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De Jagger a da Vinci. Cartas à mão de personalidades transformam-se em livro

Já quase não se escrevem cartas à mão, e as poucas que ainda recebemos no correio são para pagar as contas. Shaun Usher tornou conhecida a banal missiva que a rainha Elizabeth II escreveu a Dwight D. Eisenhower, presidente dos Estados em 1960. A mais surpreendente que lhe chegou às mãos foi a do cantor Iggy Pop.
21 Abril 2019, 09h00

As cartas escritas à mão já não chegam às caixas de correio com a mesma frequência. A prática caiu em desuso e, atualmente, são (quase) todas feitas a computador, e as que recebemos no correio não são as mais esperadas.

O escritor Shaun Usher decidiu colecionar cartas escritas por personalidades conhecidas ou mentes brilhantes. O conceito remonta a 2009, quando o artista achou que “a correspondência merecia uma maior audiência”, o que se tornou o subtítulo do primeiro livro, revelou ao jornal “The Guardian”.

No entanto, como Shaun Usher continua a receber cartas, continua a partilhá-las com os seus leitores no seu websiteEste recebe cerca de 1,5 milhões de visitas semanais e tem mais de 616 mil seguidores na rede social Twitter, dos quais fazem parte Stephen Fry, Caitlin Moran e Nick Hornby. O primeiro livro foi lançado através da ‘Unbound’, que recebe crowdfunding, e tornou-se alvo de 255% das doações.

A opção de pegar nas missivas escritas à mão como ponto de foco explica-se pelo facto de o escritor quando lê um email, a sua atenção nunca ser fixa. “Mas se uma carta chega, fico sempre espantado que alguém tenha gasto tempo e tenha feito um esforço”, garante. “Há qualquer coisa de belo em olhar para um papel que alguém escolher e olhar para a letra. Há tanto para apreciar”, sublinha Shaun Usher.

Letters of Note” contém 125 exemplos que vão desde o século XIV antes de Cristo, com uma pedra de barro, ao presente. A atração ao livro prende-se pela “forma legitima de coscuvilhar”, explica o escritor, onde afirma que os autores precisam de pouca apresentação, uma vez que são nomes bastante conhecidos. Mick Jagger, Dorothy Parker, Ernest Hemingway, Katharine Hepburn e Leonardo da Vinci são alguns dos contemplados, no entanto, Usher assume que a maneira como estes escrevem pode levar o leitor a olhar para estas personalidades de forma diferente.

A surpresa começa logo na primeira carta. Escrita à mão e remetida ao presidente dos Estados Unidos Dwight D. Eisenhower, em 1960, pela rainha de Inglaterra. “Ao ver uma fotografia sua no jornal de hoje em frente a um grelhador lembrou-me de que não lhe cheguei a enviar a receita de panquecas escocesas que lhe prometi em Balmoral”, escreveu a rainha Elizabeth II, mencionando uma visita oficial que aconteceu em 1959.

A carta mais surpreendente que já lhe chegou às mãos foi a do cantor Iggy Pop. Em resposta a uma fã, em 1995, o músico revelou o seu lado mais carinhoso. “Não acredito que ele deu a morada, em primeiro lugar”, disse Usher ao diário britânico. O músico escreveu a sua morada num dos seus álbuns e a correspondência trocada entre os fãs veio garantir que Iggy tem um lado mais carinhoso.

Apesar de gostar destes objetos, Shaun Usher diz que “não se pode lutar contra o avanço da tecnologia” e avança com o seu próprio exemplo. “Vou ensinar os meus filhos a escrever cartas mas o meu filho já é viciado no iPad e só tem três anos e não sabe escrever”.

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