A edição portuguesa é da Quetzal.

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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